[Crítica] “Oppenheimer” carrega trama rebuscada e complexa que leva o público ao limite

Vitória Rangel Por Vitória Rangel
9 min de leitura

Baseado no livro vencedor do Prêmio Pulitzer, “American Prometheus: The Triumph and Tragedy de J. Robert Oppenheimer”, de Kai Bird e Martin J, a nova produção de Christopher Nolan entrega todo o drama, medo e consequências que a biografia de Oppenheimer tem a oferecer. Com 180 minutos de duração, a cinebiografia se desenrola como uma extensa e complexa teia de acontecimentos, sejam eles diferenciados por um conjunto de cores, da trilha sonora, ou apenas pelo contexto histórico, não é um filme para todos os públicos.


Christopher Nolan e Cilian Murphy em set de “Oppenheimer” (Foto/Reprodução: Instagram/@universalpictures)


O longa é ambientado durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e acompanha a história de desenvolvimento pessoal e profissional de um dos principais físicos do mundo. J. Robert Oppenheimer, o físico responsável pelo maior avanço científico do século XX, a utilização do processo de fissão de um átomo para a criação do que seria a maior arma de destruição de massa já construída; a bomba atômica.

Com severas implicações e críticas políticas, o filme consegue transmitir todas as motivações e ambições que culminaram na construção e utilização da bomba-apesar de não justificar o seu uso- começando com o contexto sociopolítico da época, que apesar de retratar o viés ideológico de perseguição aos judeus do regime nazista de forma distante, ainda consegue mostrar que grande parte dos cientistas do Projeto Manhatan eram judeus e que sua principal motivação para a construção da “grande bomba” era o medo de a Alemanha Nazista conseguir este feito primeiro.


Recorte do novo longa de Nolan “Oppenheimer” (Foto/Reprodução: Instagram/@universalpictures)


A trama traz com muita eloquência todo o surrealismo por trás das visões de Oppenheimer, que desde o início do filme mostra sinais de delírio com as possibilidades da física quântica e suas partículas, o arco do personagem segue com suas viagens mundo a fora, onde aprende cada vez mais sobre o seu campo de estudo e conhece diversos outros cientistas, que lá na frente seriam recrutados por ele. Diversos nomes extremamente importantes aparecem ao longo da história, e só reforçam a ideia complexa da trama, que requer do espectador um conhecimento médio de física, história e geopolítica.

Com um foco muito mais profundo para a questão técnica da construção da bomba em Los Alamos, e os julgamentos subsequentes ao seu uso, o filme acaba trazendo muito pouco da vida pessoal de Oppenheimer, que se limita a sua amiga e amante Jean Tatlock, interpretada por Florence Pugh, e sua esposa Kitty, de Emily Blunt. Ainda assim, Nolan utiliza de diversos recursos para que os cortes secos dessas cenas se encaixem perfeitamente na narrativa de um personagem que conta e relembra sua própria história ao ser interrogado.


Murphy e Emily Blunt fazem casal em “Oppenheimer” (Foto/Reprodução: Instagram/@universalpictures)


Um ponto extremamente interessante na construção da narrativa é a divisão feita entre as cenas, onde a visão e a narração do protagonista é transmitida colorida, e as demais são em preto e branco, que apesar de causar um estranhamento no começo, logo se mostra uma ferramenta de tensão incrível.


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Elenco de “Oppenheimer’ na première em Londres (Foto/Reprodução: Instagram/universal pictures)


A história envolve o telespectador de uma forma tão disruptiva, que é possível ouvir os próprios batimentos na contagem de lançamento do teste Trinity, mesmo que já saibamos o final. É surreal a forma como as mudanças nas posições de câmera, a trilha sonora e a perfeita atuação dos atores é capaz de transmitir tamanha tensão, em dados momentos a imersão na trama é tão intensa que o público consegue sentir as dores e os conflitos no pensamento do personagem de Cillian Murphy, é capaz de entendê-lo, de ir de um extremo fascínio e piedade do personagem ao conflito de entender o peso que o mesmo teve na história.

Sem sombras de dúvidas será um dos melhores lançamentos do ano, pois apesar de complexo, consegue proporcionar uma experiencia cinematográfica inesquecível. Uma das melhores produções de Nolan, o papel da vida de Murphy, e um verdadeiro espetáculo em efeitos sonoros, fotografia e atuação. Citando Martin Scorsese, “This is Cinema”.

Foto destaque: Cillian Murphy vive Dr. Oppenheimer em nova produção de Christopher Nolan. Reprodução: Instagram/@cillianmurphyofficiall

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