Pilotos se dividem sobre proposta para reduzir saltos dos carros na F1

Luísa Cury Por Luísa Cury
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Diante do crescente números de queixas dos pilotos da Fórmula 1 e após ouvir médicos, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), decidiu pela inclusão de medidas iniciais para amenizar os saltos, o chamado porpoising, nos carros nesta temporada, causados pelo novo regulamento técnico da principal categoria do esporte.

Os britânicos e companheiros de equipe Mercedes, Lewis Hamilton e George Russell, são os mais atuantes nas reclamações sobre o impacto dos saltos na saúde dos pilotos, claro, apoiaram a medida. Sergio Perez (RBR), foi contra o seu colega de time, Max Verstappen, e se posicionou a favor, assim como Pierre Gasly (AlphaTauri), Esteban Ocon (Alpine) e Lance Stroll (Aston Martin). Já Charles Leclerc ficou ao lado do atual campeão mundial.

A entidade irá analisar a prancha de madeira localizada no assoalho dos veículos e definirá um tamanho que delimita o nível aceitável na oscilação vertical dos mesmos. Este problema foi potencializado pela suspensão mais dura dos monopostos e as pistas acidentadas dos circuitos de rua das últimas etapas: GP de Mônaco (Monte-Carlo), Azerbaijão (Baku) e Canadá (Montreal), respectivamente.

É positivo que a FIA esteja trabalhando para tentar melhorar isso, porque esse será o nosso carro nos próximos anos. Não se trata de amenizar os quiques, mas nos livrarmos dele, para que futuros pilotos não tenham problemas nas costas no futuro. Não acredito que vá mudar muito, mas há muita coisa que precisa ser feita. É interessante ver as opiniões das pessoas, mas em última análise, a segurança é a coisa mais importante e ao menos um piloto de cada equipe falou sobre isso”, opinou Lewis Hamilton, que chegou a sofrer com a compressão de um nervo da coluna na última corrida, devido a esta questão.


George Russell (Mercedes) em coletiva de imprensa para o GP do Canadá, em Montreal. (Foto: Reprodução/GE)


Seu conterrâneo e colega de time, recém-chegado à equipe alemã, foi o primeiro a se queixar dos impactos do efeito porpoising à saúde dos pilotos. Na coletiva de imprensa do GP do Canadá, Russell reforçou seu posicionamento, embora não veja muita efetividade nas propostas iniciais da FIA: “Todos aqui queremos vencer, mas não podemos colocar nossos corpos em risco. Essa solução é mais como tapar o sol com a peneira, mas precisamos esperar para ver. Uma conversa maior é certamente necessária para avançarmos/ a FIA é que faz as regras e eles podem trazer as mudanças que quiserem, e nenhum de nós saberá se isso vai melhorar ou ter um efeito negativo em nosso desempenho. Espero que fique mais fácil de pilotar e não prejudique o desempenho de ninguém”, comentou.

No GP de Ímola (Emilia-Romagna), ele reclamou de dores nas costas e no peito, igual Carlos Sainz (Ferrari) e ainda criticou os rivais que não concordaram com a medida. “Obviamente, há muitas agendas aqui, de diferentes equipes e pilotos. Ouvimos Carlos [Sainz], Checo [Sergio Perez] e Max [Verstappen] reclamarem o quão ruim tem sido, mas agora que o desempenho deles está mais forte, eles não querem mudanças porque podem ser atrapalhados. É uma pena ver o desempenho ser priorizado em detrimento da segurança”, completou.

Além de convidar as escuderias da F1 para auxiliar na definição da métrica, a FIA também promoverá uma reunião de caráter técnico com elas para ajudar a construir outras medidas que podem reduzir os saltos à médio prazo.

Estou feliz que entenderam que esse é um assunto sério para nós. Não estamos aqui questionando só porque queremos reclamar de algo. Nós amamos o esporte e queremos tentar torná-lo um lugar melhor. É uma preocupação com nossa saúde, antes de performance. Há coisas que podem ser modificadas e afetariam em um grau muito, muito pequeno o desempenho de todos os carros”, comentou o francês Pierre Gasly.  

Outro francês, Esteban Ocon (Alpine), revelou temer que os saltos se agravem em outras pistas de rua, como Montreal (Canadá) e em Singapura, e parabenizou a entidade por ouvir os pilotos: “Esses carros estavam em circuitos que nem tinham tantas ondulações. Certamente doerá mais em Montreal e Singapura. Ouvi que a Fia está levando isso em consideração e devemos tentar deixar os carros melhores de pilotar, porque estamos andando no limite. Vi pilotos em pior forma do que eu estava no fim da corrida. É muito positivo que a FIA está tomando medidas para cuidar de nós”. 

Sergio Perez (RBR), que até chegou a reclamar dos saltos no seu carro, o RB18, nos treinos livres do GP do Azerbaijão, elogiou a Fia pela iniciativa: “Todas as equipes estão buscando equilíbrio e perseguindo a carga aerodinâmica desejável, e a maneira de fazer isso é abaixar o carro o máximo possível, mas há um limite. E se esse limite está sendo atingido, não é saudável para os pilotos, como alguns comentaram no último fim de semana. É bom a FIA intervir para tentar amenizar isto”.

Por fim, Lance Stroll (Aston Martin) o último dos que integra o grupo favorável a comentar, foi breve: “Isso não é sustentável por 23 corridas. Se for assim todos os anos, vai ser difícil para nosso corpo”, disse.

Já no lado contrário estão Max Vertappen e Charles Leclerc. O atual campeão mundial discordou da introdução de mudanças de regras no meio do campeonato: “Eu não me importo se isso vai nos ajudar ou atrapalhar. Não concordo com mudanças de regras no meio do ano. Claro que eu entendo a questão da segurança, mas se você falar com todos os engenheiros daqui, terá menos problemas se levantar o carro. Precisamos encontrar o limite com o qual é possível lidar com o próprio corpo, de olho no desempenho, mas não acho correto que ele agora seja necessário intervir e aplicar regras. Porque é simples: basta aumentar a altura do carro” – disse o holandês.

Aparentemente, o único ao seu lado, o monegasco reforçou o posicionamento do rival: “não concordo totalmente. É responsabilidade da equipe me dar um carro bom. Eu não tive nenhum problema com isso até agora. Nos encontramos soluções para melhorar isso. Claro que quando você vê, por exemplo, Lewis [Hamilton] saindo do carro em Baku, não parece nada bom. Mas deveríamos pegar dados de vários carros e analisar, porque não está sendo a mesma coisa para todos” – ressaltou.

 

Foto Destaque: Lewis Hamilton (Mercedes) em coletiva de imprensa para o GP do Canadá, em Montreal. (Foto: Reprodução/GE) 

 

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