Foi com um desfile inteiramente branco que Lino Villaventura abriu a 59ª edição da São Paulo Fashion Week. A escolha da cor, que à primeira vista pode parecer simples, revelou um universo cheio de detalhes complexos e sofisticados. Não é a primeira vez que o estilista usa o branco como protagonista. Quem acompanha o SPFW desde os anos 2000, talvez se lembre do desfile icônico em que ele já havia feito esse mesmo mergulho etéreo.
Mas agora, o branco ganhou novos elementos. Entre os tecidos, surgiram coletes com cara de tweed e acabamentos desfiados, bordados com pérolas aplicadas uma a uma. Esses toques manuais trouxeram uma beleza imperfeita e intencional, criando uma sensação de rusticidade que contrasta com a delicadeza da cor.
Cortes de um mestre do detalhe
Para quem observa o trabalho de Villaventura de perto, os cortes e recortes precisos, as armações que moldam o corpo e as nervuras que desenham movimento já são marcas registradas. Mesmo quando tudo é branco, é fácil reconhecer sua identidade visual: nada é simples demais, mesmo quando parece.
Além disso, os tecidos ganham corpo com construções que lembram esculturas — algo que exige técnica avançada de modelagem e muito controle de caimento. Essa é uma das razões pelas quais o estilista é considerado um mestre da moda autoral no Brasil.
Coleção de Lino Villaventura no São Paulo Fashion Week N59 (Vídeo: reprodução/Instagram/@linovillaventura, @ambulatoriodamoda)
Das florestas encantadas às muralhas medievais
Depois da abertura, o desfile mergulhou em uma paleta que já é mais familiar para quem conhece a estética multicolorida de Villaventura. Vestidos fluidos, com tons de verde, marrom e roxo, trouxeram à passarela uma sensação de floresta encantada. Mulheres-ninfas cruzaram a passarela com tecidos leves e bordados em forma de mosaicos. Uma das peças que mais chamou atenção foi um vestido usado por Carmelita, todo coberto com fragmentos de tecido colorido, como se contasse uma história através das texturas.
E como se não bastasse esse clima mágico, a coleção caminhou para uma parte mais dramática. O tom medieval entrou em cena com roupas estruturadas e fechadas por fivelas, tiras de tecido ou cetim bordado com pérolas negras. Algumas dessas pérolas, aplicadas sobre couro, tinham a aparência de tachinhas metálicas. Na cabeça, balaclavas que evocavam guerreiros ou até personagens de séries como Game of Thrones.
Coleção de Lino Villaventura no São Paulo Fashion Week N59 (Vídeo: reprodução/Instagram/@linovillaventura)
O impacto visual foi grande, mas a assinatura do estilista continua inconfundível. Lino Villaventura segue sendo um dos nomes mais teatrais da moda brasileira. Seu trabalho mistura técnica de alta costura, experimentação artística e uma sensibilidade rara para criar narrativas através da roupa. A abertura do SPFWN59 foi mais do que um desfile: foi uma lembrança de que moda também pode ser poesia em movimento, ainda que, às vezes, venha vestida de armadura.