Imprevisível. Este é o termo que melhor define a experiência de assistir ao primeiro longa-metragem dirigido por Drew Hancock (My Dead Ex). Isto não se dá apenas por uma ótica de roteiro macroscópica, mas o que acontece é que cada cena busca gerar a sensação de confusão no espectador. Nunca é aquilo que parece. A artimanha de apresentar o comportamento mais inesperado de cada personagem e finalizar a cena com um corte seco parece ser o primeiro tempero que Hancock utiliza para a sua “cult” e contemporânea refeição.
Assim, cada uma dessas surpresas se juntam para consolidar “Acompanhante Perfeita” como um dos primeiros e mais inesperados grandes filmes de 2025. O nome que lembra as comédias românticas dos anos 2000 e a estética cor de rosa pertencem a um perturbador thriller de ficção científica, que, entre outras sensações, irá gerar uma que ofusca todas elas: a agonia.
Assista ao trailer de “Acompanhante Perfeita” (Reprodução/Youtube/Warner Bros. Pictures Brasil)
Com cenas de sangue, tortura psicológica e um subtexto interessante, “Acompanhante Perfeita” é uma opção divertida para sair do mainstream e viver uma daquelas experiências que, quando as luzes do cinema se acendem, leva um tempo para voltar à realidade.
Com isso, é fortemente recomendado que se assista ao filme sem nenhum conhecimento prévio, pois é uma obra que surpreende desde o início. Porém, para os curiosos, o IN Magazine trouxe uma sinopse da obra sem spoilers do final.
Já nos cinemas americanos, “Acompanhante Perfeita estreia no Brasil nesta quinta-feira (06).
Trama de “Acompanhante Perfeita”
O filme conta a história do casal Iris e Josh, que está prestes a visitar a casa no lago do amigo magnata, Sergey. Interpretados por Sophie Thatcher (Yellowjackets, 2021) e Jack Quaid (The Boys, 2019), os personagens parecem viver a história de amor perfeita. Os dois se conheceram no supermercado e Josh tomou a iniciativa para paquerar a moça. Ansioso, ele acaba derrubando a pilha de laranjas da mesa no chão, mas Iris parece se encantar pelo rapaz mesmo assim. Fofo, não? Sob uma ótica superficial, esta parece ser mais uma comédia romântica contemporânea. No entanto, isto é rapidamente quebrado com a primeira fala de Iris, aparecendo como narradora onisciente:
Houve duas ocasiões na minha vida em que fui mais feliz. A primeira, foi quando conheci o Josh. A segunda…no dia que eu matei ele.
![Poster do filme "Acompanhante Perfeita"](https://inmagazine.ig.com.br/wp-content/uploads/2025/02/Cartaz-Acompanhante-Perfeita.jpg)
A primeira grande revelação do filme se dá na primeira meia hora, quando o espectador descobre que Iris na verdade é uma robô sexual comprada por Josh em uma espécie de Amazon hiper-futurista. Todas as memórias dela eram na verdade geradas por computador. O supermercado? As laranjas? Tudo não passava de uma grande fachada para a android ser o mais realista possível. O problema é que havia uma única parte que era verdadeira: o sentimento de Iris em relação a Josh.
Desta forma, quando a personagem descobre o segredo que seu amado guardava, a relação entre o casal mostra que, entre o amor e o ódio, a linha é tênue.
Jack Quaid gosta de interpretar o “coitado”
O ator que se tornou mundialmente conhecido por interpretar um dos protagonistas de “The Boys”, Hughie, e o personagem mais controverso de “Pânico 5”, Richie, tem uma especialidade muito clara: personagens que lutam contra o universo. Isso significa que são aqueles caras que, por pior o caráter que tenham suas atitudes, nunca assumem a culpa por isso. Também conhecidos como “good guys”, eles sempre atribuem seus erros a variantes externas.
Josh é um exemplo clássico disso, que decide manipular sua namorada android para ficar rico de maneira criminosa. Mas a maestria de Jack Quaid em fazer com que seu personagem seja o mais insuportável possível é o que o torna tão bom. É incrível como Josh vai do namorado perfeito ao ser que todo mundo quer esganar em uma hora e meia de filmagens. Méritos totais para Quaid!
Sophie Thatcher: do adorável ao sanguinário
A versatilidade da atriz de Yellowjackets em interpretar a protagonista de “Acompanhante Perfeita” é absoluta. Sophie Thatcher precisa interpretar a inteligente, a limitada, a raivosa, a tranquila, a assassina e a apaixonada. Mas, em determinados momentos, precisa fazer com que o espectador sinta que não há nada por trás de seus olhos…não é para qualquer um. Assim, é realmente impressionante como a atriz traz uma atuação minuciosa, mas que consegue passar de forma perfeita os sentimentos de Iris.
A história do longa é uma grande analogia a relacionamentos tóxicos. Em entrevista à Variety, Sophie Thatcher havia comentado que já passou por relacionamentos de tal caráter e se identificou com a personagem interpretada:
Acho que minha insegurança com tudo funcionou, porque ela estava tão ansiosa, e eu me encontro em relacionamentos assim. Assistindo pela primeira vez, fiquei envergonhada por mim mesma, porque a personagem só quer ser amada. Pareceu desesperado de um jeito que eu nunca tinha feito antes, mas eu sempre me vejo nos papeis.
Sophie Thatcher em foto promocional de “Acompanhante Perfeita” (Reprodução/Frazer Harrison/Getty Images Embed)
E é a partir dessa mescla entre uma série de elementos que “Acompanhante Perfeita” basicamente perde a ideia de “gênero”. Com elementos do terror, comédia, suspense e drama, a obra é uma verdadeira montanha russa, que também exerce um importante papel social na reflexão acerca dos relacionamentos abusivos.
Quando o próprio elenco e produção do filme pedem à audiência que vá ao cinema completamente cega (em relação aos acontecimentos do filme), é porque eles sabem o quanto o impacto com os plot twists da história de Josh e Iris pode ser chocante e recompensador.
É assim que “Acompanhante Perfeita” deve vir a se consolidar como um filme divertido, chocante e que, definitivamente, ganhará muitos fãs na sua estreia.
Nota: ★★★★