Navegação chinesa quer revolucionar o setor com energia sustentável

Por Alexandre Kenzo
5 min de leitura

Com a crise climática se agravando, cada vez mais empresas investem na sustentabilidade. Seguindo essa trilha, a Wah Kwong Maritime Transport Holdings, uma das maiores e mais antigas proprietárias de navios de Hong Kong, atualmente está investindo de forma signigificativa em sustentabilidade e energia renovável.

É principal nessa estratégia a busca pela energia eólica eficiente, como atesta o recente investimento na startup irlandesa Gazelle Wind Power, que tenta desenvolver plataformas flutuantes para turbinas eólicas offshore (em alto mar).

Acreditamos firmemente que ter um sistema eólico offshore sustentável será a chave para desbloquear o combustível marítimo futuro,” afirmou Hing Chao, presidente da Wah Kwong.

De acordo com a Organização Marítima Internacional (IMO), o transporte marítimo atualmente ainda é responsável por cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa. Segundo a organização, a meta seria de atingir emissões zero de gases até cerca de 2050, exigindo cooperação global tanto no nível governmental quanto empresarial.


Exemplo de navio movido a energia eólica, cargueiro sueco Oceanbird. (Foto: Reprodução/Wallenius Marine)


Uso da Inteligência Artificial

Um problema ainda enfrentado por grande parte desse setor está na oposição entre interesses civis e comerciais: já existem alternativas limpas ao óleo combustível pesado (também conhecido como óleo bunker), mas são mais caras do que esse padrão utilizado pelas embarcações.

Mesmo que uma empresa adotasse essa tecnologia pensando no bem comum, o maior custo desaceleraria o seu negócio, e então ele seria superado pelo resto do setor – que teria relativamente mais fundos para o próprio investimento – e eventualmente expulsa do mercado mais competitivo.

Por isso, o problema sistêmico só se resolveria com o menor preço da alternativa sustentável, justamente o que pretende a energia eólica, cujo maior custo está na infraestrutura inicial. Mas além disso, outra solução é também encontrada na maior eficiência na operação das embarcações, reduzindo a necessidade bruta de combustível, limpo ou não. Assim que pensa Hing Chao e a Wah Kwong, que em agosto desse ano já formou uma parceria estratégia com a startup chinesa de IA, ZhenDui Industry Artificial Intelligence, a qual é apoiada pela principal construtora naval do país, a China State Shipbuilding Corp.

Já vemos a IA sendo aplicada na gestão de navios,” disse o presidente da companhia. “Estamos esperando nos tornar uma das primeiras empresas de gestão de navios verdadeiramente inteligentes do mundo.

É um projeto que se apoia em avanços anteriores, como a startup Seadronix na Coreia do Sul, que promove um sistema de monitoramento e gerenciamento de portos com IA, que hoje é apenas parte do grande leque de possibilidades para o uso da inteligência artificial para lidar com a mudança climática.


O ano de 2023 indica um aumento na temperatura nunca antes visto. (Foto: Reprodução/Copernicus Climate Change Service/ECMWF)


Efeito das embarcações no clima

A descarbonização é uma questão global. Muitas dessas tecnologias de sustentabilidade estão surgindo na Europa,” Hing Chao afirmou, com enfoque especialmente para a emissão de carbono na atmosfera.

Desde a revolução industrial, empresas tem emitido partículas anômalas para o céu em escala crescente, e as embarcações marítimas são grandes contribuidoras. Para o cenário atual, apresentam um exemplo concreto de como simples regulações podem afetar o clima global, como foi visto quando as medidas interenacionais do IMO em 2020 cortaram a poluição sulfúrica em 80%.

Como efeito colateral, as emissões sulfúricas deixaram de formar nuvens no oceano, resultando em um abrupto aumento na temperatura, que segundo cientista atmosférico Michael Diamond é como se o mundo tivesse perdido o efeito resfriador decorrente de uma erupção vulcânica (em termos de nuvens criadas que absorvem o sol) todo os anos.

Embora nesse caso a temperatura tenha aumentado, o experimento demonstra que regulações cortando outros gases, ou até favorecendo a emissão de partículas que não contenham carbono, possam concretizar um projeto de geoengenharia em larga escala por meio das embarcações, revelando mais um modo como o cenário marítmo pode ser não a causa dos problemas climáticos, mas sim a solução.

 

 

Foto Destaque: Hing Chao, presidente da Wah Kwong. Reprodução/Juliana Tan/Forbes

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