Atriz versátil e carismática, formada em Filosofia e Artes Visuais, Lidi Lisboa brilha ao longo dos anos em diversos segmentos na televisão, colecionando múltiplos personagens em sua carreira. Discreta, estreou nas novelas em A Padroeira (2001), atuando também em Malhação, Paraíso Tropical, Cheias de Charme, Império, entre outras produções da Rede Globo.
Em 2016, ingressou para a Rede Record, onde viveu uma antagonista em Escrava Mãe. Em 2017 atuou em Belaventura e deu vida à Jezebel, uma rainha icônica que a consagrou como protagonista na novela bíblica de 2019. No ano seguinte, em 2020, integrou o elenco de “A Fazenda 12”, ficando em sexto lugar na competição.

Nascida em Guairá, no Paraná, a artista também acumula passagens pelo cinema e pelo teatro, como ‘Bróder’ e as adaptações como ‘Bruta Flor’.
Em entrevista exclusiva ao In Magazine e capa da revista este mês, Lidi Lisboa abre o coração sobre sua carreira e vida pessoal. Entre aprendizados, desafios e escolhas ao longo de sua trajetória, a atriz compartilha os próximos projetos, sabedorias e fala sobre o sucesso de “A Sogra Que Te Pariu”, produção que ficou entre as mais assistidas do mundo na plataforma de streaming Netflix.

1- Você nasceu em uma sexta-feira 13 e carrega uma aura artística desde cedo. Como essa data simbólica e a influência da sua mãe, artista plástica, moldaram sua relação com a arte?
“Nascer numa sexta-feira 13 já é, por si só, um convite ao extraordinário — e eu aceitei o chamado logo no primeiro choro. Dizem que essa data carrega mistério, magia, reviravoltas. Eu prefiro dizer que carrega poesia.
Desde pequena, fui embalada por pincéis, cores e silêncios falantes. Minha mãe, artista plástica, não me ensinou só a desenhar com as mãos, mas a enxergar com o coração. Enquanto outras crianças brincavam de boneca, eu brincava de transformar nuvens em personagens e de dar som às texturas.
A arte, para mim, nunca foi escolha. Foi idioma nativo. E talvez, quem nasce numa sexta-feira 13 venha com uma lente especial: uma que vê beleza no improvável, sentido no caos e espetáculo até no acaso. Então, sim, nasci num dia encantado e desde então, sigo encantando o mundo com a bagunça linda que é ser artista.”
2- Além de atriz, você também é formada em Filosofia e Artes Visuais. De que forma essas áreas complementam e enriquecem sua atuação nos palcos e nas telas?
“A Filosofia me ensinou a fazer perguntas que doem e que libertam. A olhar para uma personagem não apenas pelo que ela faz, mas pelo que ela pensa, sente e silencia. Já as Artes Visuais me deram olhos múltiplos: vejo composições, cores, luz, gesto e espaço como uma coreografia sensível entre corpo e cenário.
No palco ou na tela, essas formações funcionam como bússola e pincel. A Filosofia afina minha escuta, aguça minha presença e me convida a mergulhar fundo nas contradições humanas. As Artes Visuais me ajudam a construir imagens vivas, a habitar poeticamente os espaços, a entender que cada movimento também é um traço.
Juntas, essas linguagens me transformam numa atriz que não apenas interpreta, mas que pensa, sente e pinta a cena com todos os sentidos.”

3- Ao longo da carreira, você transitou por diferentes formatos. Novelas, streaming, cinema e teatro. Como enxerga a evolução da atuação nesses meios e o que mais te desafia como artista hoje?
“Transitar por novelas, streaming, cinema e teatro é como falar vários dialetos da mesma língua: cada formato tem seu ritmo, sua respiração, sua intimidade com o público. Na novela, tudo pulsa rápido, é intensidade e entrega diária. No streaming, o foco está, na verdade, mínima do gesto, na câmera que vê até o pensamento. O cinema pede um tempo quase sagrado, de precisão e poesia. E o teatro… ah, o teatro é o agora absoluto, onde tudo acontece de verdade, diante de olhos que nunca serão os mesmos.
Vejo a atuação evoluir para um lugar cada vez mais sensível e real, menos técnica, mais escuta; menos forma, mais verdade. O que mais me desafia hoje é justamente isso: permanecer disponível. Estar inteira, presente, vulnerável. Porque, seja qual for o palco, a arte verdadeira exige coragem para se despir de certezas e vestir a pele de outro com delicadeza e alma. E isso, para mim, é o maior e mais bonito desafio de ser artista.”

4- Em “A Sogra que te Pariu”, você conquistou um público mais amplo no streaming. Como foi participar de uma comédia tão popular na Netflix e o que esse papel representa na sua trajetória?
“Participar de A Sogra que te Pariu foi um divisor de águas na minha trajetória. A série tem um humor popular, direto e afetivo, e justamente por isso alcançou tanta gente. Estar na Netflix, com essa vitrine global, ampliou meu alcance como atriz e me apresentou a públicos que talvez não me conhecessem de outros trabalhos.
Foi uma experiência deliciosa, desafiadora no melhor sentido: fazer rir exige entrega, tempo cênico e, sobretudo, verdade. O papel me permitiu explorar camadas do humor e também da relação familiar, que é algo muito brasileiro, muito nosso. Representa um momento de expansão, de conexão com o grande público, e de reafirmação do meu desejo de transitar por diferentes formatos e gêneros com autenticidade.”
5- Você já interpretou personagens marcantes em novelas históricas e contemporâneas. Como se prepara emocional e artisticamente para mergulhar em contextos tão distintos?
“Interpretar personagens em novelas históricas e contemporâneas é como viajar no tempo com o coração aberto. Cada contexto exige uma escuta atenta — tanto ao texto quanto ao silêncio da cena. Para os papéis históricos, mergulho em pesquisa: leio sobre o período, escuto músicas da época, vejo filmes e, principalmente, tento compreender o pensamento e o sentir daquele tempo. Não se trata só de figurino e linguagem, mas de uma alma moldada por outra realidade.
Já nas tramas contemporâneas, o desafio é capturar a verdade do agora, o gesto, o olhar, as urgências atuais. É quase como deixar que a personagem respire junto comigo no presente. Em ambos os casos, meu preparo emocional passa por disponibilidade e entrega. Eu me coloco inteira a serviço da personagem, com o corpo, a voz e a escuta. Porque, no fim das contas, não importa o tempo em que ela vive, ela sempre tem algo humano a revelar.”

6- Sendo uma artista múltipla, com experiências também como pintora e filósofa, como você equilibra essas facetas criativas no seu dia a dia? Existe uma que fala mais alto?
“Ser uma artista múltipla é como viver em várias frequências ao mesmo tempo, pintura, filosofia, atuação… cada uma me chama de um jeito, em momentos diferentes. A pintura me oferece silêncio, um lugar onde o gesto vale mais que a palavra. É onde eu escuto sem falar. Já a filosofia é a lente pela qual observo o mundo, me ajuda a dar profundidade às emoções, aos personagens, às perguntas sem resposta. E a atuação… a atuação é o meu grito, meu corpo inteiro em cena, é onde tudo isso se encontra e explode.
No dia a dia, não tento separar essas partes, elas se misturam. Tem dias em que o pincel fala mais alto, noutros é a filosofia que me atravessa, e em muitos, é a atriz que toma conta. Mas o segredo está em ouvir cada voz sem silenciar a outra. Talvez a atuação seja a síntese de tudo, o lugar onde posso ser todas ao mesmo tempo.”

7- Com mais de 1,3 milhão de seguidores, como você lida com a exposição nas redes sociais? Qual a sua relação com o público digital e como isso influência sua arte?
“Ter mais de 1,3 milhão de seguidores é uma bênção e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade. A exposição nas redes sociais exige cuidado, presença e, acima de tudo, verdade. Eu vejo o público digital como uma extensão da plateia, com a diferença de que, nesse palco, o diálogo é constante e imediato.
Procuro usar esse espaço com consciência: compartilhar momentos reais, bastidores do meu trabalho, reflexões que me atravessam, mas também silenciar quando preciso me preservar. A conexão com quem me acompanha é linda, muitos me escrevem dizendo que se sentem inspirados ou acolhidos, e isso, para mim, já vale tudo. Em relação à arte, as redes sociais ampliam horizontes. Elas me aproximam de diferentes vozes, vivências, referências. E, ao mesmo tempo, me desafiam a manter a essência em meio ao ruído. Meu compromisso é continuar sendo artista com alma, mesmo diante das mil telas.”

8- Já tem algum trabalho futuro que possa contar para gente?
“Graças a Deus várias coisas ao mesmo tempo, mas por hora, prefiro não dizer ainda.”
9- Tem algum objetivo que ainda queira muito conquistar na TV/CINEMA?
“Sim, muitas coisas.”
10- Existem artistas que você tem vontade de trabalhar nas telinhas?
“Viola Davis, sou apaixonada por ela. Seria maravilhoso também fazer um trabalho com minha mãe.”
Créditos
Atriz: @lidilisboaoficial
Fotografia: @clararoch
Filmmaker: @mrproducoesaudiovisuais
Stylist: @luanventilari
Make @zuhribeirobeauty_
Participação: @caio.raposo
Produtora Executiva: @anamelia_16
Assessoria Pessoal: @anameliacaserta_
Entrevista: @eupatrickmachado
Editora Chefe: @lorenalouisy
Capa: @pegabrel
Repórter: Patrick Machado