O ícone da dramaturgia brasileira, Milton Gonçalves, 88 anos, foi velado na manhã desta terça-feira (31), no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A despedida reuniu familiares, amigos, fãs e famosos, entre eles Lázaro Ramos, Antonio Pitanga, Mateus Solano, Valentina Herszage e Zezé Motta.
O ator Lázaro Ramos lamentou a volta ao local para um evento fúnebre, que recentemente foi palco do último adeus à Ruth de Souza e Elza Soares. “Se eu sou ator, se eu tenho alguma ativação política, é muito pela voz que ele abriu para todos nós muitos anos atrás (…) É uma despedida triste, mas que a gente nesse momento fica tentando se apegar aquilo que ele deixou de legado, um grande legado. Ontem eu até falei isso, que a gente precisa aplaudir muito ele, porque ele contribuiu muito para a história artística do nosso país.”
Famíliares e amigos na despedida de Milton Gonçalves (Foto: Reprodução/Vittor Chapetta/Ag News)
Segundo a família, a morte aconteceu no início da tarde de ontem, segunda-feira (30), em decorrência de problemas relacionados ao AVC que o ator e diretor sofreu em 2020. A cerimônia foi aberta ao público às 9h30. O caixão estava coberto com a bandeira do flamengo, time do coração de Milton. Foi à capela da música Eu sei que vou te amar, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, que o rito foi encerrado.
Maurício Gonçalves, ator como o pai, relembrou a luta de seu pai ao enfrentar a sociedade racista ao se casar com uma mulher branca, na década de 1960, “meu pai foi muito marcante (pela carreira) e como pai.”
“Tínhamos uma amizade desde a juventude. Tínhamos o desejo pela afirmação do negro. O Milton Gonçalves foi um lutador. Em 1965, ele estava lá entre os fundadores da TV Globo. Ele fez um chamamento para a negrada toda, para que a gente tivesse uma posição de destaque e que a gente não fosse só escravo (nas novelas)“, disse Antonio Pitanga.
Antonio Pitanga na despedida de Milton Gonçalves (Foto: Reprodução/Vittor Chapetta/Ag News)
Já Mateus Solano, que trabalhou com o ator na novela Pega Pega (Globo, 2017), afirmou: “guardo as melhores lembranças possíveis de um homem vibrante, um ator que seguiu trabalhando com mais de 80 anos. Tenho as melhores lembranças também como espectador. Tive o prazer de contracenar com ele e escutar as histórias de vida dele no camarim. Estou aqui para celebrá-lo como ator, artista, militante do movimento negro e como sindicalista em defesa da nossa classe.”
O corpo de Milton Gonçalves foi levado à tarde para o Cemitério e Crematório da Penitência, no Caju, e a cerimônia de cremação era restrita a parentes e amigos.
Foto em destaque: Reprodução/Webert Belicio/Ag News