Vogue Americana faz reflexões sobre apropriação cultural na moda

Helena Serpa Por Helena Serpa
3 min de leitura

Na última edição da Vogue Americana, o jornalista nativo-americano Christian Allaire trouxe à tona uma discussão crucial que há muito tempo ecoa na indústria da moda: a apropriação cultural. Com base em suas próprias experiências como membro da comunidade Ojibwe, Allaire lançou luz sobre como a cultura indígena, muitas vezes, é transformada em uma mera “fantasia” para a moda, desencadeando um debate sobre a autenticidade e a ética por trás das influências culturais na indústria.

A apropriação cultural na moda não é um fenômeno novo. Desde o movimento chinoiserie, no século XVIII, quando designers europeus se inspiraram em motivos chineses, até os anos 1990 e 2000, quando coleções de inspiração chinesa e fantasias de gueixa eram comuns nas passarelas. A indústria adotou frequentemente elementos de culturas minoritárias de maneira insensível em muitas ocasiões.

Mudança de consciência

Contudo, recentemente, a moda parece estar passando por uma reviravolta. Impulsionada por movimentos sociais, como o Black Lives Matter, e pela busca por uma maior autenticidade, a indústria está se esforçando para abraçar a diversidade cultural de maneira respeitosa e colaborativa, como ressalta Christian Allaire.

Aurora James, fundadora da marca Brother Vellies, está liderando o caminho ao colaborar diretamente com artesãos de várias comunidades, produzindo sapatos e bolsas que celebram tradições autênticas. Da mesma forma, a designer Maria Grazia Chiuri, da Christian Dior, tem trabalhado ativamente para derrubar as marés da apropriação, colaborando com artesãos de diferentes regiões do mundo e incorporando suas técnicas únicas em suas coleções.


Atriz Rehka em ensaio para a Vogue Arabia (Reprodução/Instagram/@voguearabia)


No entanto, a jornada em direção à autenticidade não é isenta de desafios. À medida que os consumidores buscam designs mais genuínos, ainda há confusão sobre quem pode usar o quê. Christian Allaire e outros especialistas recomendam um pouco de “lição de casa” adicional: entender o contexto de uma peça, conhecer sua história e considerar se ela foi criada por pessoas das culturas de origem.

Futuro da moda consciente

Enquanto as marcas se tornam mais cautelosas para evitar a apropriação cultural e consumidores exigem autenticidade, espera-se que o mercado de opções apropriativas na moda, eventualmente, diminua. A esperança é que as peças de apropriação cultural se tornem raridades, símbolos de uma era passada, enquanto a moda se movimenta em direção a uma maior conscientização, respeito e inclusão cultural.


O sari, vestimenta cultura da Índia, apareceu na Vogue coreana com modelos indianas (Reprodução/Instagram/@voguekorea)


Ao passo que a indústria da moda navega nesse território complexo, uma coisa é clara: a conversa sobre apropriação cultural não está mais restrita a debates internos, mas se tornou uma parte essencial do diálogo público sobre diversidade, inclusão e ética na moda.

Foto destaque: Halima Aden para a Vogue Arabia em maio. Reprodução/Instagram/@voguearabia

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