Em entrevista exclusiva Jeniffer Dias fala sobre a carreira

Heloisa Santos Por Heloisa Santos
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Jeniffer Dias, atriz e produtora fluminense, lançou neste ano 02 projetos: a comédia da Netflix “Barba, cabelo e bigode” e a série musical de sucesso “Rensga Hits” da Globoplay, como a cantora sertaneja Tamires. Atualmente está finalizando as gravações da série “Spider”, sobre o lutador Anderson Silva para a Paramount, e, deve lançar em breve a cinebiografia “Mussum, o filmis”, como a primeira esposa do comediante. É uma atriz em movimento: que canta, dança, produz e dirige; uma das idealizadoras do “Projeto 111”, um movimento de resistência cultural (@centoeonze.projeto). Formada pela Escola de Atores Wolf Maya e pela Escola Sesc de Teatro, começou a sua carreira no elenco do programa “Esquenta” da TV Globo, ao lado de Regina Casé. Depois emendou alguns trabalhos na ficção: deu vida a personagem “Dandara” em “Malhação Vidas Brasileiras” e a Luana na novela “Novo Mundo”, ambas produções da TV Globo. Protagonizou o curta-metragem “Carne”, de Mariana Jaspe. Depois foi Kátia na comédia romântica “Ricos de Amor” da Netflix, e a moto girl Antônia na 2º temporada da série “Segunda Chamada” da TV Globo.

Em entrevista exclusiva ao InMagazine, Jeniffer Dias falou sobre a carreira e deu detalhes sobre o seu futuro.



Como foi começar no teatro ao deixar a engenharia ambiental?

Eu realmente não pensava em ser atriz porque era uma realidade muito distante da minha, não me sentia representada na TV, não via ninguém parecido comigo. Então, na minha cabeça, era um lugar em que pessoas como eu não tinham espaço. A única coisa que eu queria era ter estabilidade financeira. Quando passei no teste para o Esquenta, comecei a trabalhar com a Regina no programa, em 2012, e decidi trancar a engenharia. Foi uma decisão bem difícil porque, na minha visão, a engenharia era a garantia de um futuro tranquilo para mim e para minha família. Mas estar no programa era o que me fazia feliz, de fato. Foi a partir do convite da Regina que vi um mundo de possibilidades, e vi que eu também podia fazer parte daquele universo todo. Comecei a estudar teatro e foi lá que descobri o quanto sou artista. Sempre gostei de cantar e dançar, desde pequena. Minha mãe sempre amou escola de samba e meu padrasto, o Ernani, um cara incrível que eu tenho a sorte de ter perto, fazia parte de um grupo de pagode, o grupo Pirraça. Ele toca violão e cavaquinho, e eu tive contato com esses instrumentos em casa. Lembro dele tocar as músicas no violão e eu acompanhar no canto. Sempre gostei disso.

“Malhação – Vidas Brasileiras” foi um divisor de águas na sua carreira?

“O processo foi todo muito rápido. Fiz o teste, passei, experimentei o figurino e comecei a gravar em duas semanas, com a trama já em andamento. A visibilidade de Malhação é incrível e foi a produção que me abriu portas, com certeza. Dandara era uma personagem forte, que falava de assuntos importantes. Isso, de alguma forma, abre a consciência do telespectador (que falando de Malhação, tem um público bem abrangente) para o que está acontecendo na nossa sociedade, e levanta discussões ótimas. Pra mim, esse é um grande poder da dramaturgia, transformar pessoas e levantar discussões.”



Fale de sua personagem Antonia, em “Segunda Chamada”?

“Antônia é guerreira como várias mulheres brasileiras. Trabalha de manhã (entrega comida por delivery, de bicicleta) e estuda à noite na esperança de ter uma vida melhor no futuro. Ela é do tipo que está muito ligada aos diversos problemas em torno da questão feminina e preta. Não precisei ir muito longe para construí-la. Eu nasci numa favela chamada Coronel Leôncio, em Niterói. Saí de lá ainda pequena. Minha mãe, por ter sido mãe muito jovem e não ter conseguido concluir os estudos, fez de tudo pra que eu visse outros horizontes, e trilhasse um caminho diferente. Ela até chegou a cursar o ensino fundamental e médio numa escola EJA (como a que Antônia estuda em Segunda Chamada), trabalhando de dia e estudando à noite (assim como Antônia também). Eu acompanhei o processo, e não era nada fácil. A vontade que ela tinha de ter um diploma era o que a motivava na época. Assim como minha mãe, minhas tias tiveram uma realidade parecida. Eu cresci observando tudo isso e querendo ir além. Minha mãe, minha rainha, sempre me apoiou em tudo! E a história da minha família era o que me impulsionava. Me formei na faculdade, fui a primeira da família, e toda vez que falo isso me bate um grande incômodo, porque, infelizmente, as pessoas que eu mais amo não tiveram oportunidade e acesso à uma boa educação. Não tiveram acesso ao básico! E Antônia tem a história da minha mãe, das minhas tias, da minha avó, a minha história, e de tantas mulheres desse Brasilzão. O seu senso de justiça também vem daí. Uma justiça que é muito mais emocional do que racional. Visceral e urgente. De quem aprendeu sozinha que o certo é o certo sem pensar muito nas consequências. “

Na pandemia, você produziu, dirigiu e protagonizou um média metragem com seu noivo. Foi a primeira vez que você exerceu as funções de produtora e diretora?

“Foi a primeira vez que dirigi sim. Amei e estou estudando para dirigir mais. E sobre a produção, digo que ela sempre andou de mãos dadas comigo. Para além de produzir o Projeto 111, sou uma pessoa muito organizada, e desde sempre penso nos processos de tudo o que faço. Em criar coisas e compartilhar com o mundo. “



Você passou por um processo de transição capilar. Por trás disso, existe um posicionamento?

“A transição pode ser difícil para muita gente. Sobretudo no início. Sem dúvida, é um ato de muita coragem. Acho importante compartilhar o processo com quem também está passando pela transição ou com quem está pensando em começar. Dizer que o melhor vai chegar, e que alisar o cabelo machuca não só nosso coro cabeludo, mas nossa alma. Que não existe nada mais prazeroso do que a liberdade de ser quem a gente é e como a gente é. Isso começa em nossa raiz, na liberdade de um cabelo livre de químicas. É lindo entender qual é a textura do nosso cabelo natural, que tipo de creme usar. Como diz Luciene Nascimento em seu livro – Tudo nela é de se amar – “Mas, pretinha, a gente quer coroa mole pra quê? 
É firme! 
Esse nosso cresce pra cima que é pra indicar o tamanho da nossa sorte.” Nosso cabelo é nossa coroa! “

Quais são os novos projetos? O que vem pela frente?

“Vai ter a segunda temporada da série do Globoplay “Rensga Hits!”, em que vivo uma cantora sertaneja que faz dupla com o irmão gêmeo, inspirados em Sandy e Junior. E rodei ano passado o longa sobre a história do humorista Mussum, onde interpreto sua primeira esposa. Ainda sem previsão de lançamento.”

Creditos:

Fotos: Priscila Nicheli
Styling: Samantha Szczerb
Beleza: Titto Vidal
Agradecimentos: Portinho RJ, Manot, Dona Mocinha, Powerlook

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