A genialidade de Elsa Schiaparelli, que transformou o mundo da moda ao fundir arte e alta-costura, ganha destaque no documentário ‘O Álbum Privado de Elsa Schiaparelli’. Com coprodução brasileira, a obra explora os aspectos mais pessoais da estilista italiana, conhecida por sua ousadia criativa e espírito rebelde.
Narrado por sua neta, a atriz e modelo Marisa Schiaparelli Berenson, o filme apresenta um olhar intimista sobre uma figura que, mesmo décadas após sua morte, mantém um véu de mistério.
O documentário, produzido pela jornalista e pesquisadora de moda, Antonia Petta, ao lado do cineasta, Gabriel Dietrich, foi baseado no livro homônimo de Marisa Schiaparelli, Elsa Schiaparelli’s Private Album, publicado há uma década.
Produção intimista
A produção combina imagens inéditas do acervo pessoal de Elsa com depoimentos emocionantes, revelando momentos marcantes de sua trajetória. Desde a infância, em que se sentia como o “patinho feio” da família, até sua transformação em uma das estilistas mais inovadoras do século XX, conhecida por romper convenções da moda desde 1930.
Sua neta, a atriz e supermodelo Marisa Schiaparelli Berenson foi uma colaboradora intensa para produção do documentário. De maneira intimista, Marisa é a voz que narra a obra, lendo e comentando trechos do livro enquanto revela dados que nunca foram expostos, além de compartilhar suas impressões pessoais sobre a trajetória de sua avó, ou como gostava de ser chamada, segundo a neta, o simples “Schiap”.
Além disso, a casa de moda também colaborou com o filme. O Departamento de Herança da Maison Schiaparelli em Paris, foi responsável por disponibilizar materiais do arquivo que enriqueceram ainda mais a produção.
Não apenas uma visão simplista sobre vestuário, o documentário oferece uma visão completa sobre vida de Elsa, além de instigar os “porquês” do jeito singular da designer de pensar, criar e viver. Diferente de outras dezenas de publicações dedicadas ao seu impacto e legado, que falham sobre contar histórias a partir de uma visão superficial.
Apego ao movimento surrealista
Sua personalidade é construída a partir do movimento surrealista, que já dizia muito de si por se tratar de um movimento que exaltava a valorização do inconsciente e do pensamento livre nas artes visuais, traduzido e transformado em um expoente para o mundo da moda por Elsa.
“Ela se sentia como um pássaro em uma gaiola”, diz Marisa Schiaparelli Berenson, neta da estilista, em um depoimento do documentário, o que afirma o lado existencialista da estilista, além de solidificar seu legado como uma artista à frente de seu tempo.
As coleções criadas por Elsa Schiaparelli foram ambientadas a partir de conceitos revolucionários, mesmo em uma época ainda conservadora. A estilista italiana, radicada em Paris, foi responsável por desafiar as convenções da moda ao fazer parte do movimento surrealista e explicitar em suas criações.
Ela foi capaz de transformar a forma de como as roupas eram percebidas, e se aventurar na junção de moda e arte, unindo-se a ícones como Salvador Dalí, Jean Cocteau e Man Ray, desde 1935.
Criações que desafiavam as normas
Entre suas criações subversivas mais icônicas está o Lobster Dress, de 1937, desenvolvido em colaboração com Salvador Dalí – usado pela Duquesa de Windsor – que sintetiza a fusão entre moda e surrealismo em meio a uma estampa de uma lagosta vermelha que se decalca na seda creme, outro exemplo seria o vestido de rabanete de 1949, que ressalta o pioneirismo de Schiaparelli.
Elsa também é responsável pela introdução do vibrante tom rosa-choque, que se tornou uma assinatura na moda e continua influente até hoje.
Além de criar formas de fazer moda, Elsa com seu espírito subversivo tomava decisões audaciosas que desafiavam regras dentro do mercado fashion da época. Exemplo disso foi o abandono dos tradicionais botões como fechamento das roupas e optar pelo zíper, um acessório que antes era considerado vulgar para a alta costura.
Um caminho que não apenas desafiava as normas, mas também abria caminhos para novas possibilidades de design e expressão pessoal na indústria, inspirando designers e criadores ao redor do mundo.
O documentário conecta uma ponte entre Elsa Schiaparelli e as criações do atual diretor criativo da marca, Daniel Roseberry. De um lado, a efeméride do centenário do Manifesto Surrealista de André Breton para o momento atual, onde vemos a ressurgência da influência surreal na moda.
O Álbum Privado de Elsa Schiaparelli será disponibilizado gratuitamente nas plataformas digitais da Biblioteca Mário de Andrade no início de 2025.
Mais do que uma homenagem, O Álbum Privado de Elsa Schiaparelli é uma janela para a mente visionária de uma mulher que redefiniu a moda e a liberdade criativa. Assim, a partir dessa combinação de relatos pessoais e registros históricos, o documentário se torna uma homenagem poderosa à figura icônica que foi Elsa Schiaparelli, permitindo que novas gerações conheçam sua genialidade e legado.