Em 2023, houve um aumento significativo no número de concessões para refugiados concedidas no Brasil. Porém, uma parcela considerável desses estrangeiros não tem vontade de permanecer no país. Os imigrantes indianos, por exemplo, têm utilizado o Brasil como ponto de partida para uma perigosa travessia até Estados Unidos, passando por nove países diferentes. Este roteiro é orquestrado por venezuelanos e abrange várias etapas clandestinas.
São Paulo como ponto de partida
Tudo começa em Guarulhos, no Aeroporto Internacional de São Paulo, onde estrangeiros desembarcam em voos vindos da Europa em busca de asilo. Em junho, cerca de 400 pessoas – predominantemente indianos – encontraram-se acampando nas instalações do aeroporto devido a complicações relacionadas com o sistema de cadastro de refugiados. Após a solicitação de refúgio, os imigrantes podem obter documentos brasileiros como o CPF (Cadastro de Pessoa Física) e concede acesso a serviços públicos. No entanto, um número considerável acaba tendo estadia de curta duração no país.
Após a liberação, os imigrantes ficam hospedados em um hotel no centro de São Paulo por cerca de uma semana. De lá, vão até a rodoviária e embarcam em ônibus para Campo Grande (MS) e depois para Corumbá, na fronteira com a Bolívia. Na cidade, motoristas de táxi e aplicativos os levam até a fronteira, onde atravessam ilegalmente para Porto Quijarro.
Depois das liberações, os imigrantes ficam hospedados em um hotel no centro de São Paulo por aproximadamente uma semana. De lá, seguem até a rodoviária e viajam para Campo Grande (MS), e em seguida, para Corumbá, na fronteira com a Bolívia. Na cidade, táxis locais e motoristas de aplicativos facilitam o transporte até a fronteira boliviana, onde atravessam de forma ilegal para Porto Quijarro.
Perigos da rota para os EUA
Após entrar na Bolívia, os imigrantes ainda passam por outros nove países antes de tentar entrar nos Estados Unidos. A travessia entre a América do Sul e a América Central passa pela perigosa Selva de Dárien, entre a Colômbia e o Panamá. Essa região é dominada por grupos criminosos, que extorquem e violentam os migrantes.
Segundo o procurador do Ministério Público Federal, muitos imigrantes são enganados e passam por situações desumanas. “Há muitos relatos de pessoas que são estupradas, violentadas… é um pesadelo”, afirma o procurador.
Fraude e regulamentação de refúgio
A Polícia Federal (PF) alertou o Ministério da Justiça sobre possíveis fraudes em pedidos de refúgio no Brasil. De janeiro a junho de 2023, 8.327 pessoas pediram refúgio no Aeroporto de Guarulhos, mas apenas 117 continuaram o processo no país, o que significa que 99,59% deixaram o Brasil ou estão irregulares. A PF solicita uma regulamentação mais condizente com os verdadeiros propósitos de refúgio, destacando que muitos utilizam o refúgio como subterfúgio para migração irregular.
Selva de Dárien: rota suicida
O Estreito de Dárien, uma selva densa entre a Colômbia e o Panamá, é uma das rotas mais perigosas do mundo. Controlada por organizações criminosas, a passagem exige pagamentos elevados e não garante segurança. Extorsão, rapto e agressões sexuais são comuns. Em 2023, mais de meio milhão de pessoas atravessaram o estreito, enfrentando perigos naturais e violência.
A travessia na selva inclui montanhas íngremes, rios de correnteza forte e trilhas lamacentas. A falta de água potável e a presença de doenças transmitidas por vetores tornam a viagem ainda mais perigosa. Muitos migrantes deixam marcas para identificar corpos ao longo do caminho, na esperança de que possam ser recuperados no futuro.
A busca por segurança e uma vida melhor leva essas pessoas a arriscarem suas vidas em uma rota traiçoeira, movidas pela esperança de alcançar os Estados Unidos.