Sendo um marco para a história do futebol internacional, a condenação por insultos racistas dos três torcedores do time espanhol, Valencia, contra o jogador brasileiro atuante no Real Madrid, Vinicius Júnior, mostra amplamente a força da luta antirracista e como, apesar de muito apoio do público, o processo para a mudança ainda pode ser lento.
O vencimento de uma batalha e as garras para a guerra
Na última segunda-feira (10), o resultado do processo contra os torcedores espanhóis do Valência foi declarado após quase um ano do crime cometido. No Campeonato Espanhol do ano passado, o atacante do Real Madrid, Vinicius Júnior, sofreu crimes de ódio e discriminação no jogo contra o Valência, uma derrota de 1 a 0.
O time onde o atacante atua, o Real Madrid, popularmente chamado de “Real”, tomou providências significativas ao ver o posicionamento do atacante nas redes sociais e o quanto a opinião pública esteve ao seu lado explicitando o absurdo da situação e salientando o descaso do próprio time. A denúncia à Procuradora Geral da Espanha ocorreu e quase um ano depois os resultados na busca por justiça vieram a público.
Os três torcedores do time rival do Real Madrid na derrota do Campeonato Espanhol foram condenados pela Justiça da Espanha, marcando um ápice importante na luta antirracista e consagrando um marco socialmente importante na história não só do futebol como do esporte internacional. Os três condenados receberam uma sentença de oito meses de prisão e banimento dos estádios por dois anos, porém, apesar da determinação, eles não irão para a prisão. De acordo com o Código Penal Espanhol, a legislação permite que penas inferiores a dois anos sejam suspensas em casos de crime não violentos, caso o juiz ou tribunal acredite que o réu não voltará a infringir a lei. O motivo legislativo é somado ao fato dos condenadores serem réus primários.
Um acordo foi feito entre o Ministério Público da Espanha, a La Liga, a Federação Espanhola de Futebol e os advogados de Vinicius Júnior, para que os três torcedores tivessem a pena de oito meses de prisão suspensa, porém, de forma condicional. A decisão pode ser revisitada caso um dos três cometa qualquer tipo de crime até 2027.
“Eu sou algoz de racistas”
O atacante do Real Madrid e número 20 na Seleção Brasileira não foi a primeira pessoa a sofrer racismo no cenário futebolístico, entretanto, a garra do atacante durante todos esses anos de história, especialmente no meio, o fizeram se tornar uma referência na luta contra qualquer tipo de discriminação racial. O constante posicionamento nas redes sociais foram um de seus principais companheiros nessa luta e trilha para que as situações fossem corretamente julgadas.
“Muitos pediram para que eu ignorasse, outros tantos disseram que minha luta era em vão e que eu deveria apenas ‘jogar futebol’. Mas, como sempre disse, não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas. Essa primeira condenação penal da história da Espanha não é por mim. É por todos os pretos. Que os outros racistas tenham medo, vergonha e se escondam nas sombras. Caso contrário, estarei aqui para cobrar. Obrigado a La Liga e ao Real Madrid por ajudarem nessa condenação histórica. Vem mais por aí.“, declarou Vini Jr em suas redes sociais após sentença ser divulgada.
Várias denúncias foram feitas à La Liga nos últimos anos e não apenas sobre o atacante número 7 do Real Madrid como também de vários outros atletas. Contudo, por diferentes motivações desconhecidas, todas elas foram arquivadas, fazendo assim situações serem silenciadas e ainda acontecidas sem qualquer tipo de punição ou julgamento. Só após os representantes da Liga denunciarem tais situações ao Ministério Público Espanhol que o eixo foi modificado.