O Magazine Luiza foi submetida a um processo de arbitragem na Câmara de Arbitragem e Mediação (CAM) da Câmara de Comércio Brasil-Canadá nesta sexta-feira (28). A ação foi movida pelos irmãos Thiago e Leandro Ramos, que são fundadores originais da Kabum, que é um dos maiores portais de comércio eletrônico do Brasil. Eles questionam um suposto abuso de conflito de interesse que aconteceu durante o processo de aquisição do Kabum pela loja da família Trajano em julho de 2021. Os principais envolvidos na disputa são os assessores que participaram do assessoramento, através do banco Itaú BBA.
Naquela época, o Kabum foi adquirido pela Magalu por 1 bilhão de reais em espécie e mais 75 milhões de papéis de suas ações. O negócio foi considerado um dos maiores da história do setor de varejo brasileiro. O Magazine Luiza foi uma das empresas do segmento que mais saiu a fortalecida no momento de transição para o comércio eletrônico. Suas ações estavam entre as mais valorizadas da bolsa. Durante a burocracia da compra do Kabum, foram mais de 11000% e valorização.
Irmão Ramos questionam o process de compra da Kabum pela Magalu (Foto: reprodução/Irmãos Ramos)
Entenda onde tudo começou
A discórdia sobre o que parecia ser um “bom negócio” nasceu de uma cláusula contratual que restringia os irmãos Ramos de venderem as ações do Magazine Luiza (MGLU3) por até ano após o término do negócio. E o catalizador foi, que nesse intervalo de tempo, as ações da empresa dos Trajano desabaram 87 % no valor da cotação.
Além dos fatores de mercado, os Ramos estão questionando um movimento do Itaú BBA. O banco realizou uma oferta subsequente ( chamado de “follow-on”) de ações da Magazine Luiza após o negócio, que captou R$ 4 bilhões. Segundo eles, isso teria agravado ainda mais a baixa dos papéis.
Na questão dos conflitos de interesse, está o fato do CEO do Magalu, Frederico Trajano, também atuar como conselheiro independente do Itaú Unibanco. E seu concunhado, Ubiratam Machado, ser executivo no Itaú BBA. Thiago e Leandro afirmaram que outras companhias não tiveram as mesmas condições de competir no processo de compra do Kabum. E para piorar, os irmãos, que estavam trabalhando na varejista, foram dispensados por justa causa. A acusação foi de que eles estavam montando uma loja concorrente e o assunto foi parar na Justiça do Trabalho.
O que dizem os envolvidos
O Itaú BBA afirmou à imprensa que “A venda da empresa à varejista foi concluída após um processo competitivo, diligente e transparente, conduzido por um time de executivos (…). Todos os potenciais compradores tiveram ampla e equânime oportunidade de análise do negócio (…) sendo que cinco deles efetivamente enviaram propostas pela companhia”. A instituição disse ainda que acusações são falsas e que os irmãos Ramos participaram de todo o processo de venda do Kabum e estavam cientes dos riscos associados, principalmente a questão da variação do preço das ações e que a participação dos Trajano no banco é legal e de conhecimento do público. O Magazine Luiza e o Kabum não responderam aos questionamentos.
Agora resta saber se os antigos proprietários conseguirão avançar no processo. Eles propõem algumas soluções, dentre elas está a anulação da transação. Nesta situação, a Magalu poderá ser obrigado a entregar ações no valor de 2,5 bilhões de reais, com juros e correção monetária. Outra alternativa é o cancelamento do negócio devolução das ações do Kabum ou então o fim do negócio em troca de uma indenização em dinheiro.
Foto destaque: Magalu e avatar do Kabum. Reprodução: Divulgação/Olhar Digital