Quem mora nos lugares chamados de “ áreas de risco”, hoje no Brasil qualquer área é de risco, ou reside dentro de uma favela, raramente consegue receber serviços de entregas, seja de produtos ou delivery de comida. No caso das favelas a situação ainda é mais delicada pois nessas localidades a dificuldade relacionada a segurança dos profissionais que fazem as entregas fica ainda mais vulnerável por causa das facções criminosas. Todas essas condições adicionadas a visão de Andre Szjman, criaram esse novo modelo de negócios especifico para atender essa demanda para um mercado que é literalmente extremamente carente.
André faz parte da família que fundou o grupo brasileiro de benefícios VR em 1977 trazendo inovações e vanguardismo para o seguimento. Uma das inovações da empresa foi a criação de cupons de promoção em restaurantes, descontos e até produtos grátis. Em 2007 o grupo foi alienado para a empresa Sodexo pelo valor de R$ 1 bilhão.
No ano de 2012 Szajman arrumou as malas e partiu rumo a sua experiencia de morar fora do Brasil. Após sete anos ele resolve desembarcar novamente em terras brasileiras. Assim que chegou, envolveu-se num seminário que testilhava as favelas e as periferias no Insper (Institute de Ensino e Pesquisa), que é uma instituição de ensino superior, localizada em São Paulo.
No dia, uma série de empreendedores que não fazem parte do Mainstream dos fundos de ventre capital compartilharam suas experiências e alguns executivos de organizações governamentais e pesquisadores, deixava claro para Andre que existia um Brasil empreendedor vivo, intenso e cheio de nuances que ia além do que acontece no asfalto da cidade. Existe vida financeira e capital de investimentos girando dentro das favelas e por toda periferia.
Empreendedorismo nas favelas movimenta uma receita que é despresada pelos investidores tradicionais. Foto (Reprodução/DiariodePernambuco)
“ Eu não vivo nesse país”, Foi a primeira constatação dele quando foi embora do evento, aquela era uma verdade que não fazia parte de sua realidade e tomou uma decisão. “ E, depois daquele dia, decidi que ia dedicar bastante tempo para ajudar no desenvolvimento no desenvolvimento do empreendedorismo das periferias “ , dia Andre Szajman.
A partir daí ele não parou mais e foi com tudo à campo com a missão de conectar-se com esse universo alienígena. No processo ele conheceu empreendedores que eram uma referencia em suas periferias ou favelas. André está orquestrando um lançamento para fundo de ventre capital no valor aproximado de R$ 50 milhões que dará aporte aos negócios e empreendimentos das favelas e periferias.
“Estou em busca de emrpeendedores que tenham negócios rodando e não quero fazer microcrédito. Estou buscando negócios com escalabilidade re que seja gerador de renda local para as comunidades” , Afirma o empreendedor.
Szajman trabalha no momento atual para captar os recursos para o fundo. A meta do empresário é anunciar mais detalhes no primeiro semestre de 2022. Enquanto isso ele também se dedica a outros dois investimentos, que fez em parceria com Eduardo Mufarej, da GK Ventures, que é algo semelhante a uma Minimum Viable Product (MVP) que Szajman quer fazer.
Um desses investimentos é na startup “Nossa! Cozinha”, que funciona como um coworking de cozinheiras autônomas. Outro investimento é o que deu título a nossa matéria, o “Silva”, um serviço de entrega que promove o delivery nas comunidades da Casa Amarela, complexo de favelas em recife onde residem 350 mil pessoas.
Tanto a “Nossa! Cozinha”quanto o serviço de entregas “Silva”, são de Recife, Pernambuco. As startups foram criadas por Isabela Ribeiro e Hamilton Silva, que da nome a marca. Mesmo sendo serviços distintos eles tem forte ligação. O nascimento do “Silva” aconteceu em decorrência de uma dificuldade em atender a demanda dos pedidos que eram solicitados pelos moradores das favelas.
Existia um grave problema que poderia afetar a receita do “Nossa! Cozinhas”, todos os pedidos realizados através das plataformas iFood e Rappi, não chegavam aos consumidores residentes nessas localidades. Normalmente os entregadores marcam um ponto de encontro, com isso, o morador ainda precisa sair de casa para conseguir pegar sua comida.
Isabela afirma que analisou o caso e refletiu, “Como o publico das cozinheiras da Nossa! Cozinha está dentro das favelas e o Ifood e o rapai não entregam em algumas áreas, elas perdem vendas. Começamos a entender o problema e criamos o “Silva” que faz 100% das entregas da “Nossa! Cozinhas”, comenta Isabela.
O serviço de entrega conta com entregadores que são residentes na favela, então conhecem bem os locais, isso facilita que a mercadoria chegue em qualquer lugar da comunidade. “Eles ganharam muito valor por isso”, diz Isabela.
No total o “Silva” tem 100 profissionais cadastrados, metade desses estão ativos. E por mais incrível que pareça, a maioria tem o sobrenome Silva, o que ajuda a criar ainda mais identificação deles com a empresa. Foi dessa constatação que saiu o nome de batismo da startup. Cada Silva ganha R$ 5 por cada entrega. Geralmente as entregas são realizadas de bicicletas. O meio ambiente agradece.
“Parece uma besteira, mas é um privilégio receber o pedido em casa. A gente brinca que os nossos entregadores vão até onde o Google Maps não vai””, fala Hamilton Silva. Os pratos que são entregues recebem o preparo feito por 62 cozinheiras da “Nossa! Cozinhas”, distribuídas por cinco cozinhas em Recife.
Profissionais do Nossa!Cozinha produzindo. Foto (Reprodução/NeoFeed)
A startup de alimentos não é uma organização sem fins lucrativos. É o avesso, seu objetivo é auferir lucro e gerar receita para os envolvidos. O modelo de negócios possui maneiras diferentes de monetização. Um exemplo é o aluguel cobrado de cada cozinheira para utilização dos espaços e equipamentos da cozinha. A atividade da empresa também movimenta o mercado de produtores rurais locais que vendem suas commodities a valores módicos para as cozinheiras. Esse fomento gera receita por meio da comissão advento das vendas dos alimentos produzidos.
Toda a operação de venda que é realizada pelo WhatsApp gera comissão para a “Nossa! Cozinhas”. O “Silva” faz parte da carteira de comissões através de uma pequena taxa. “Mas os percentuais são bem abaixo do que são cobrados pelos marketplaces”, declara Isabela.
O cardápio da startup tem pratos no valor médio de R$ 10. O preço foi concebido dentro de um espectro que todos ganhem, empreendedores, cozinheiras, entregadores e os consumidores que recebem um produto de qualidade e pagam um preço honesto. No menu, pratos populares e saudáveis, de acordo com a preferencia da fome.
O investidor que é o promotor que ajuda a engrenagem no ganho de escalada, não é esquecido e recebe sua parcela. ” Históricamente, a gente sempre apoiou empreendedores que tem pedigree e vem das melhores escolas. Apoiamos um tipo de empreendedor que é menos comum, mas tem fibra, garra e vontade de aprender.”, afirma, Mufarej, que aportou divisas na “Nossa!Cozinha”e no “Silva”, quando teve sua rodada de investimento na primeira fase da GK Ventures.
Desde o começo do ano, Andre Szajman está focado no trabalho de estruturação do projeto. Num primeiro momento o empreendimento era conhecido como Saladorama e fazia a entrega de saladas orgânicas nas favelas das cidades onde atuavam. O projeto chamou a atenção do publicitário Jader Rossetto que agora contribui com seu expertise no rebranding da grife.
A origem do Saladorama tem nascimento no Rio de Janeiro, no ano de 2015. Mas por causa da pandemia que assolou o mundo, Isabela e Hamilton precisaram realinhar e criar uma nova estratégia. No lugar da contratação das profissionais, eles investiram em um modelo de negócios onde as próprias cozinheiras seriam donas do seu empreendimento.
A chegada de Mufarej e Szajman possibilitou a ampiação do empreendimento que antes funcionava em uma cozinha com cinco cozinheiras. Com a chegada do aporte, esse numero passou para cinco cozinhas que tem 62 cozinheiras, ou seja mais 62 empreendedores individuais/ autônomos. Todas possuem seu registro no cadastro de Micro Empreendedor Individual (MEI), e recebem treinamento, além de contar com apoio amplo e irrestrito de nutricionistas no preparo das receitas.
Um dos Silvas protagonistas do serviço de entrega dentro das favelas de Recife. Foto (Reprodução/NeoFeed)
No momento os planos são de crescimento. Isso será possível com o investimento, que ainda não teve o valor revelado, feito por Mufarej e Szajman. Eles querem expandir o modelo para outras cidades, criando frenchinsing. O casal contratou uma consultoria para dar suporte ao projeto. A expansão começa pelo nordeste. “Estamos analisando salvador e fortaleza”, comenta Isabela.
O sucesso do “Silva” e do “Nossa!Cozinhas” inspira ainda mais Andre Szajman a seguir os caminhos que vislumbrou depois daquele encontro que participou quando retornou ao Brasil. É claro que ele sabe que nesse caminho desafios apareceram. O principal deles é a lógica de investimento, nesse caso concreto, a planilha de excel apenas não ajuda na resolução dos obstáculos.
“Não tenho dúvida de que tem mercado. Mas tem mercado através do ecossistema da própria comunidade e quetrabalhe com soluçòes de problemas específicos. A economia da favela precisa crescer e as pessoas da favela precisam ganhar também”, conclui Renato Meirelles, presidente do instituto Locomotiva. Ha dez anos o instituto promove pesquisas com as classes C, D e E.
Esse mercado tem um potencial muito grande. Segundo o Locomotiva, 17,1 milhões de pessoas moram em favelas e movimentam R$ 123 bilhões todo ano. Se juntarmos as classes C, D e E, no total são 163 milhões de pessoas que movimentaram R$ 2,4 trilhões ao ano.
A maior barreira é romper o conceito que o mercado tem sobre o que é um investimento. O movimento de Szajman abre um portal onde o maior desafio é fazer todas as partes atravessarem. De um lado as empresas que atendem ao publico de massa precisam se comunicar com ele; por outro lado, os homens de negócios de ventre capital não conseguem vislumbra uma possibilidade de um investimento rentável. É preciso lembrar que nesse caso o modelo é diferente daquele em que apenas se cria uma startup, aqui o investidor precisa participar da vida da empresa.
Bom exemplo de êxito no rompimento dessa crença limitante é o BlackRocks Startups, fundada por Maitê Lourenço, é uma hub que tem a missão de capacitar empreendedores afrodescendentes, contribuindo no processo de conquista do seu primeiro aporte institucional.
“A gente brinca que está contra a corrente, mostrando que de fato é possível ja ter startups lideradas por pessoas negras com capacidade de investimento”, Afirmou Maitê durante entrevista no café com investidor, programa do NeoFeed, no inicio do ano.
O maior sonho de Andre Szajman é mostrar que uma união improvável é possível. “O asfalto com as quebradas das favelas. Quero olhar para esse território com outros olhos e colocar minha experiencia de negocio, que é baseada em crescimento e escala, a favor desses negócios.” finaliza o empreendedor.
Foto destaque: André Szajman é o investidor por trás da iniciativa empreendedora. Reprodução/MonitorMercantil