Assim como o skincare coreano e o skin cycling, profissionais da área alertam sobre os perigos do exagero, ou o “burnout da beleza”. Ou seja, uma rotina de skincare que exige muitos cuidados e vários produtos, como a trend morning shed, que viralizou nas redes sociais com pessoas que seguem o hábito exaustivo de cuidados à noite como: colocar placas que clareiam os dentes, manter o contorno facial vedando a boca, utilizar touca no cabelo para deixar as madeixas intactas, seguir uma rotina de skincare que engloba máscaras, séruns e ácidos, entre outras práticas. No entanto, muitas dessas rotinas não têm legitimidade científica.
Começamos a ver casos de hipercorreção e rostos com muito volume. No pós-pandemia, um senso de urgência na busca por resultados favoreceu o cenário de estafa e burnout que vemos agora” relata o dermatologista André Braz (CRM 52634239) que destaca a maximização dessa exaustão com as redes sociais.
Beleza ou cansaço mascarado?
A busca por um padrão de pele “clean”, sem poros aparentes, sem textura ou qualquer traço de vida real, se transformou num roteiro quase industrial de autocuidado. O que começou como uma forma de bem-estar se tornou, para muitas pessoas, uma nova fonte de ansiedade. A rotina noturna, que antes era vista como um momento de pausa, agora é carregada de etapas intermináveis. Máscaras de LED, colagens de ácido, ferramentas de drenagem facial, entre outras dicas de skincare formam uma espécie de kit de sobrevivência para dormir “bonita”.

Mulher fazendo skincare (Foto: reprodução/Pinterest/@z.m.p.k)
Esse culto à perfeição, empacotado em vídeos silenciosos e visuais impecáveis, muitas vezes ignora as individualidades, como tipo de pele, questões hormonais ou orçamento, e reforça que, para ser bela, é preciso sofrer (e gastar). O discurso da autocobrança aparece camuflado de autocuidado, mas o efeito prático tem sido o oposto: aumento de irritações cutâneas, distorção da autoimagem e, principalmente, um esgotamento que ultrapassa o físico.
Redes sociais: espelho ou pressão?
Especialistas têm alertado para como os algoritmos amplificam esses comportamentos, promovendo rotinas extremas como se fossem normais. A exposição constante a vídeos do tipo “get unready with me” (algo como “desarrume-se comigo”) faz parecer que esse nível de dedicação é o mínimo esperado, o que não é verdade.
A comparação se tornou parte da rotina. Antes, era com uma amiga, agora é com o mundo todo, ao mesmo tempo” aponta a psicóloga comportamental Laís Albuquerque.
A especialista também destaca que essa vigilância constante alimenta uma sensação de insuficiência permanente e dificulta a construção de uma autoestima sólida, especialmente entre mulheres jovens expostas a padrões irreais de beleza. Assim, essa busca frenética por melhorias externas pode mascarar inseguranças internas não resolvidas. Em vez de promover o bem-estar, a rotina de skincare pode se tornar mais um fator de culpa.

Produtos de Skincare (Foto: reprodução/Pinterest/@NewBeautyMagazine)
O cuidado com a pele é, sim, importante, mas deve ser prazeroso, funcional e adequado às necessidades reais de cada um. Não uma corrida invisível para alcançar um ideal que muda a cada trend.