Diante das polêmicas e críticas, Pelé acertou nas previsões nas Copas

Ana Gomez Por Ana Gomez
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A morte de Pelé deixa um vazio no cenário do futebol brasileiro e mundial. O Rei já deu inúmeras entrevistas, foi comentarista, colunista de jornal e jamais se esquivou de fazer previsões, mesmo que fossem vistas com lupa pelos seus críticos.

Em várias ocasiões, o jogador foi visto como chacota quando omitiu opiniões nas páginas esportivas. Ele levou uma fama em que é uma mistura de pé frio com o desconhecimento de futebol, consagrada pelo outro jogador Romário, com a frase: “Pelé calado é um poeta”.

Mas a releitura de várias coisas que ele disse entre as Copas de 1982 e 2018, mostra que a realidade é diferente. O Rei Pelé errou, mas acertou muito mais quando arriscou a apontar os favoritos ou deficiências na seleção brasileira e nas principais adversárias.

Na copa de 1982, a seleção brasileira de Telê Santana não tinha aprovação de Pelé. Em uma entrevista dada, às vésperas da Copa, o jogador era crítico e apontava problemas. O Rei dizia que faltava coragem ao time brasileiro. Para ele, o Brasil não era eficiente. Pelé apostou no bicampeonato argentino, com Cesar Menotti. E a campeã desse ano foi a Itália.

Em 1986, Pelé foi mais ousado nas críticas à seleção. Dizia que o time “do seu amigo Telê”, infelizmente tinha 90% de chances de fracassar na Copa. O Rei criticou tudo um pouco. A preparação “sem a menor seriedade”, o corte de Renato Portaluppi, erro na programação dos treinos, a eleição a presidência na CBF. O curioso desse caso é que Pelé, perto dos 46 anos e parado há quase 10 anos, chegou a se oferecer para jogar a Copa do Mundo no México. Conseguiu apoio de Zizinho e Carlos Alberto Torres: “Pelo menos 30 minutos de cada jogo o Pelé aguentaria e, nesta seleção do Telê, isso já bastaria para garantir-lhe a posição de titular”, disse o Capitão do tri.

Quatro anos mais tarde em 1990, as críticas de Pelé atingiram Sebastião Lazaroni, da Itália. Nesta copa, o Rei assinou coluna no tradicional jornal esportivo italiano “Gazzeta dello Sport”. E não poupou o time do canarinho. Escreveu que Lazaroni deveria mudar o esquema da Seleção, lembrou, de forma irônica, ao treinador que “também era possível jogar bem e vencer”, citando a Alemanha Ocidental (que terminou campeã). Pelé ainda pediu a saída de Muller do time titular e queria Bebeto e Romário ao lado de Careca. Na eliminação contra a Argentina, Muller perdeu chance incrível no final do jogo.

Na copa de 1994, uma das previsões mais comentadas quando se fala da “boca maldita” de Pelé é sobre o favoritismo da Colômbia. O Rei era fã do time de Valderrama, Rincón, Asprilla, porém ressaltou problemas e classificou o time colombiano como incógnita na véspera da Copa. Sobre a seleção brasileira, manteve olhar desconfiado, porém elogiou muito o técnico Carlos Alberto Parreira. Também previu e acertou que a Suécia seria uma das forças naquele mundial, a seleção sueca foi derrotada pelo Brasil em um jogo difícil nas semifinais. Na primeira fase, empataram. As outras apostas do jogador foram a Alemanha e a Itália, vice-campeã do mundo.

Em 1998, em uma coluna do jornal “O Globo”, o Rei lembrou que o favoritismo era adversário do Brasil e colocou a França como candidata para ser campeã. Pelé apostou em boas participações das seleções italiana e argentina, que chegaram na fase das quartas, e foram eliminadas pela França e pela Holanda. Diante de todas as previsões feitos para a primeira fase, o jogador errou apenas quando apostou na classificação da Nigéria e da Espanha.

Quatro anos mais tarde em 2002, o mundial cheio de surpresas pegou Pelé de jeito. O Rei, em uma coluna no “Globo”, colocava França e Argentina como as seleções favoritas, opinião compartilhada por Felipão, técnico que levaria o Brasil ao título mundial. As duas não foram muito longe. Neste ano, o jogador incomodou Ronaldo, Felipão e outros jogadores em críticas à seleção brasileira. A família Scolari recebei o troféu do Pelé.


Pelé e Cafu no último título da seleção brasileira, na Copa do Mundo de 2002 — Foto: Getty Images


Durante a copa de 2006, na cidade de Berlim, em uma amostra em sua homenagem, Pelé tocou em um ponto crucial antes do mundial. Ele mostrou preocupação com o preparo físico dos jogadores da seleção brasileira. Citou apenas o Ronaldo, porém a balança foi o principal problema daquele ataque- com Fenômeno e Adriano. O Rei chegou a comentar que “mesmo com toda a qualidade do nosso futebol, o Brasil pode ser eliminado já na segunda fase”. Ele errou por pouco. O time canarinho perdeu para França nas quartas de final, em um mundial com muita pompa fora das quatro linhas e pouco futebol.

Em 2010, Pelé apostou na Espanha desde a Europa e falou em 2008: “tenho muita sorte, porque, antes da Europa, todos falavam em Itália ou Alemanha, eu já dizia: a Espanha está jogando bem e pode ganhar. E felizmente ganhou”. O Rei era fã do Iniesta, autor do gol da vitória na final contra a Holanda, Pelé afirmava que a seleção espanhol era favorita para o mundial. Próximo da Copa do Mundo da África do Sul, falou que considerava o time de Dunga e evolução, viu a seleção mais bem “coordenado”, porém manteve a opinião de que a Espanha formava o conjunto mais forte do Mundial.

No mês de novembro de 2013, Felipão, ouviu de novo, que Pelé apostou na Alemanha e novamente na Espanha para a Copa de 2014, no Brasil. Em um evento de patrocinador, o treinador da seleção brasileira, campeão em 2002, falou: “Pelé disse isso? Que bom. Agora, mantenho mais ainda a minha confiança na seleção brasileira. Se Pelé está apostando na Alemanha, é possível que a Alemanha não chegue”. Bom, isso não aconteceu e sabemos como terminou. Após a derrota do 7 a 1, o Rei defendeu Felipão, mas brincou: “Antes da Copa falei que Alemanha, Espanha, Holanda e Brasil iriam chegar. Só a Espanha não chegou. Quando eu acerto ninguém fala”.

No mundial de 2018, Pelé fez duas observações sobre o time de Tite. Comentou que reunia grandes jogadores de grandes clubes da Europa, mas falou que “o principal desafio será fazer com que todos joguem juntos”, achava que seria difícil dar a melhor cara ao time, até pelo pequeno tempo desde a troca de Dunga por Tite. Falou que fez bem para o time canarinho a chegada do novo técnico, que “estava conseguindo fazer uma equipe”. Entre os favoritos, não citou nenhuma surpresa, como a Bélgica, que eliminou a seleção brasileira, mas falou que Argentina, Alemanha, Inglaterra e França, a campeã, como principais candidatas ao título.

Foto destaque: Pelé. Reprodução/Instagram

Por Ana Gomez
Escrevo para a editoria de esportes e reviso os textos
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