Rober Dognani resgata memórias e cria coleção teatral

Rober Dognani chega à 56ª edição da Casa de Criadores trazendo uma narrativa profundamente pessoal: as histórias da sua família, entre mitos e memórias, foram a inspiração central para sua nova coleção. Os eventos traumáticos e emocionais, como a vida da “nonna cega” deixada em solo espanhol e relatos de infância marcantes, servem como combustível […]

27 jul, 2025
Foto destaque: Desfile de Rober Dognani. (Reprodução/Instagram/@roberdognani)
Foto destaque: Desfile de Rober Dognani. (Reprodução/Instagram/@roberdognani)
Rober Dognani

Rober Dognani chega à 56ª edição da Casa de Criadores trazendo uma narrativa profundamente pessoal: as histórias da sua família, entre mitos e memórias, foram a inspiração central para sua nova coleção. Os eventos traumáticos e emocionais, como a vida da “nonna cega” deixada em solo espanhol e relatos de infância marcantes, servem como combustível criativo. Ele revisita essas memórias com peças que flertam entre o barroco, o renascentista e o vampiresco, recriando silhuetas dramáticas, capas volumosas, jaquetas de ombros marcantes, vestidos semitransparentes e a célebre aplicação de látex com bordados, pedraria e renda.

A estética de inspiração gótica e clássica se mistura com volumes exagerados e elementos de styling impecáveis. A colaboração com Felipe Fanaia trouxe calças jeans oversized e pieces estruturadas que criaram contrastes visuais potentes na passarela.

Silhuetas exageradas, látex e teatralidade

A coleção é um espetáculo visual: volumes amplos, ombreiras marcantes, camadas contrastantes e muito uso de látex, agora enriquecido com texturas e transparências. Vestidos semitransparentes, exibição de partes do corpo estilizadas e cortes arquitetônicos dialogam com uma direção de arte pensada como performance.

A trilha sonora, uma versão da clássica “I Will Survive” de Gloria Gaynor, reforça o espírito sobrevivente do desfile, uma declaração de permanência e potência na moda autoral brasileira. A técnica de styling ficou a cargo de Flávia Pommianosky e Davi Ramos, sem definição prévia do que cada estilista faria, resultando em uma colagem dramática, coesa e surpreendente na passarela.


Casa de Criadores: desfile de Rober Dognani (Foto: reprodução/Instagram/@mosomagazine)


Do íntimo ao coletivo: moda como linguagem emocional

Ao transformar suas memórias familiares em peças esculturais, Dognani reforça a potência da moda como meio de expressão emocional e política. A passarela não é apenas um lugar de exibição, mas um espaço de cura, reencontro e afirmação identitária. Através de rendas, volumes e transparências, o estilista constrói uma narrativa que atravessa gerações conectando o passado de sua família à contemporaneidade do design brasileiro. É uma moda que emociona porque carrega verdade: cada look é também um gesto de memória, um corpo que insiste em existir.

Rober Dognani mais uma vez comprova seu papel de criador performático: suas peças transcendem roupa e se tornam narrativa emocional sobre ancestralidade, perda e resistência. A dramática coleção arquitetada para a 56ª Casa de Criadores celebra não apenas o estilo, mas também a memória ousada, teatral e profundamente afetiva.

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