Em sua estreia no principal fórum de segurança da Ásia, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, afirmou no sábado (31) que a China representa uma ameaça concreta e crescente. Ele pediu aos países do Indo-Pacífico que reforcem seus orçamentos de defesa diante de um cenário geopolítico cada vez mais instável.
Estreia marcada por discurso duro contra China
Durante sua primeira participação no Diálogo de Shangri-La, realizado em Singapura, Pete Hegseth adotou um tom direto e combativo ao descrever o que chamou de “ameaça real e iminente” representada pela China. Segundo ele, Pequim estaria se preparando para usar força militar com o objetivo de mudar o equilíbrio de poder na região, especialmente em relação a Taiwan.
Hegseth destacou que qualquer tentativa de invasão da ilha por parte da China traria consequências devastadoras para todo o Indo-Pacífico e para o mundo. O secretário reforçou que a proteção da região é prioridade do governo Trump e garantiu que a China não tomará Taiwan sob a atual administração americana.
Em comunicado, a embaixada da China em Singapura acusou Washington de fomentar instabilidade regional e classificou os comentários de Hegseth como provocativos. “Na verdade, os próprios EUA são o maior causador de problemas para a paz regional”, declarou a diplomacia chinesa.
O governo chinês considera Taiwan parte de seu território e não descarta o uso da força para garantir a reunificação com a ilha, governada de forma independente. Taiwan, por sua vez, rejeita qualquer reivindicação de soberania por parte do governo chinês, defendendo que apenas o povo taiwanês tem o direito de decidir seu futuro.
Pete Hegseth, à esquerda, é recebido por Chan Chun Sing, à direta, em Singapura para o Diálogo de Shangri-Lá em 31 de maio de 2025 (Foto: reprodução/MOHD RASFAN/Getty Images Embed)
Aliados sob pressão para ampliar orçamento de defesa
Além das críticas à China, Hegseth cobrou um aumento nos investimentos em defesa por parte dos países aliados da Ásia. De acordo com ele, a média de 1,5% do PIB destinada a gastos militares por nações da região é insuficiente diante do cenário de ameaças crescentes, como o avanço militar chinês e alianças entre Rússia, China, Irã e Coreia do Norte.
Hegseth comparou a situação com a da Europa, onde os países membros da OTAN vêm aumentando significativamente seus orçamentos de defesa, com alguns comprometendo até 5% do PIB, especialmente após críticas e ameaças dos EUA de deixar a aliança diante da falta de cooperação. Ele afirmou que os aliados asiáticos deveriam seguir esse exemplo, especialmente porque atualmente “gastam menos em defesa diante de ameaças mais diretas”.
As declarações provocaram reações divididas. A senadora democrata Tammy Duckworth, que participa do fórum, classificou o discurso como condescendente. Já o ministro da Defesa da Holanda, Ruben Brekelmans, elogiou o reconhecimento do esforço europeu e afirmou que foi a primeira vez que ouviu esse tipo de reconhecimento vindo de Washington.
Hegseth também defendeu que os países europeus se concentrem na segurança do próprio continente, o que permitiria aos EUA redirecionar esforços para a Ásia. Enquanto Washington aproveitou o fórum para reforçar seu posicionamento estratégico, a China adotou uma postura mais discreta: o ministro da Defesa, Dong Jun, não compareceu ao evento e foi representado por uma delegação acadêmica.