No final da última semana deu início a maior semana de moda da América Latina, a São Paulo Fashion Week. Com um line-up recheado de marcas e projetos nacionais, a programação do desfile continua a cumprir seu propósito histórico de reafirmar a criatividade e cultura nacional na indústria da moda. Etiquetas como Catarina Mina, Artemisi e Bold Strap trouxeram a vanguarda fashion brasileira para seus desfiles. Confira esses e outros destaques abaixo.
Martins e o maximalismo da cultura pop
Com a ambientação nas mãos do som inglês subversivo big-beat da banda Prodigy, o desfile da Martins trouxe a paixão de seu criador por cultura pop para as passarelas. Com uma mescla entre “Matrix” (1999) e a estética futurista de Thierry Mugler e Rick Owens, Tom Martins construiu a inspiração para sua criação cheia de babados, ilusões de ótica, xadrez e muitas, mas muitas sobreposições.
Martins para SPFW Nº58 (Foto: reprodução/Maurício Santana/Getty Images Embed)
Com um mergulho também na cultura hippie das décadas de 1960 e 1970, a coleção contou com uma colaboração com a marca clássica de jeans Levi’s, por isso a presença de muitas calças amplas, jaquetas e coletes estruturados e composições em camadas – característica carimbada da Martins.
O sonho artesanal de Catarina Mina
A coleção “Herdeiras do Futuro”, produzida pela estilista Celina Hissa em conjunto com mais de 30 artesãs nordestinas, trouxe o habitual, e magnífico, frescor do trabalho manual, com crochê, macramê, bordado e renda de bilro, e a novidade da borracha da Amazônia – material que remete ao neoprene, em colaboração com a marca paraense Da Tribu, ajudou a compor franjas que foram aplicadas em tops, vestidos e bolsas da coleção.
Os 35 looks que brilharam na passarela estavam baseados na paleta de cores predominada pelo vermelho, off-white, dourado e por alguns tons de azul. Para completar visual e adicionar ainda mais brasilidade para a estética, no pés, modelos usavam Havaianas de diversas cores.
Provocação sofisticada com a Bold Strap
Assinada por William Cruz, a coleção apresentada pela Bold Strap nesta edição do SPFW trouxe o marcante DNA da marca mais uma vez: com correntes, cordas e muitos brilhos, a etiqueta ofereceu uma abordagem mais refinada ao fetichismo.
Bold Strap para SPFW Nº58 (Foto: reprodução/Maurício Santana/Getty Images Embed)
Com sua musa Camila Queiroz sempre presente, a marca brincou com a tensão entre sensual e prático, e desfilou peças para além do underwear. Vestidos, calças, jaquetas e camisetas também reafirmaram a estética provocadora da marca.
Artemisi caminha pela fronteira entre moda e arte
Vinte e seis looks defendem a caracterização de high fashion da Artemisi. A coleção apresentada na quinta-feira (17) na SPFW mostrou o porquê da etiqueta tradicionalmente passear despreocupadamente entre a fina linha que separa moda e arte.
“Não faço roupa para loja, faço roupa que tem um quê de arte.”, afirmou a diretora criativa da marca Mayari Jubini, depois do encerramento de uma apresentação de uma coleção que aborda desde do movimento da arte cinética, oriunda da década de 1950, até a obsessão pelo futurismo atual. Mas, se engana quem pensa que os looks super tecnológicos não necessitaram de mãos humanas em sua produção. Algumas peças precisaram de muito trabalho manual – os efeitos de vidro quebrado ou de água pingando em bustos e casacos, são pinturas feitas à mão – e meses de confecção.
A brincadeira com efeitos visuais, texturas tridimensionais e formas surrealistas proporcionaram ao público um espetáculo aplaudido de pé.
O Pará estreia em São Paulo com a Normando
Estreante na SPFW, a Normando levou a coleção “Vândalos do Apocalipse”, uma interpretação da cultura paraense com tempero urbano para a passarela paulista.
Normando para SPFW Nº58 (Foto: reprodução/Maurício Santana/Getty Images Embed)
Estampas de escamas de tucunaré e pirarucu foram aplicadas em vestidos de seda, juntamente de um bustiê feito de cuias de tacacá e camisa de smoking com jabô, toda indumentária necessária para refletir a visão que inspirou Marco Normando: os filósofos modernistas que se reuniam no mercado Ver-O-Peso, em Belém, nos anos 1920.