Ao contrário de muitos craques do basquete, Alessandra Santos de Oliveira não começou a jogar porque gostava. Mas sim porque foi “jogada” na quadra por conta da sua altura. Quando ela era criança, por volta de 1980 não se falava muito em esportes como o basquete nas escolas públicas. Quiçá existiam casas de apostas falando sobre estas modalidades.
E foi graças a esse empurrãozinho, meio à contragosto, que fez a jogadora se apaixonar por exercícios físicos. A partir daí, ela começou a jogar vôlei, handebol, basquete e atletismo.
Mas o tempo foi passando e o número de esportes foi diminuindo. Começando pelo atletismo, pois ela admite que não gostava de correr. Após dois anos jogando vôlei como federada, ela também acabou desistindo.
Por que Alessandra Santos de Oliveira continuou no basquete?
A atleta foi uma daquelas pessoas que perderam os pais bem cedo. O pai foi o segundo a falecer, quando ela tinha apenas 14 anos e irmãos para sustentar. E como naquela época o basquete era o esporte que dava mais dinheiro, ela decidiu largar tudo e abraçar uma oportunidade de se mudar para Piracicaba.
Foi lá que Alessandra realmente começou a se dedicar ao esporte. Ela morava em uma república com mais 15 meninas que ficava perto de um ginásio. Durante as manhãs ela ia até o local e treinava das 8h às 11h.
Após o almoço, ela praticava com as turmas de infanto juvenil, para pegar habilidades que ela não tinha aprendido ainda. Quando a noite chegava, a jogadora ainda tinha curso de pedagogia para fazer. O cansaço era tanto que ela admite que quase dormia na primeira aula.
O maior desafio de sua carreira
Entre 1996 e 1997, quando Alessandra conquistou a medalha olímpica de prata, ela ficou sem time e patrocínio. Ainda assim, precisava continuar sustentando seus irmãos e foi aí que surgiu um convite para ir jogar na Europa.
Então ela percebeu que o mais rentável seria se mudar para lá e deixar o irmão sob os cuidados de uma amiga em Santa Bárbara do Oeste. Já sua irmã estava morando em uma República em Jundiaí, treinando basquete também.
Mesmo com toda a atenção e sustento que Alessandra proporcionou a sua família, a Diretora da escola de seu irmão ameaçou denunciá-la para o conselho tutelar com a justificativa de que ela tinha abandonado ele. Dureza, né?
Itália, França, Espanha, Espanha, Hungria, Eslováquia, Romênia, Turquia, Rússia, Coreia do Sul, Estados Unidos (WNBA) foram os países que ela jogou durante 15 anos de sua carreira. E mesmo viajando mundo afora, Alessandra confessa que o maior preconceito que ela sofreu foi aqui, no Brasil.
A que mais levou não, mas também a que persistiu e lutou
A Alessandra Santos de Oliveira de 10 anos nunca tinha imaginado que um dia faria parte da seleção brasileira. Esse sonho foi construído aos poucos, dia após dia. Degrau por degrau. E não foi fácil. Teve muita superação, foco e treinamento.
Não só nas quadras, mas também na escola. Tanto que ela só foi morar fora do país quando terminou o ensino médio. E mesmo na Europa, disputando com as melhores jogadoras do mundo, ela continuava praticando 8 horas por dia.
Alessandra Santos pela WNBA (Foto: Reprodução/Youtube)
Sua geração foi a de maior destaque da história do basquete brasileiro
Com toda a humildade do mundo, Alessandra acredita que haviam jogadoras até melhores que ela que não faziam parte da seleção. Mas, para ela, o mais importante naquele grupo não era somente talento. Era a união e a luta pelos mesmos objetivos, que superavam qualquer orgulho ou vaidade.
E mesmo aposentada desde 2013, esses valores correm em suas veias até hoje no momento em que ela ensina crianças a terem a mesma perseverança, dedicação e respeito que cultivou durante toda sua vida e seus quase 20 anos de carreira.
“O esporte transformou minha vida. Me fez uma boa cidadã, me proporcionou financeiramente cuidar dos meus irmãos. Fez que eu conhecesse vários países através do basquete, jogando pela seleção. Levando a bandeira do brasil E me fez me formar na faculdade, porque fui bolsista na Unisantana, depois fiz pós no Comitê Olímpico e mestrado na São Judas” – Alessandra Santos de Oliveira.