Entre afeto e atitude: as tendências que marcaram a 56ª Casa de Criadores

A moda como ferramenta de memória, resistência e experimentação guiou os desfiles que tomaram o Centro Cultural São Paulo, entre os dias 22 e 27 de julho, na 56ª edição da Casa de Criadores. Com olhares voltados para o futuro, sem abrir mão das raízes e das urgências do presente, estilistas apresentaram coleções autorais que […]

29 jul, 2025
Foto destaque: Desfile das marcas NALIMO, Le Benites e de Jal Vieira (Reprodução/Instagram/@casadecriadores)
Foto destaque: Desfile das marcas NALIMO, Le Benites e de Jal Vieira (Reprodução/Instagram/@casadecriadores)
Desfile das marcas NALIMO, Le Benites e de Jal Vieira

A moda como ferramenta de memória, resistência e experimentação guiou os desfiles que tomaram o Centro Cultural São Paulo, entre os dias 22 e 27 de julho, na 56ª edição da Casa de Criadores. Com olhares voltados para o futuro, sem abrir mão das raízes e das urgências do presente, estilistas apresentaram coleções autorais que evidenciam as principais tendências de comportamento e estilo que devem reverberar além das passarelas.

Afeto como linguagem estética

Mais do que cortes e tecidos, o afeto foi uma das principais matérias-primas da temporada. Jal Vieira emocionou o público ao transformar a passarela em um espaço íntimo de homenagem à sua tia-mãe. As peças em tons de azul e preto, adornadas com tapeçaria, volumes e camadas, evocaram a memória como estrutura criativa. O mesmo tom poético permeou o desfile de Le Benites, que resgatou imagens da infância em uma coleção com silhuetas suaves e estética acolhedora.


Desfile da marca de Jal Vieira (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)


Na mesma sintonia, a Jacobina resgatou a história de mulheres negras invisibilizadas pela sociedade em uma coleção que transformou o esquecimento em presença. O uso de materiais como carvão e papel pardo, em colaboração com a artista Lucelia Maciel, deu peso simbólico às criações e reforçou a tendência da moda como manifestação de memória coletiva.


Desfile da marca Jacobina (Foto: reprodução/Instagram/@jacibinaofficial)


Sustentabilidade com identidade

A urgência ambiental também se impôs como pauta transversal nos desfiles. Nalimo apresentou uma reverência contemporânea à trajetória de Chico Mendes, utilizando látex natural e couro de pirarucu em peças utilitárias e orgânicas. Já a marca Beirimbau se inspirou nas quebradeiras de coco babaçu do Maranhão para construir uma coleção que celebra a autonomia feminina e os saberes ancestrais, por meio de tecidos leves e volumes que remetem a trançados manuais.


Desfile da marca Nalimo (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)


O reaproveitamento e a circularidade também se destacaram como tendência de estilo e consciência. Referência em upcycling, Le Benites reafirmou seu domínio técnico e criativo ao transformar materiais reaproveitados em peças com forte apelo visual e simbólico, incluindo camisetas com mensagens provocativas.


Desfile da marca Le Benites (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)


Rebeldia e teatralidade em alta

A temporada também foi marcada por uma explosão de ousadia estética. Fkawallyspunkcouture uniu o punk à opulência árabe e à exuberância dos anos 70 em uma coleção de confronto e liberdade. As peças douradas, bordadas e volumosas reafirmaram a teatralidade como um elemento essencial da moda atual. Filipe Freire seguiu a mesma toada com “FIRE”, sua coleção inspirada no elemento fogo, composta apenas por correntes de metal, sem tecidos, sem suavidade, com muita atitude.


Desfile da marca Fkawallyspunkcouture (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)


NotEqual, por sua vez, trouxe a leveza do universo circense, reinterpretando o espetáculo com padronagens inusitadas e uma alfaiataria desconstruída que mescla fantasia e técnica. O streetwear também apareceu revisitado na coleção da UMS 458, com bombers, moletons autorais e modelagens ousadas que aliam conforto e autenticidade.


Desfile da marca NotEqual (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)


Moda como espaço de cura, discurso e pertencimento

A pluralidade de vozes e narrativas foi, mais uma vez, o grande trunfo da Casa de Criadores. De coleções que celebram religiões de matriz africana, como a “Ode Kaiodè” de Mônica Anjos, até estreias como a de Guilherme Paganini, com silhuetas arquitetônicas e referências ao design japonês, o evento mostrou que as tendências da moda brasileira não se resumem a cortes e cores: elas estão na escolha dos símbolos, dos corpos representados e das histórias que se recusam a ser silenciadas.

A 56ª edição da Casa de Criadores termina com um recado claro: vestir-se é também um ato político, afetivo e imaginativo. E o futuro da moda, mais do que nunca, passa por quem ousa criar com verdade, propósito e liberdade.

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