Unidos por Ballal: diretores criticam o Oscar

Cineastas se unem para repudiar resposta da academia ao ataque sofrido por Hamdam Ballal

Ca Silva
Por Ca Silva
5 min de leitura
Vencedores do Oscar são ignorados pela academia
Foto destaque: Hamdam Ballal e Yuval Abraham ganham prêmio no Oscar por melhor documentário (reprodução/Instagram/@letterboxd)

Durante esses últimos dias, diversos cineastas se manifestaram em repúdio a forma indiferente, a qual, o Oscar reagiu a um de seus premiados. Na madrugada entre a segunda-feira (24) e a terça-feira seguinte, o diretor palestino Hamdam Ballal sofreu uma série de ataques e foi levado ao cárcere. Os episódios, gravados pelo co-diretor de sua obra vencedora, repercutiram mundialmente e após uma gama de cobranças a academia, a resposta finalmente chegou, porém, não é a resposta esperada.

Segundo o portal da “Uol” o jornalista israelense, também co-diretor do documentário “No Other Land, Yuval Abraham, foi o primeiro a se pronunciar em uma denúncia feita no X (ex-Twitter). Alegando que infelizmente a Academia dos Estados Unidos, que os deu o Oscar há três semanas, se recusou a apoiar Hamdan Ballal publicamente enquanto ele era agredido, torturado e mantido preso por soldados israelenses.


— O Jornalista israelense se pronuncia sobre a resposta da Academia aos ataques sofridos pelo colega palestino premiado pela categoria do Oscar (Postagem: Reprodução/X (ex-Twitter)/@yuval_abraham)


Abraham ainda afirmou que o Oscar não sentiu necessidade de se pronunciar por conta de outros palestinos, também agredidos no ataque dos colonos, e por tanto o ataque sofrido poderia não ter relação com o filme. Porém, Hamdan afirmou ter ouvido os soldados fazendo piada sobre o Oscar.

Uma desculpa para se calar

Segundo o co-diretor de “Sem Chão” o ataque foi claramente escolhido por conta do documentário e o fato de Ballal ser palestino.

Aparentemente, isso deu à Academia uma desculpa para ficar calada quando um cineasta que eles homenagearam, que vive sob uma ocupação israelense, mas precisava dela”, desabafou o jornalista.

O cineasta ainda ressalta que outras organizações se pronunciaram dando apoio ao colega, destacando o papel da Academia Europeia de Ciências e Artes e uma gama de profissionais do audiovisual que sentiram a dor da vítima.

Quebra de confiança

O portal “Omelete” trouxe a revolta de mais vozes do mundo artístico e apontou como consequência outros cineastas, inclusive votantes da própria premiação, como o documentarista AJ Schnack (Kurt Cobain: Retrato de uma Ausência), que escreveram uma resposta ao CEO da Academia, Bill Kramer, e à presidente, Janet Yang.


AJ Schnack em um jogo de basebol em Los Angeles (foto: reprodução/Instagram/@Ajschnack)

O diretor independente começou pontuando a dificuldade para se expressar adequadamente e a decepção, mesclada com a raiva, pela péssima declaração enviada aos membros da academia. Seguindo chocado e furioso pela sensação de abandono do Oscar, o cineasta afirma que a organização da premiação norte-americana deixou uma brecha para que os membros vejam:

“Vocês (Oscar) veem o sequestro e espancamento de um premiado recente como algo sobre o qual os membros terão ‘muitos pontos de vista únicos’. Com todo respeito, é uma sugestão verdadeiramente hedionda”, disse Schnack.

Ainda com um sentimento de quebra de confiança por parte dos jurados, já que segundo o artista essa declaração deixou claro que a presidência do festival reconhecido mundialmente não usará sua voz caso algo assim aconteça a outro membro no futuro, mesmo que, segundo AJ, seja algo feito por um governo norte-americano ou outro.

União e apoio entre os membros

Com questionamentos de outros cineastas indagando se a Academia realmente se importa com a liberdade artística e os direitos desses artistas do audiovisual, com consequência diversos nomes prestigiados da categoria utilizaram as redes sociais para apoiarem as falas de Yuval Abraham e AJ Schnack.

A votante Jehane Noujaim, indicada ao Oscar em 2014 pelo documentário The Square, apoiou o colega e agradeceu aos depoimentos de AJ pontuando que também escreverá uma carta. Em seguida, a produtora Ina Fichman, indicada em 2023, afirmou que todo o departamento de documentários deveria assinar essa carta e torná-la pública e escrever tanto para o Presidente quanto para a SEO da academia.

A diretora vencedora do Emmy, Rachel Leah Jones, por “Advocate”, deu uma resposta polêmica seguindo a premissa de que essa resposta do Oscar é errada, mas é também um aviso aos membros, incluindo “os preguiçosos e confortáveis predominantemente brancos, sob o regime de Trump” que isso não é sobre “pontos de vista únicos”, mas, é sobre certo e errado.

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Todo o desespero do meu ontem e o sorriso de alívio do meu hoje, valerão a pena para a profissional realizada que eu quero me tornar amanhã.
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