Na década de 80 a guerra contra as drogas estava a todo vapor com a politica do “Diga Não às Drogas” nos Estados Unidos, isso porque nesse período o número de consumidores aumentava, e a maconha era uma das substancias protagonistas nessa guerra. Quem mais sofria com tudo era a comunidade negra.
Durante esses anos de combate às drogas o ex-asto da NBA Al Harrington, que tinha nove anos à época, sabia que ser investigado pela policia em Orange, que fica no Condado de Essex, estado de New Jersey, por causa de drogas era parte de seu cotidiano. Nas tardes após a escola, Harrington junto com os amigos costumava parar na Scotland Road esquina com a Tremont Avenue e ficava apavorado com as coisas que via a policia fazer aos negros do seu bairro. O ex-atleta se lembra: “o tempo todo, a policia parava, três ou quatro carros, e eles saltavam, com as armas nas mãos, todo mundo contra a parede, era assustador não saber se eles iam prender você”.
Muito longe daquela paisagem urbana de trinta anos atrás, How Harrington, 42 anos, 1,90, agora no estado dourado da Califórnia, o empreendedor conta sua trajetória de 16 temporadas na NBA e a mudança de vida quando assumiu a posição de CEO na legítima indústria da maconha.
O ano era 2012 e a atividade de Harrington na maior liga de basquete do mundo estava no final. Sua carreira era bem sucedida como atleta, ele havia conseguido acumular quase US$ 100 milhões (R$ 476,44 em cotação de 22 de abril) durante suas temporadas. No mesmo ano ele foi co-fundador da Viola, empresa que pertence a indústria da cannabis em Los Angeles e que foi batizada com o nome de sua avó.
A marca foi inspirada e batizada com o nome de sua avó. (Foto: Reprodução/ViolaBrands).
A companhia cultiva, processa e vende produtos de maconha que atendem vários segmentos dentro do mercado da erva. De flores, passando por concentrados e até mesmo baseados já apertados e prontos para o consumo do usuário. A viola conta com operações na Califórnia, Colorado, Michigan, Oklahoma, Oregon e Washington, e conseguiu gerar aproximadamente US$ 20 milhões (R$ 95,34 milhões) de receita no último ano.
No ano de 2021 o time Viola conseguiu um grande reforço para expandir seus negócios quando o ex-astro e Hall fama da NBA Allen Iverson entrou para equipe fazendo um aporte financeiro e ajudando na criação de uma linha de produtos para a prateleira da empresa, com o nome de “Iverson Collection”.
Tão difícil quanto virar atleta profissional da NBA, encontrar um empresário negro no ramo da cannabis é uma singularidade. Num mercado que acumulou US$ 25 bilhões ( R$ 120 bilhões) nas vendas legais em 2021, somente 2% das firmas tem proprietários negros. Para Harrington, “isso é um problema. Como pode (o policiamento) dessa droga ter feito tanto mal em nossas comunidade, e agora é uma indústria multibilionária e não apenas não estamos em condições de participar, mas ainda somos presos por causa disso?”, vocifera Harrington inconformado.
Harrington agora quer mudar o jogo na industria da cannabis. (Foto: Reprodução/ClutchPoints).
No mês de janeiro, a empresa recebeu investimentos de US$ 13 milhões para expandir seus negócios para Illinois, Maryland, Nova Jersey e Pensilvânia. Dentro do planejamento realizado para esse ano a organização quer abrir dois dispensários e um lugar para cultivar em St. Louis. Pensando no futuro ele também fechou um acordo de licenciamento com a finalidade de levar a Viola para o canada no ano que passou. Somando tudo, a companhia conseguiu arrecadar US$ 34 milhões e agora é avaliada em mais de US$ 100 milhões. How Harrington que investiu US$ 6 milhões é detentor de 40% da empresa. Ele também conseguiu atrair alguns amigos da liga para se juntar aos negócios, DeMarcus Cousins, Ben Gordon, JR Smith, Josh Childress e Kenyon Martin.
Harrington afirma que comercializar a cannabis é apenas uma parte do negócio que tem como prioridade contribuir para que os empresários negros que estão na indústria possam acumular capital numa das economias que mais se desenvolve nos Estados Unidos. A cannabis é legalizada em 37 estados e até o ano de 2030 existe a possibilidade dessa indústria gerar US$ 65 bilhões nas vendas anuais, isso significa um aumento de 160% em menos de dez anos. Harrington afirma, “as oportunidades em nossas comunidades precisam ser nossas – ponto final”.
O objetivo de Harrington é abrir a industria para empresarios negros e torna-los milionarios. (Foto: Reprodução/Weederia).
Quando constituiu a Viola, o ex-atleta, o objetivo era retificar erros que a guerra às drogas gerou na América, ajudando um empresário por vez. Sua finalidade é criar 100 milionários negros na indústria. Quando se olha o mercado um milhão de dólares pode parecer muito pouco, mas quando se trata dos proprietários das pequenas empresas, esse valor é bem alto. O empresário é responsável por ajudar alguns a chegarem no seu primeiro milhão.
Para impulsionar o processo a empresa estabeleceu um programa de incubadoras há doisa anos. A partir disso, a corporação investiu aproximadamente US$ 700 mil em quatro empresas, duas delas são a Mezz, fabricante de vape e pre-roll no colorado, e a Butter Baby, sediada em Los Angeles, fabricante de manteiga com infusão de THC para fazer receitas como brownies. O que Harrington recebe de retorno é uma participação de 10% a 25% pela consultoria de marketing e captação de recursos.
Reinado do Cânhamo
A Gold Standard Farms é o exemplo de maior sucesso dentro do projeto da incubadora e forjou um dos primeiros que milionários da firma de Harrington. A fazenda com sede em Martin, Tenesse, teve sua fundação em 1941, ano que o bisavô do CEO atual, Jarrel Howard adquiriu a propriedade de 40 acres de terra por US$ 3.000 mil que ele levou 10 anos para juntar. O bisavô de Howard era meeiro no Mississippi e seu antepassados eram escravos.
Harrington quer igualar as desigualdades que a politica anti-drogas trouxe para os negros. (Foto: Reprodução/NJ.com).
Até 2018 a fazendo trabalhava as culturas mais tradicionais como soja, milho entre outras, mas tudo mudou quando o preços das commodities caíram e a família foi obrigada a buscar novos caminhos. Por coincidência esse foi o ano que o governo federal alterou a legislação e tornou o cânhamo uma indústria com o cultivo legalizado. A partir daí a fazenda passou ao cultivo do Cânhamo, parente próximo da cannabis. E a economia em comparação às outras colheitas era absurda, enquanto a soja e o milho custava US$ 600 o acre, o cânhamo, que é tem componentes psicoativos, mas gtem CBD, pode valer até US$ 10 mil o acre.
Para conseguir chegar onde queria Howard sabia que precisaria de ajuda. E ele sabia onde poderia consegui-la pois tinha ouvido falar de uma empresa chamada Viola que poderia ser a mentoria que ele precisava para monstar, consolidar e expandir os negócios de sua fazenda. Mas as coisas não foram tão fáceis assim, por mais de 18 meses ele tentou contato com a incubadora mas só teve um retorno quando conseguiu apresentar um cruzamento que produziu uma flor roxa que era da mesma cor dp logotipo da Viola, ele não perdeu tempo e enviou uma foto para Harrington que retornou na mesma hora o contato pedindo uma amostra. Harrington comentou, “nunca vou esquecer que ele me enviou um pouco de cânhamo e era literalmente roxo”.
Howard ficou sabendo sobre o programa de fazer 100 milionários, mas só havia uma forma de ingressar na incubadora e essa condição era uma imposição do conselho administrativo da fazenda composto por membros da família. A condição exigida era a de que Harrington metesse a mão na massa, e aconteceu, conta Howard. “Ele fez, e eu sou eternamente grato. Esse foi provavelmente um dos momentos mais decisivos que vai mudar o curso da história da minha família por mais de 80 anos”.
A história da familia de Howard vai mudar com a nova cultura da fazenda. (Foto: Reprodução/RevistaEscalada).
A produção da fazenda antes do cânhamo gerava aproximadamente US$ 50 mil na colheita mas este ano a Gold Standard prevê uma receita de US$ 3 milhões de receita. A contribuição de Harrington ajudou na construção de um novo fluxo de receita quando negociou contratos para produzir objetos ecologicamente feitos de cânhamo de uma empresa australiana. Agora eles querem construir instalação para cultivar o cânhamo indoor.
Quando voltou do Tenessee o CEO da Viola fez um investimento de US$ 1 milhão que vai auxiliar alguns requerentes de equidade social a conquistarem suas licenças para operação de dispensários de cannabis. Fora 70 candidatos inicialmente, desses, 36mostraram as habilidades para administrar o negocio. Dos 36 restaram oito e no final somente quatro conseguiram passar por todos os processos de verificação de licenças e só dois obtiveram a emissão das licenças num período de dois anos.
Todo processo para aquisição das licenças mostrou uma outra oportunidade para capitalizar no universo cannabico. A melhor forma de pensar no valor de uma licença para cultivar, vender, fabricar, distribuir ou vender cannabis é como um ativo na atiga Bola de Valores de Nova York. Se você tiver uma autorização a chance de ficar milionário é grande. Por isso outra empresa, a Village LLC, solicita autorizações por todo país, isso com a parceria de empresários locais.
Mesmo com os negócios indo de vento em popa a história real ainda perturba Harrington. No ano de 2018,no estado de Detroit, a policia invadiu sua empresa legalizada e apreendeu colheitas, equipamentos, prendeu seus funcionários e congelou contas bancarias. A firma acabou sendo fechado pelo período de dois anos e meio e custou milhões em prejuízos. No final todas as acusações foram retiradas. “Mesmo agora, nos preocupamos em ser mortos pela policia”, afirma Harrington.
All Harrington com Alen Iverson que fez aporte na empresa e lançou uma linha de produtos. (Foto:Reprodução/ThePlayersTribune).
“O medo, ele perdura. Tenho 42 anos, sou multimilionário, moro em boas casas, tenho bons carros, tudo, mas ainda tenho medo. Não sei como vai acabar”
Al Harrington
A trajetória no universo da maconha não começou por acaso, mas sim por um motivo nobre. Ao contrario do que muitos pensa, Harrington não foi um maconheiro na juventude e sua aproximação com a erva aconteceu por causa da família, mais especificamente sua avó. Quando em 2011 ela foi até Denver assistir uma de suas partidas e ao chegar ela estava carregando uma farmácia com medicamentos para tratar sua diabetes e seu glaucoma. Quando viu tudo Harrington disse que tinha lido sobre os benefícios da maconha medicinal e de como ela ajudaria nos tratamentos para a visão.
Depois da conversa ele pediu para uma amiga trazer brotos de cannabis e um vaporizador pois sua avó não aguentava mais de dor, e assim ela deu seus primeiros tapas num baseado. Para a surpresa dela a dor passou e ela conseguiu fazer o que mais gostava novamente, ler sua bíblia sentada em uma cadeira. “Ela estava chorando e disse: estou curada. Faz mais de três anos que não consigo ler as palavras da minha bíblia”, contou Harrington.
Depois disso O ex-atleta junto com um amigo deram inicio ao cultivo legal da maconha medicinal em Denver, Colorado, sendo parte de um pequeno empreendimento piloto sancionado pelo estado. De inicio eles começaram com 8 clientes que eram pacientes de doenças como câncer.
Mas o que estimula Harrington é sua obsessão por corrigir os equívocos que a guerra contra as drogas causou nas comunidades negras. Na história os afro americanos tem quatro vezes mais chances de serem presos por causa da maconha quando comparado com os brancos, mesmo as taxas de uso sendo muito parecidas. “Foi uma armação e foi uma forma de continuar a promover a escravidão”, posiciona All Harrington. A melhor saída para igualar isso é dar aos negros as mesmas oportunidades de capitalizar com aquilo que foi durante anos um motivo para a subjugação para os negros.
E Harrington conclui, “trata-se de riqueza geracional. Essas licenças podem custar de US$ 3 milhões a US$ 5 milhões, até mais que isso, dependendo da localização. E para pessoas que nunca ganharam mais de US$ 30 mil em um ano, esse é um dinheiro que muda a vida.”
Foto destaque: Reprodução/ ViolaBrands.