As 13 indicações de “Emilia Pérez” na premiação do Oscar 2025 não é apenas um delírio da Academia. O novo musical francês do diretor Jacques Audiard é um filme ousado, corajoso, surpreendente e ganancioso. Destaque no Festival de Cannes 2024, o longa narra a história de Juan “Manitas” Del Monte (Karla Sofía Gascón), um violento traficante do cartel mexicano que decide contratar a advogada Rita Mora Castro (Zöe Saldaña) para que o ajude a realizar seu maior desejo: fazer sua transição de gênero, e finalmente assumir sua identidade como Emilia Pérez.
Uma mistura de gêneros
Pode-se dizer que “Emilia Pérez” é uma mistura de gêneros cinematográficos. O filme é, de fato, um musical, porém sua estrutura narrativa e seu conteúdo são uma grande mescla que passam pelo musical, pelo drama e pela ação. Em certos momentos, o filme possui um tom humorístico bastante acentuado, mas que vem pela pretensão do diretor de extrair algo cômico de situações absurdas e inusitadas.
Em relação à sua estrutura, o longa-metragem é composto por cenas musicais, onde Jacques Audiard busca uma associação com elementos do cotidiano. Sendo assim, o filme, ao mesmo tempo que transforma as cenas em um espetáculo particular, ele não se desassocia totalmente da esfera em que a narrativa está se passando. As canções são originais, compostas pela artista francesa, Camille Dalmais, em conjunto com o instrumentista Clément Ducol. As músicas “Mi Camino” e “El Mal” foram indicadas para a categoria de Melhor Canção Original no Oscar, no entanto, o destaque maior é de “El Mal”, na qual a performance de Zöe Saldaña demonstra toda a revolta que a letra da música expõe, em relação às contradições da cena.
O roteiro do filme também é assinado por Jacques Audiard. Ele possui elementos que conseguem prender o espectador na história, sem perder o fôlego do filme e sem deixar a narrativa ficar chata. Um ponto forte do roteiro é a maneira como ele trabalha a subjetividade de Emilia Pérez, fazendo com que a personagem principal demonstre diversas camadas conflituosas, por conta de sua transição de gênero. Em uma perspectiva individual, Audiard trabalha bem como uma pessoa transsexual possui dificuldades em esferas relacionais, ainda que, o filme demonstre de forma bonita a expressão de sentimentos da protagonista.
Destaque nas atuações
Definitivamente, o destaque do filme é a atuação de Karla Sofía Gascón. Tanto o personagem Manitas, quanto Emilia Pérez, são incorporados de uma forma sensível e profunda. Chega ser espantoso como Gascón consegue se transformar totalmente em um mesmo filme. A atriz espanhola consegue emocionar o público em alguns momentos do longa e sua performance consegue sustentar as múltiplas camadas da personagem com bastante consistência. Em contraponto à protagonista, é preciso questionar a atuação de Selena Gomez no longa, que durante o decorrer da história apresentou uma performance mediana e um espanhol bem abaixo do esperado.
![Atriz Zoe Saldaña](https://inmagazine.ig.com.br/wp-content/uploads/2025/01/oscar-2025-emilia-perez-faz-historia-e-se-torna-o-filme-de-lingua-nao-inglesa-com-mais-indicacoes-1024x576.webp)
Finalmente, o que se pode entender de “Emilia Pérez” é que o longa-metrage trata-se de um projeto ambicioso de Jacques Audiard. A narrativa aborda temas como a transsexualidade, o cartel mexicano, a corrupção, as falhas do sistema jurídico, a violência, a sexualidade e a subjetividade das relações. Além disso, o próprio formato do filme se configura como grande audácia do diretor, por misturar vários gêneros. A impressão que se tem é que Audiard buscou abraçar o mundo em um filme, e é justamente por isso que “Emilia Pérez” não é fantástico.
Na busca por falar de tudo, o desfecho acaba não falando muita coisa ao espectador, não diz exatamente onde essa narrativa quis chegar. O filme tem um ritmo excitante e frenético, mas uma conclusão apenas perdida. No final, Audiard peca em sua própria ambição. “Emilia Pérez” estreia dia 6 de fevereiro nos cinemas brasileiros, e possui prêmios como o Prêmio do Júri e o Palma de Ouro de Melhor Atriz, do Festival de Cannes; e o Globo de Ouro, como Melhor Filme Estrangeiro.