No ano de 2023, o Brasil somou um total de US$ 339,7 bilhões com as exportações, um valor histórico que pode ser calculado como resultante das relações comerciais expandidas com a China (que sozinha foi responsável por aproximadamente US$ 104 bilhões do montante).
Segundo analistas da economia, trata-se de uma balança comercial extremamente favorável para o país, mas ao custo de uma grande dependência da China e sua esfera geopolítica. Quando somados também os países na zona de influência chinesa (Singapura, Malásia, Tailândia, Vietnã e Indonésia) a porcentagem de exportações brasileiras sobre para 37,9%.
Até pouco tempo atrás, as exportações para a China haviam caído em decorrência das políticas de restrição da pandemia, mas em 2023 o número voltou a crescer, e deve continuar em bom patamar nos próximos três anos, mesmo com a desaceleração da economia chinesa. No entanto, alguns especialistas apontam riscos para o Brasil no longo-prazo, como o estreitamento das exportações brasileiras para as necessidades especificamente chinesas, se acostumando a um padrão que não se reflete nos mercados internacionais.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês Xi Jingping já assinaram vários acordos comerciais (Foto: reprodução/PR/Ricardo Stuckert)
Commodities
Longe de ser uma tendência recente, o Brasil há duas décadas tem se especializado nas exportações, perdendo a diversidade de mercadorias, e focando muito mais nas indústrias extrativistas e de agropecuária (ou seja, no setor primário). As principais commodities brasileiras exportadas, por exemplo, são a soja, o minério de ferro, e o petróleo – todos setores nos quais a China importa do Brasil.
“No médio e longo prazo, é complicado depender tanto das exportações de commodities a um único país, seria melhor exportar produtos de maior valor agregado“, comenta o economista da Coface, João Ferraz.
O trio de commodities mencionado há uma década era responsável por 10% das exportações brasileiras, enquanto hoje é responsável 37,2%. Tudo demonstra que o Brasil tem se centralizado e especializado não apenas nos mercados aos quais exporta, mas também nos produtos exportados, o que tem certas vantagens e desvantagens.
Curto-prazo e Longo-prazo
Para o governo atual, as exportações são uma fonte importante e estável de renda, ponto que a centralização e especialização por meio de acordos comerciais com países como a China oferece uma rede de segurança para a atuação brasileira na economia global, garantindo certa estabilidade. No entanto, no longo-prazo, especialistas da economia geralmente torcem que o Brasil passe a exportar produtos com maior valor agregado, de menor quantidade e maior qualidade, industrializados, em vez de continuar vendendo a matéria-prima para indústrias estrangeiras.
De certa forma, também é uma questão de modernização da política econômica brasileira e de seus vários sistemas logísticos que acabam gerando fricção burocrática nos mercados relacionados.
“Temos que torcer para a reforma tributária reduzir o mais rápido possível o Custo Brasil e, assim, abrir a perspectiva de aumento nas exportações de produtos manufaturados,” afirmou José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
A modificação dessas relações de importação e exportação seria um dos principais fatores para caracterizar o Brasil como um país desenvolvido em vez de emergente, mas é muito provável que o país permaneça com suas rotas comerciais já estabelecidas enquanto a China continue a importar produtos em grande escala – perder tal fonte de renda seria, no momento, um grande abalo para a economia nacional.
Foto Destaque: Lula e Xi Jinping em Pequim, na China (Reprodução/AFP/Ken Ishii)