”Cortisol Face” é a nova trend de emagrecimento facial do TikTok

Vitoria Raminelli Por Vitoria Raminelli
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Foto destaque: Brooke Elle em seu TikTok falando sobre o Cortisol Face (Reprodução/Tiktok/@itsbrookeelle)

Uma nova tendência no TikTok tem conquistado atenção: vídeos que mostram transformações faciais impressionantes. Mulheres exibem rostos mais cheios e arredondados, seguidos de versões mais finas e alongadas, atribuindo a mudança ao controle do hormônio cortisol. Conhecida como “cortisol face”, essa ideia sugere que a redução do estresse resulta em um rosto mais esbelto, criando uma onda de curiosidade e debate nas redes sociais.

A influenciadora Mandana Zarghami tem sido uma voz de destaque nessa nova tendência e vem conquistando o público. Com uma frase impactante, ela inicia seus vídeos: “Você não é feia, você só tem cortisol face”. A partir daí, ela compartilha uma série de práticas que, segundo ela, ajudam a controlar o estresse e, por consequência, a reduzir o inchaço facial causado pelo hormônio cortisol.

No entanto, como acontece com muitas tendências virais, é fundamental manter um senso crítico. Por mais convincente que a narrativa possa parecer, é prudente avaliar com cuidado antes de embarcar em mais uma onda da internet sem questionamentos.


Brooke Ellen compartilha o resultado do “cortisol face” (Foto: reprodução/Instagram/@brookeellen)

A produção do hormônio do estresse

Claudia Chang, endocrinologista em São Paulo, explica a importância do cortisol, um hormônio essencial produzido pelas glândulas suprarrenais e regulado pelo ACTH, que é liberado pela hipófise. Conhecido como o “hormônio do estresse”, o cortisol desempenha um papel fundamental nas respostas do corpo a situações de alta pressão, ativando a clássica reação de “luta ou fuga”.

A especialista ressalta que, embora o cortisol tenha sido estigmatizado como o “hormônio do estresse”, ele é crucial para várias funções vitais do corpo. Além de ajudar a despertar pela manhã, regular o metabolismo e reduzir inflamações, o cortisol também é fundamental para o sistema imunológico.

Chang explica que esse hormônio segue um padrão diário de secreção, com um pico por volta das 8h da manhã e níveis mais baixos à noite, por volta das 23h. Ela observa que é comum medir níveis elevados de cortisol no sangue pela manhã e não é motivo para preocupação.

Os médicos indicam que, apesar de o cortisol ser um hormônio esperado e, em alguns casos, benéfico, sua presença em níveis elevados não causa os efeitos exagerados frequentemente discutidos nas redes sociais. Claudia Marçal, dermatologista, ressalta que mesmo com aumento do cortisol, como observado em exames, isso não altera a forma do rosto.

Claudia Chang explica que o aumento do cortisol devido ao estresse não é comparável ao que ocorre com níveis elevados provocados por tumores, como na Síndrome de Cushing. Essa síndrome pode causar não apenas inchaço facial, mas também ganho de peso abdominal, fraqueza muscular, estrias, hematomas sem trauma, e alterações emocionais como depressão. Além desses sintomas, podem surgir problemas metabólicos, incluindo pressão alta, glicose elevada e colesterol elevado.

A médica destaca que a Síndrome de Cushing também pode ser causada pelo uso prolongado e em altas doses de esteroides ou corticóides, como medicamentos.

Nem tudo é o que parece

De acordo com a dermatologista Mônica Aribi, quem posta fotos de transformação facial nas redes pode estar ignorando fatores que realmente explicam essas mudanças. Ela ressalta que, com o passar dos anos, a redistribuição da gordura no rosto pode levar ao surgimento de bolsas abaixo dos olhos e acúmulo nas bochechas. Além disso, a redução de peso também pode provocar alterações na forma do rosto.

A médica destaca que certos fatores podem resultar em inchaços temporários, influenciando as comparações vistas online. Dietas ricas em sal e álcool podem causar inchaço facial e nas pálpebras. Além disso, tratamentos dermatológicos inadequados, como o uso excessivo de ácido polilático, ácido hialurônico ou botox, também podem provocar alterações na forma do rosto.

Visões distorcidas do próprio ser

O aumento do uso de videochamadas durante a pandemia tem levado a uma percepção alterada da própria imagem. Uma pesquisa da Universidade de Galway, feita pelo professor Eoin Whelan, revelou que a visualização constante da própria imagem em reuniões virtuais aumenta a sensação de fadiga. O estudo, que monitorou 32 participantes, constatou que a exaustão foi maior quando os indivíduos puderam se ver na tela.

Cristina Moreira Fonseca, psicóloga e doutora pela USP, aponta que a tecnologia tem amplificado nossa autocrítica. A exposição constante nas redes sociais faz com que as pessoas se julguem com uma severidade exagerada, acreditando erroneamente que é possível alcançar a perfeição. Esse excesso de atenção aos próprios traços pode levar a explicações infundadas para mudanças naturais.

A dermatologista Mônica Aribi também observa que, com o aumento das reuniões e aulas virtuais, a auto-observação se intensifica. Como resultado, as pessoas percebem alterações já existentes e, muitas vezes, atribuem essas mudanças ao cortisol sem justificativa real.

Redatora de moda e cultura
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