A Seleção Brasileira, começou um novo ciclo para a Copa do Mundo de 2026 e logo de cara venceu a Bolívia por 5 a 1 no Mangueirão. E nesse início processo, a disputa por uma vaga é acirrada, entretanto, a atitude dos pais de Matheus Cunha chamou a atenção. O abraço em Richarlison, rival de posição de Matheus, despertou o sentimento de solidariedade nos jogadores. A entrevista de Cunha neste domingo (10) abordou mais o lado humano e solidário do que o esportivo. O jogador abordou o tema por ter ficado de fora da última Copa do Mundo, e sobre a necessidade de ajudar um rival de posição, mas que no fundo é um companheiro de equipe. Essa é uma característica muito valorizada por Diniz, que tende a ver o lado humano do atleta.
Apoio a Richarlison
Ao final da partida, Richarlison chorou nos corredores do Mangueirão e recebeu o apoio de companheiros de equipe e dos pais de Matheus Cunha, que estavam presentes. Ao ser perguntado sobre o tema, o atacante respondeu que torce pelo sucesso de Richarlison, pois, para estar no mais alto nível, a sua concorrência também deve estar.
E a seca de gols é uma realidade vivida pelos atacantes. Matheus Cunha deu o próprio exemplo, pois, ao passar por uma fase ruim, o atacante ficou de fora da Copa do Mundo de 2022. Esses reveses na carreira fazem muitos jogadores questionarem o seu talento, o seu potencial e até no ambito pessoal, e Matheus Cunha parece ter conseguido aprender e se fortalecer nesses momentos dizendo:
“A melhor forma de ganhar posição é com os dois no melhor estágio possível. Para nós, atacantes, é um momento que todos passam. Logo após vê-lo daquela forma, estava com minha família, e foi uma cena legal que eu vou sempre lembrar, que foi meus pais terem saído para abraçá-lo. Acho que pelo simples fato de ter acontecido isso com o filho deles.”
Dor por não ir ao Catar em 2022
A lista de Tite para a Copa do Mundo de 2022 não constava o nome de Mathues Cunha, que fez parte do ciclo de preparação para a Copa. O jogador teve, nos últimos quatro anos, uma ascensão meteórica, sendo um dos principais jogadores das convocações sub-20, conquistando as Olimpiadas em Tóquio e com convocações para a seleção principal. Contudo, esse sucesso só aumentou a dor de não ir para o Catar. O atacante usou esse sentimento como aprendizado que o fez amadurecer, e afirmou:
“Imagina você participar e dar orgulho ao seu país, estando numa Copa do Mundo? É algo muito grande. Às vezes, você sendo muito novo sente a pancada de uma forma até mais forte do que é. Mas isso te dá mais força, maturidade e experiência e cabeça para passar por todas as situações,”
E esse amadurecimento de Matheus Cunha traz para si algo em comum com o técnico Fernando Diniz. O treinador é conhecido por tratar os seus comandados de maneira mais humana, tentando ajudar os jogadores não só no seu lado profissional, mas também no pessoal.
Diniz acredita que o jogador quando está feliz consegue realizar coisas em campo que não conseguiria caso não estivesse com a cabeça no lugar. Como ex-jogador e formado em psicologia, Diniz busca melhorar a relação entre as figuras dos jogadores e suas vidas pessoais, algo que o treinador diz ter sofrido bastante em conciliar quando ainda jogava. E Matheus Cunha elogiou a visão de Diniz:
“São palavras que eu desejaria para muitos jogadores de futebol escutá-las. Isso mexe muito com a gente. A gente parece estar num pedestal intocável, mas somos meros jovens, filhos, pais, amigos. Por toda força e capacidade que tivemos para chegar onde chegamos, em muitos momentos duvidamos de nós mesmos, é do ser humano, normal. Ter alguém guiando o seu pensamento é algo incrível, que nos motiva muito.”
Assista aos Melhores Momentos de Brasil 5 x 1 Bolívia (Vídeo: reprodução/Instagram/GE)
Diniz e a identificação com o povo brasileiro
Diniz chegou à seleção como símbolo do resgate do futebol brasileiro. Nos últimos anos o estilo posicional europeu, introduzido por Guardiola no mundo e por Dunga na seleção, é considerada como a maneira mais eficaz de se enxergar o futebol. No entanto, a cultura irreverente e flexível que é presente na vida do brasileiro faz com que alguns jogadores tenham dificuldade na assimilação, e Diniz chega como vanguardista de um estilo mais brasileiro de se enxergar futebol, dando liberdade ao jogadores e permitindo com que o atleta possa explorar mais os seus pontos fortes ao invés de focar em que parte do campo ocupar, utilizando apenas os atributos necessários para a posição. Matheus Cunha deu a seguinte declaração:
“Impossível ter visto algum time jogar como o Diniz, ainda mais na Europa, onde a gente tem uma cultura tão posicional. Está sendo animador para todo mundo que está participando. Por chegar onde chegamos, a gente tem dentro da gente um senso de aprendizado forte, todo mundo quer aprender. Quando vem com algo tão novo, inovador, desperta a curiosidade de querer assimilar. (…)Então, isso tudo é de muito aprendizado, entender que a gente vai estar em situações de campo em que a gente pode passar a carreira toda e jamais imaginaria estar nessas situações. Ele vem, inova e dá certo. É de um aprendizado muito grande e de uma sensação de fazer parte de algo tão diferente. É muito motivador.”
A inspiração que Diniz usa para resgatar o futebol brasileiro vem da seleção brasileira de 1982, quando a canarinho era considerada por muitos a equipe que apresentava o futebol mais bonito de todos os tempos. E Matheus Cunha ao ser perguntado sobre as inspirações, disse não conhecer muito sobre a seleção 82, mas acredita que a identificação com o povo brasileiro virá, e deseja que cada brasileiro possa olhar para eles e dizer “esses são os meus representantes”. Completou Cunha:
“Muitas vezes a gente pode ter perdido em algum momento, mas representando esse escudo e essas cores jamais pode perder. É muito bonito quando ele fala e nos coloca num patamar tão importante, com certeza sai algo de dentro de nós para que aquilo seja marcante para nossas famílias e para o povo brasileiro se identificar tão forte com a seleção brasileira que vai olhar e falar: “esse é meu pessoal, aqueles que vou apoiar até o final e vão me representar bem”. Nas palavras dele é algo mais bonito para gente esse sentimento de identificação como brasileiro.”
O Brasil enfrentará o Peru pela segunda rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. O jogo acontecerá no estádio Nacional de Lima as 23h, horário de Brasília.
Foto em destaque: Matheus Cunha em Brasil x Bolívia. Reprodução/Instagram/@cunha