Sebastian Mallaby, escritor de livro sobre tecnologia e capital de risco declara que valor das Startups deve baixar

Pablo Alves Por Pablo Alves
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De acordo com Sebastian Mallaby, os juros altos em países como Estados Unidos faz os investidores se posicionarem mais conservadoramente em relação as startups, isso pode acarretar baixa valorização para empreendimentos mais jovens que buscam aportes para financiar seu desenvolvimento.

“Esse novo clima financeiro trará ajustes. Em um ambiente no qual as taxas de juro estão a 6%, 7% é muito caro travar seu dinheiro, pelo custo de oportunidade. Para compensar, investidores de risco devem esperar retornos mais altos, o que significa que eles só apoiariam as melhores empresas, e por um valor de mercado menor”, analisou Mallaby.

“Os preços vão se ajustar. O valor de avaliação das startups terá de ser mais baixo. Mas haverá muitas pessoas querendo investir em capital de risco. Não será como em 2000”, continua, lembrando a crise que abalou o segmento de tecnologia.


O autor Sebastian Mallaby conversando com Charlie Rose. (Foto: Reprodução/CharlieRose)


O jornalista inglês, de 58 anos, escreveu o livro “A Lei da Potência – Capital de Risco e a Criação de um Novo Futuro” (ed. Intrínseca). A obra narra as minucias do relacionamento entre os investidores e o nascimento de companhias estadunidenses que transformaram o mundo tecnológico desde a década de 50.

O livro, anunciado pelo Financial Times como um dos melhores de 2022, conta o que acontece por trás do começo de firmas como Atari, Apple, Intel, Yahoo, Facebook. Cisco e Google, e a importância dos investidores que contribuíram transformando ideias de negócios viáveis e empreendimentos com capacidade para gerar milhares de dólares poucos anos.

Atualmente quando analisa o mercado de capital de risco, principalmente com os juros americanos la no alto e uma possível recessão, ele da como exemplo a Nadaq, que tem sofrido com quedas. Mesmo com tendencia de rápido crescimento elas sofrem mais volatilidade por isso mais arriscadas, principalmente quando ainda estão no inicio. Esse é um período que os investidores querem arriscar menos, por isso seu valor deve diminuir.

Quem investe no capital de risco olha no longo prazo e com as taxas de juro entre 6%, 7%, fica inviável aplicar o dinheiro, a oportunidade não vale o custo. Esse panorama leva o investidor de risco a ter paciência esperando a hora de retornos mais altos, ou seja, agora só as empresas com mais capacidade receberiam o aporte, e aceitando valor de mercado mais baixo. A expectativa é de que o novo cenário financeiro venha com ajustes.

A verdade é que desde 2004, quando a Google abril capital, as firmas de tecnologia vem numa sequencia excepcional. Esse foi um dos motivos que elas tomaram conta do planeta. Segundo o jornalista os valores vão sofrer reajustes. Agora no momento que forem avaliadas o preço será abaixo do que se via, mesmo assim ainda existirão investidores querendo aportar seu dinheiro em capital de risco. Dessa vez não será como no ano 2000, à época a bolsa Nasdaq ficou quebrada e o Vale do Silício passou por três anos de hibernação.

Em relação ao estilo “Vencedor leva tudo” podem haver alterações fazendo ele ficar menos predominante. Os empreendimentos com efeito de cadeia, a margem de retorno aumenta em relação a quantidade de pessoas atendidas. Ao contrario do que acontece nos moldes tradicionais, onde as despesas aumentam quando a demanda de produção é maior.

Facebook e Google são exemplos de marketplaces negócios de rede, quando mais pessoas usam o serviço, eles ficam mais eficazes e facilitam para o consumidor. Isso significa que você pode selecionar milhares de artefatos, e a despesa para acrescentar mais um produto para vender e quase nulo, na Amazon é assim. Esse estilo de rede é propensa ao modelo vencedor leva tudo.

Voltando no tempo em que o capital de risco ajuda empreendimentos que produzem hardware, do tipo baterias elétricas para veículos, o efeito de rede pode ser menos forte. O estilo de “vencedor leva tudo” poderá surtir efeito porque o detentor da melhor tecnologia tem grande probabilidade de dominar o mercado. Acontecendo isso, as concorrentes vão seguir a experiencia por causa das altas margens do que está na liderança.


Dessa vez a turbulência não é igual ao ano 2000, quando a Nasdaq quebrou. ( Foto: Reprodução/Twitter)


Bolhas no Mercado Financeiro e Unicórnios

O acontecimentos da formação das bolhas existe em toda a história das finanças. É impossível evitar que elas se desenvolvam em determinados momentos. Mas em relação as startups que recebem avaliação maior do que US$ 1 bilhão de dólares existem erros que o governo pode evitar.

Não há diferença entre quem vai começar um empreendimento ou o proprietário de uma empresa que já está no mercado, todos precisam ter os mesmos atributos. Mudar de líder em algum momento pode ser uma rotina. A questão é que os donos desses unicórnios ganham poder exagerado através de papeis que dão poder de voto exacerbado. O problema acontece porque existem investidores que não estão dispostos a atuar na governança e nem querem um lugar no conselho. Dessa forma os os criadores desses unicórnios ficam sem limites e fruem o capital de maneira inadequada. E ninguém diz que ele está errado.

Normalmente esse alerta acontece quando o capital é aberto tornando a empresa pública, como no caso da WeWork, porque analistas e jornalistas observarão tudo com mais atenção e cautela. É nessa hora que as pessoas percebem como as coisas aconteciam de forma absurda. Isso mostra como é importante os donos dos ativos exercerem a governança inspecionando o fundador do jeito apropriado. Essa postura serve de método para diminuir o aparecimento dessas bolhas.


Os unicórnios muitas vezes ficam com muita liberdade. (Foto: Reprodução/OasisLab)


Blitzcaling (escalada rápida)

Falando das startups que estão no início, principalmente as de software, ter celeridade é o mais conveniente. Essa rapidez na escalada trará mais retorno nas margens. Quem investe em capital de risco esperam de seis a nove meses para as empresas mostrarem seu valor, por isso apresentar lucros com rapidez faz diferença.

Por um lado o resultado pode ser benéfico mas existem casos onde as empresas passaram do ponto e a blitzcaling se tornou uma adversidade. Nos Estados Unidos existe atualmente um bordão criado após Mark Zuckerberg dizer, “mova-se rápido e quebre as coisas”, isso virou uma piada para zombarem do Facebook e seu criador. O autor deixa claro que não concorda.

Para quebrar alguma coisa é importante saber o que está sendo quebrado e o que você a fará como passo seguinte. O lançamento de uma versão atualizada de um programa se não for muito boa, a mudança de um código pode corrigir o erro e tornar as coisas melhores. Agora se forem equipamentos físicos e ter uma fabrica for essencial, esse conserto não será fácil. Quebrar alguma coisa tão grande pode afetar o mundo e a sociedade.

Um dos fatores mais relevantes que podem mudar o cenário é uma atuação maior dos governos fazendo investimentos mais vultosos em tecnologia, capital intelectual e capacitação para os indivíduos. Dar suporte aos estudantes com interesse nas áreas de ciência, engenharia, matemática, tecnologia e incentivar empreendedores do ramo da tecnologia.


O modelo de escalada rapida pode ser benéfico em alguns casos. (Foto: Reprodução/AGazeta)


Organizar e regulamentar as normas sobre domínio intelectual é imperioso porque no momento em que algo é criado e produzido no meio acadêmico torna-se mais viável fazer o licenciamento da tecnologia e formar uma companhia através dela, isso ainda incentivaria a faculdade por meio do recebimento de um pouco dos royalties. Pensar regras que criem muitas restrições é importante para que as empresas tenham lucratividade.

Obtendo um lucro muito alto a disparidade entre as empresas vai ficar maior e criar um padrão evidente, fazendo com que todos os envolvidos desde o começo do trabalho até virarem um unicórnio participam do processo de crescimento, e é isso que os deixa motivado e querendo fazer de novo. Esse processo abre oportunidade para criação de um novo empreendimento e pode se tornar um investidor. Num país como o Brasil, os unicórnios podem ajudar  a acelerar o crescimento do universo das empresas de tecnologia.

Uma forma de atrair empresas de capital de risco para o Brasil é transformar as particularidades e deixando as coisas mais próximas de como são feitas no Estados Unidos, assim a chegada das empresas de capital de risco no país seria mais simples. A experiencia com o Vale do Silício ensinou essas pessoas a saberem onde estão se metendo. As firmas brasileiras podem receber ajuda para crescerem e vender dentro dos EUA. Por isso é importante seguir o padrão americano.

O mais importante que os governos precisam ter é conhecimento e saber que nem tudo serve como exemplo para todos os casos. Aportar capital num investimento de risco não é anormal e muitos fazem isso, o que mais se destacou como caso de sucesso foi Israel, onde o incentivo foi enorme. Mas em pouco tempo eles cortaram o incentivo assim que as empresas conseguiram caminhar com as próprias pernas.

Nesses caso onde o governo participa é importante agir sempre com cautela. Bom exemplo do que não fazer é o que acontece na Europa, onde o governo da muito subsídios ao capital de risco, isso afeta o mercado de capital privado, pois há em circulação valores em que o governo não espera retorno elevado. De certa forma esse dinheiro não é bem administrado porque falta governança de quem mais investe, o governo. Com isso investimentos que não não bem sucedidos acontecem.

Uma grande sugestão é que investidores assumam o risco completo desde o inicio. No caso de perderem, vão perder do próprio capital 100%, os contribuintes ficariam isentos de qualquer pagamento. Assim os investidores seriam conduzidos a entender melhor sobre o assunto, saber os melhores empreendimentos, e ajudar a elaborar como qualificar ainda mais o sistema ajudando as startups em seu desenvolvimento.  Sociedades de investimentos de risco, nos Estados Unidos não pagam impostos. Os investidores é que ficam responsáveis pelo pagamento dos impostos.

Uma dica que Mallaby deixa é a de que esse não é o melhor investimento para quem ainda está no começo ou para quem não tem muito capital, porque ele é caro. Quanto menos custos você tiver melhor. Diversificar também é uma boa opção. 

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