[Crítica] “Mickey 17” é divertido, mas não inovador

Robert Pattinson brilha no filme com uma atuação cativante e versátil, destacando-se em um filme com 86% de aprovação no Rotten Tomatoes

8 min de leitura
Foto destaque: Capa de "Mickey 17" (Reprodução/Warner Bros. Pictures)

“Qual a sensação de morrer?”. “Mickey 17“, o novo filme do diretor sul-coreano Bong Joon-ho (Parasita), estrelado por Robert Pattinson (O Batman), levanta esse questionamento uma série de vezes durante suas mais de duas horas de duração.

Com uma pegada existencialista, o filme se passa em um futuro distópico em que a humanidade começa projetos de colonização de outros planetas próprios para a vida. Assim, o personagem Mickey, que tinha uma dívida com um agiota na terra que não podia pagar, decide se inscrever para participar de uma missão de colonização como um “descartável”. 

Ser “descartável” significa que o personagem interpretado por Pattinson irá morrer diversas vezes em testes feitos por cientistas. No entanto, toda vez que Mickey morre, ele é reimpresso com todas as memórias conservadas. Ao começar o filme, é revelado que o personagem que acompanhamos é o Mickey de número 17, ou seja, já houveram outros 16 que morreram e foram reimpressos antes dele.


Trailer de “Mickey 17” (Reprodução/Youtube/Warner Bros.)


As fases do filme (Contém spoilers)

“Mickey 17” é um filme ambicioso, no sentido de que tenta discutir diversas pautas importantes ao mesmo tempo, mas acaba não se aprofundando devidamente em nenhuma delas. A obra é uma ficção científica com um sistema de clones semelhante à “Piscina Infinita” (2023), mas que também retrata a colonização de humanos em outros planetas de maneira quase idêntica ao que James Cameron já fez em 2009 com “Avatar”, enquanto se assemelha a “Interstellar” (2014) na questão da humanidade buscar um novo espaço para viver a partir de uma Terra defasada. No geral, o mais novo longa do diretor de Parasita não traz nenhuma novidade na ficção científica.

Desta forma, Bong Jung-hoo começa trabalhando a crise existencial de Mickey 17, que é um personagem que se tornou extremamente desesperançoso após morrer e ser reimpresso 16 vezes.

No primeiro terço do longa, ele é o único personagem que se tem perspectiva, com a história de como ele se tornou um descartável sendo contada em primeira pessoa. Após a contextualização, a história de Mickey chega até o momento atual, em que ele é deixado para morrer em uma caverna com alienígenas.

Porém, estes alienígenas acabam por resgatá-lo e ele pode voltar até a base em segurança. Ao chegar na nave dos humanos, ele descobre que o Mickey 18 já havia sido impresso.


Personagem Mickey sendo reimpresso
Mickey sendo reimpresso (Reprodução/Warner Bros. Pictures)

A partir daí, se inicia uma jornada colaborativa entre os dois Mickeys para que ninguém descubra que eles são “múltiplos”, um crime extremamente condenado na realidade de “Mickey 17”, com direito à pena de morte para todos os clones. Assim, é interessante ver a diferença entre a personalidade dos dois Mickeys, mesmo que eles sejam clones com as mesmas memórias. Enquanto o Mickey 17 é depressivo e “sem sal”, Mickey 18 é um personagem “badass”, sexy e sem medo de nada. Sendo assim, mesmo que os dois não apresentem nenhuma compaixão um pelo outro, o desejo de sobrevivência faz com que eles unam forças.

Este é o início da segunda fase do filme, marcada por um revezamento entre os Mickeys para que eles não sejam vistos juntos em nenhuma hipótese. Talvez sendo o período mais divertido do filme, Robert Pattinson consegue ter uma química incrível com si próprio para interpretar os dois personagens. 

Desta forma, o segredo dos dois cai por água abaixo quando Kenneth Marshall (Mark Ruffalo), o magnata responsável pela viagem de colonização, captura um dos alienígenas que ajudou Mickey 17 a escapar da caverna. É neste momento que Mickey 18, que não teme nada nem a ninguém, tenta assassinar Marshall, mas acaba falhando quando Mickey 17 o impede, fazendo com que os dois sejam presos.

É a partir daí que se inicia a terceira fase do filme: A Colonização. Esta se dá com Kenneth Marshall, que despreza estes aliens nativos do planeta, iniciando um plano que tem o objetivo de aniquilar esta população. 

Porém, os Mickeys se libertam da prisão com a ajuda de Nasha (Naomi Ackie), par romântico de Mickey no filme. Assim, o ambiente para o desfecho da batalha entre Mickey e Kenneth Marshall é instaurado.

Robert Pattinson faz com que “Mickey 17” valha a pena

“Mickey 17” tem suas imperfeições, mas é difícil se arrepender de comprar um ingresso para o filme ao ver as cenas hilárias protagonizadas por Robert Pattinson. A versatilidade para interpretar versões tão diferentes de uma mesma pessoa é um talento muito complicado que o ator de “O Batman” e “Crepúsculo” faz parecer fácil neste longa.

Não é nenhum absurdo que e leve a sério a frase do diretor do filme acerca da atuação de Pattinson:

Aos membros da academia, por favor, deem a Robert Pattinson o prêmio de melhor ator e melhor ator coadjuvante. Deem a ele os dois!!

Bong Jung-hoo, em seu perfil no X


Mickeys 17 e 18, ambos interpretados por Robert Pattinson (Reprodução/Warner Bros. Pictures)

Apesar da brincadeira, Robert Pattinson de fato realiza um trabalho primoroso, fato que deixa os fãs esperançosos e animados para os próximos trabalhos do ator. Dentre eles, destacam-se o remake do clássico “Possessão”, de 1981, “Primetime”, novo filme da A24, e, claro, “Batman – Parte II”, com lançamento previsto para 2027.

Veredicto

No fim, o mais novo filme do diretor Bong Jung-hoo apresenta mais do mesmo, mas sem deixar de ser carismático e divertido. Apesar de não ser muito longo, o filme se estende demais em seu final, de forma que haviam pelo menos três ocasiões melhores e anteriores para o longa terminar.

No mais, os atores coadjuvantes não surpreendem. Mark Ruffalo, vivendo uma fase caricata, faz um Kenneth Marshall que é o clássico oligarca de limitações intelectuais. A personagem interpretada por Toni Collette, no entanto, aparece como mais interessante por ser quem manipula Marshall. Porém, quando parece que ela vai ter uma participação surpreendente e interessante, nada demais acontece.

Portanto, “Mickey 17” é um bom filme, porém mais esquecível do que o planejado pela direção. 

O longa estreia nesta quinta-feira (06) nos cinemas de todo o Brasil.

Nota: ★★★

Sou um estudante de jornalismo da Universidade Federal Fluminense apaixonado por cinema e literatura.
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