O estilo Mandrake que explodiu atualmente

Ana Júlia Costa Por Ana Júlia Costa
5 min de leitura

As Mandrakas (ou Mandrakes, no masculino), como entendemos, são jovens periféricas que chamam atenção pelo seu estilo, e que, quase sempre, usam elementos associados ao funk. 

 

A pessoa coloca um Juliet na cara e fala ‘pronto, estou funkeiro’. Acham que basta qualquer elemento visual clichê para se dizer Mandrake“, comenta Fernanda Souza, multiartista que já colaborou com a Nike e com a produtora de funk, KondZilla.

 

O tal Juliet, famoso óculos com lentes espelhadas da marca Oakley, é um dos acessórios mais associados ao estilo. Ao lado de camisas de times de futebol, gola polo, correntes grossas, tênis de molas e sobrancelhas chaveadas – com cortes suaves na lateral – ele forma o “kit Mandrake”.

 

O visual não é tratado como um estilo renomado ou digno estar em editoriais refinados de moda, mas como um personagem exótico, ideal para garantir algumas visualizações pela internet. Como é um estilo que nasceu nas periferias, e diante do nosso quadro atual político e social , esse movimento tem como consequência a disseminação equivocada de uma expressão cultural, e o apagamento de quem realmente compreende o que essa manifestação significa. 


(Foto: modelos no estilo Mandrake. Reprodução/RevistaGlomour)


Começaram a aparecer muitas meninas brancas, fazendo qualquer trend, com camisa de qualquer time, usando qualquer óculos. É como se a gente fosse uma fantasia, como se fôssemos umas palhaças. As pessoas podem vestir as roupas, mas, nesse caso, usam para estereotipar, para parecer que pertencem a um determinado grupo. Elas nem sabem que usar uma camisa da Cyclone, onde eu moro, pode te fazer levar um enquadro“,  constata Fernanda.

O stylist, diretor criativo e fotógrafo Samir Bertoli, comenta sobre a moda e como ela é vista por outras pessoas. “É o que acontece com qualquer estética que venha de grupos oprimidos. Sempre vão ver toda a cultura produzida por essas pessoas como algo feio e animalesco, porque não as enxergam como seres humanos em plenitude. Para eles, nós viemos da periferia, e tudo aquilo que vem da periferia é feio e bárbaro. Vamos sempre ser alvo de escárnio e zombaria para essas pessoas”, destaca.

 

As RPs

Todo mundo gosta de uma roupa boa, por que com a gente seria diferente? É inegável que certas coisas são bonitas, queremos andar bem-arrumados. Entra toda essa questão de desigualdade, então, a alternativa é usar RP [réplicas]. Não é acessível, mas a gente quer, então nós vamos usar”, reflete.

 

Eu sou defensor e acho digno o uso das réplicas, é aquela coisa: não se trata da peça de luxo em si, mas do que ela representa, e isso está atrelado com o desejo e supervalorização dessas grifes. Existe o sonho de consumo dessas marcas, porque o acesso a elas representa uma ascensão social e de poder socioeconômico. Quem são as pessoas que conseguem entrar em uma boutique de luxo e dar R$12.000,00 em uma jaqueta da Burberry?”, questiona Samir. 

 

Muito antes das redes sociais

Apesar dos termos ‘Mandrake’ e ‘Mandraka’ terem se popularizado nesse período pandêmico, a estética é antiga. O motivo é que todo esse visual é um movimento atrelado ao funk, que deu seus primeiros passos na década de 70 e explodiu em 80, com o pioneiro DJ Malrboro incendiando as pistas acompanhado por suas batidas pulsantes. Lá no começo, quem curtia o funk era chamado de ‘funkeiro’ mesmo. No início dos anos 2000, aconteceu a popularização das expressões ‘Chavosos’ e ‘Chavosas’. 

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Milena Nascimento, estilista da Mile Lab, acredita que a estética Mandrake é a tradução do que é ser essencialmente periférico. “A estética Mandrake carrega a personalidade da favela para o mundo. Ela foi construída a partir do funk, tem por fundamento a busca por reconhecimento, pertencimento e respeito”, comenta.

 

 

 

Foto destaque: modelo utilizando os óculos Julietes. Representação/RevistaGlamour.

 

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