Depois de um fim de semana conturbado para o craque brasileiro e seus fãs, Neymar teve, enfim, sua transferência confirmada na manhã desta segunda-feira (14) pelo jornalista Fabrizio Romano, um dos especialistas mais respeitados na cobertura do mercado de transferências. Contratado pelo Al-Hilal, o brasileiro encerra uma passagem de dez temporadas no futebol europeu, sendo as seis últimas no Paris Saint-Germain.
Vivendo um sonho
Após anos de glória no Santos, Neymar realizou o sonho de criança ao assinar com o Barcelona em 2013. A equipe ainda se adaptava ao fim de sua era dourada com o ex-treinador Pep Guardiola e terminou a temporada sem um título expressivo, com apenas uma Supercopa da Espanha, que marcou a estreia oficial de Neymar, decidida justamente pelo primeiro gol do brasileiro com a camisa azul-grená.
Apesar da temporada atípica da equipe comandada pelo treinador Tata Martino, Neymar teve uma temporada de estreia satisfatória, contribuindo diretamente para 30 gols (15 gols e 15 assistências) em 41 jogos, sendo 19 dessas contribuições (10 gols e nove assistências) na La Liga em 26 partidas, 10 (quatro gols e cinco assistências) na Liga dos Campeões da UEFA, um gol na Copa del Rey e Supercopa da Espanha. Ainda marcou um gol e uma assistência em sua estreia no El Clásico, na vitória por 2 a 1 no Camp Nou, pelo campeonato espanhol.
Para a temporada seguinte, em 2014/15, o Barcelona contratou seu ex-jogador Luis Enrique para o cargo de treinador e os craques Luis Suárez, Ivan Rakitic e o goleiro Marc-André ter Stegen, que foram os principais reforços de uma temporada histórica para o clube catalão, com cinco títulos e uma tríplice coroa (liga, copa e torneio continental). Essa foi a que muitos consideram a melhor temporada de Neymar e a que consolidou o ‘trio MSN’, composto pelo trio Messi, Suárez e Neymar na linha frontal do time. Neymar contribuiu diretamente para 49 gols (39 gols e 10 assistências) em 51 partidas e se tornou artilheiro da Liga dos Campeões ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo, com 10 gols, na campanha que conquistou pela primeira e única vez na carreira.
Em 2015, Neymar conquistou a sua primeira Liga dos Campeões da UEFA, marcando o último gol da final na vitória do Barcelona por 3 a 1 sobre a Juventus (Foto: Reprodução/Estadão)
A temporada 2015/2016 foi a melhor da carreira de Neymar em números, na qual o brasileiro teve 56 participações diretas em gols (31 gols e 25 assistências) em 49 jogos. O Barcelona manteve o padrão avassalador da última temporada, mas um El Clásico decidido por Cristiano Ronaldo há poucos minutos do fim inverteu a moral dos dois times. Pela Liga dos Campeões, o Barcelona vinha de uma vitória por 2 a 1 no Camp Nou contra o Atlético de Madrid e o Real Madrid de uma derrota por 2 a 0 fora de casa contra o Wolfsburg. Depois do confronto, o Real Madrid acabou sendo o campeão europeu naquela temporada e o Barcelona foi campeão da Copa del Rey e La Liga com apenas um ponto a mais que o rival, vantagem que era de 14 pontos antes do El Clásico.
Saída controversa e busca por protagonismo
A temporada de 2016/17 foi a última temporada de Neymar pelo Barcelona, na qual marcou 20 gols e deu 26 assistências. O Barcelona venceu a Copa del Rey, perdeu a liga para o Real Madrid e foi eliminado nas quartas de final pela Juventus na Liga dos Campeões, que também foi vencida pelo clube merengue. Porém, o ponto chave para a saída de Neymar foi a virada da derrota por 4 a 0 contra o PSG no jogo de ida pelas oitavas da Liga dos Campeões para 6 a 5, em vitória por 6 a 1 no Camp Nou.
Capa da edição impressa do Olé mostra desempenho fundamental de Neymar para classificação do Barcelona sendo ocultado pela figura de Messi (Foto: Reprodução/Uol)
Nessa partida, o Barcelona precisava de três gols aos 88 minutos de jogo, minuto que Neymar marca gol de falta, e marca mais um em pênalti sofrido por Suárez e dá a assistência para Sergi Roberto selar a classificação histórica. Na ocasião, Messi foi exaltado pela imprensa catalã e internacional, apesar do papel crucial de Neymar no jogo, que foi uma das razões que o levou a buscar novos ares na carreira.
Passagem polêmica
O clube escolhido para assumir o papel de protagonista foi o Paris Saint-Germain, que fez de Neymar a contratação mais cara de todos os tempos, pelo valor de €222 milhões. O PSG também se reforçou com Daniel Alves e a então mais nova revelação europeia, Kylian Mbappé.
Em 2017, Neymar era apresentado pelo PSG, onde jogou por seis temporadas (Foto: Reprodução/Lionel Bonaventure/AFP)
Neymar começou sua nova era no PSG com o pé esquerdo, quando pediu ao ídolo do clube Edinson Cavani para cobrar um pênalti em um jogo contra o Lyon, que foi perdido pelo atacante uruguaio, o que gerou revolta nos torcedores por ter chegado há pouco tempo. Na temporada seguinte, em 2018/19, Neymar se machucou às vésperas de uma decisão para o PSG na Liga dos Campeões e voltou ao Brasil para sair no carnaval, o que, novamente, gerou revolta e questionamentos sobre seu comprometimento.
A situação parecia melhorar com a primeira final de Liga dos Campeões da história do PSG, marcada por grandes atuações de Neymar, porém, a equipe acabou perdendo para o Bayern de Munique por 1 a 0, e o PSG foi vice-campeão.O grande objetivo do PSG é o título europeu, então, a situação de Neymar só piorava em função do investimento pago e das suscetíveis lesões, que aumentavam sua fama de descompromissado e o limitaram a jogar apenas 173 partidas pelo Paris Saint-Germain em seis temporadas, nas quais marcou 118 gols e 77 assistências.
Futuro em aberto
Desde o início da sua carreira, por conta da ascensão e talento consideradas ‘fora da curva’, os fãs de Neymar e admiradores do esporte esperavam mais da passagem dele na Europa. Em vários momentos, se especulava quando ou quantas vezes Neymar seria eleito o melhor jogador do mundo e se ele traria novamente a Copa do Mundo para solo brasileiro.
Por ‘azar’, diziam que ele dividiu época com Messi e Cristiano Ronaldo, porém, quando essa o auge dos dois acabou, Luka Modric, Robert Lewandowski e Karim Benzema foram eleitos os melhores do mundo ou com a Bola de Ouro da France Football, ou com o The Best da Fifa, jogadores mais velhos que Neymar. Erling Haaland pode ser o quarto jogador diferente desde a hegemonia Messi-Cristiano a receber algum dos prêmios em seis anos.
Em diversos momentos, Neymar poderia reverter o que muitos fãs consideram ter sido um erro: a decisão de ter se transferido para o PSG. Após melhoras nas campanhas europeias e a chegada de Messi em 2021, renovou em 2022 até 2027. Com a saída de Messi e o PSG em decadência, os fãs esperavam ansiosos por uma transferência para uma liga competitiva, como a Premier League, ou um improvável retorno ao Barcelona.
Em 2021, Neymar voltou a jogar com Messi no PSG por duas temporadas, mas, dessa vez, com Mbappé completando o trio (Foto: Reprodução/Site Oficial do PSG/en.psg.fr)
No entanto, o Barcelona vive um drama na questão financeira, tendo problemas, inclusive, para inscrever seus jogadores em La Liga e o PSG precisaria vender jogadores em função de uma possível saída de Mbappé a preço zero na temporada que vem, o que complicaria a situação do clube com o fair play financeiro da UEFA. Então, o clube não estaria disposto a vender Neymar por menos de €100 milhões, principalmente para um rival direto, preço considerado elevado no mercado para um jogador com a idade que Neymar possui, levando em consideração, também, o seu salário, que poucos clubes europeus estariam dispostos a pagar.
Então, aos 31 anos, idade considerada não tão elevada no futebol atual, Neymar aceita a alta proposta salarial do Al-Hilal para evitar tensão com o PSG em caso de permanência. Especula-se que a proposta gira em torno de €90 milhões para o PSG e €100 milhões por ano em um contrato de duas temporadas.
Porém, segundo informações do jornal francês L’Equipe, o brasileiro ainda espera disputar os grandes palcos do futebol mundial às vésperas da Copa do Mundo de 2026 – quando seu contrato com o Al-Hilal já estaria encerrado – indo na contramão do que os fãs pensam ser uma abdicação de seus objetivos – vencer o prêmio de melhor do mundo e a Copa do Mundo – ou uma “aposentadoria precoce”.
Foto destaque: Neymar comemora gol em pré-temporada com o PSG. Reprodução/PSG/divulgação