O Bank for International Settlements (BIS), conhecido como o banco central dos bancos centrais, emitiu seu alerta mais duro até o momento sobre os riscos representados pelas stablecoins. Em um capítulo antecipado do relatório anual que será divulgado no próximo domingo (29), a instituição conclama os países a avançarem rapidamente na tokenização de suas moedas soberanas como resposta às ameaças crescentes do mercado de criptoativos.
Entre os principais riscos destacados pelo BIS estão o potencial das stablecoins de minar a soberania monetária, a falta de transparência quanto aos ativos que lastreiam essas moedas e o risco de fuga de capitais em economias emergentes.
O posicionamento da entidade ocorre poucos dias após o Senado dos Estados Unidos aprovar um projeto de lei que cria um marco regulatório para stablecoins atreladas ao dólar. A proposta, se confirmada pela Câmara, poderá impulsionar ainda mais a adoção dessas moedas digitais — que já movimentam mais de US$ 260 bilhões (R$ 1,42 trilhão), sendo 99% atreladas ao dólar.
Críticas à estabilidade e à transparência
“As stablecoins não conseguem se equiparar ao dinheiro sólido”, aponta o relatório. Segundo Hyun Song Shin, conselheiro econômico do BIS, esses ativos digitais não oferecem o mesmo nível de segurança e estabilidade nas transações que os bancos centrais garantem
Ele alerta ainda para o risco de colapsos, como o ocorrido com o TerraUSD (UST) e a criptomoeda LUNA em 2022, que provocaram “vendas de emergência” dos ativos que sustentavam o sistema.
Outra grande preocupação é a opacidade sobre quem controla o lastro dessas moedas.
Sempre haverá incerteza quanto à solidez do ativo que garante o valor da stablecoin. O dinheiro está realmente lá? Onde ele está?”, questionou Andrea Maechler, gerente geral adjunta do BIS.
Tokenização como solução

Como alternativa, o BIS sugere a criação de um sistema unificado e tokenizado, que integraria, em uma só plataforma digital, as reservas dos bancos centrais, os depósitos bancários e os títulos públicos. A ideia é que as moedas nacionais passem a ser emitidas em formato programável, permitindo liquidações de pagamentos e negociações de forma quase instantânea, com mais eficiência, menor custo e maior segurança.
Esse novo modelo, segundo o BIS, tornaria o sistema financeiro global mais transparente, resiliente e interoperável, ao mesmo tempo em que protegeria a economia dos riscos trazidos por criptoativos pouco regulados.
A realização de todo o potencial do sistema exige uma ação ousada”, afirmou Agustín Carstens, diretor-geral do BIS, que está em sua última semana no cargo.
No entanto, a implementação de uma infraestrutura digital global enfrenta obstáculos significativos, como a preservação da soberania regulatória de cada país e a complexa definição das regras de governança que irão orientar o funcionamento da plataforma.