O surfista brasileiro Márcio Freire morreu na tarde de hoje (5) enquanto surfava em Nazaré, Portugal. Ele sofreu um acidente ao descer de um “paredão”, grande onda, e não resistiu aos ferimentos. Ele foi atendido no local, mas já estava em parada respiratória. Conforme declarou Mário Lopes Figueiredo, comandante da Capitania de Nazaré à agência de notícias “Lusa”, “Lamentavelmente, nenhuma das manobras de suporte de vida teve sucesso, acabando o óbito por ser declarado no local.”
O surfista e amigo Vinicius dos Santos estava chegando na praia e testemunhou o atendimento. Em entrevista ao ge, ele narrou: “Eu estava indo surfar e, quando cheguei na praia, vi o movimento do carro de salva-vidas, de resgate. Vi uma movimentação que parecia uma ressuscitação. Larguei a prancha e saí correndo. Quando eu vi, era o nosso amigo. Todos tentaram trabalhar junto com ele. Não teve um momento de pausa, todo mundo fez o que pôde. O Márcio acabou nos deixando. Ele foi uma inspiração para a minha geração de surfista. Ele nos fez acreditar que era possível, juntamente com o Danilo (Couto) e com o Yuri (Soledade), os Mad Dogs. Eles desbravaram Jaws na remada, o que ninguém acreditava. Eu era menino, isso me motivou, me fez acreditar no meu sonho. Estou digerindo isso. Era uma pessoa próxima. Somos surfistas de ondas gigantes. O legado do Márcio será eternizado, ele influenciou uma geração e vai continuar influenciando, porque a história dele está aí. Fiquei chocado, mas não deixei de tentar ajudá-lo. É aceitar, rezar e apoiar os amigos aqui.”
Márcio tinha 47 anos e era surfista de ondas gigantes. Ele era parte do trio baiano conhecido como “Mad Dogs”, junto a Danilo Couto e Yuri Soledade. No início dos anos 2000, o grupo realizou o sonho de se mudar para o Havaí e desafiar as “jaws”, ondas gigantes, livremente, sem aparelhos de segurança como coletes salva-vidas e equipes de resgate. Além disso, alcançavam o topo nas ondas na remada, indo contra a tendência da época de fazer isso com um jet-ski. A audácia e o pioneirismo que lhes conquistaram o apelido traduzido como “Cachorros Doidos”. Os três se tornaram lendas do surfe de ondas gigantes e tiveram a trajetória explorada no documentário “Mad Dogs” do diretor Roberto Studart lançado em 2015.
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Apesar da trajetória inspiradora, Márcio não se sustentava do surfe. Em entrevista recente ao canal Let’s Surf, ele comentou: “Nunca vivi do surfe, nunca ganhei dinheiro com surfe. Tive pouquíssimas vezes, contadas no dedo, dinheiro que veio do surf: em 2015, tomei uma das maiores vacas, ganhei 1000 dólares, e quando rolou nosso documentário dos Mad Dogs que ganhei um dinheiro. Eu também tinha uns apoios ali, mas era mais soul surfer mesmo e não ligava muito. C como as empresas nos EUA não iam patrocinar um brasileiro e eu estava fora do Brasil, era mais difícil de negociar, e eu também não corria muito atrás porque estava me bancando, vivendo minha vida, e era aquilo mesmo, trabalhar pra me autosustentar e me autopatrocinar.”
Márcio costumava compartilhar as aventuras em sua conta no Instagram. Em agosto, lamentou um acidente em Bali, na Indonésia. “Não é nada fácil se machucar na primeira onda surfada do melhor swell da temporada. Depois de não conseguir pegar nenhuma onda das séries devido ao crawd local, resolvi apelar para uma intermediária que não me possibilitou de sair do tubo. Tomei uma pancada da prancha no braço e foi o fim da sessão. Mas tá tudo certo pois sei que no próximo vou estar remando novamente. Gratidão por ter sido apenas a pancada sem piores consequências como um corte profundo, quebra de ossos, etc…”
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Outros surfistas brasileiros já sofreram acidentes nas ondas de Nazaré, mas sobreviveram. Foi o caso de Pedro Scooby, em 2019, e Maya Gabeira, em 2013 e 2022. Segundo declaração dada pelo capitão do Porto de Nazaré à agência Lusa, trata-se da primeira morte ligada ao surfe nas ondas do local.
Foto Destaque: Márcio Freire em Supersuck, Sumbawa. Foto de Enrique Rodriguez. Rprodução/Instagram.