Lobos com toxoplasmose têm até 46 vezes mais chances de liderar matilha, segundo estudo

Ana Carolina Lara Por Ana Carolina Lara
4 min de leitura

No Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, os lobos infectados com o Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose, são até 46 vezes mais propensos de liderar a matilha do que os saudáveis.

O novo estudo publicado pela revista científica Communications Biology, por pesquisadores do Centro de Recursos de Yellowstone, mostra que os lobos contaminados por este parasita tendem a se comportar mais arriscadamente.

A pesquisa também mostrou que a presença do parasita entre os lobos está exatamente ligada à maior ou menor presença da onça-parda no ambiente. Tanto a onça quanto o lobo compartilham território e, onde a densidade de onças-pardas é maior, também há a infecção por Toxoplasma gondii entre os canídeos.

A explicação para este fato é que esse protozoário necessita dos felinos para concluir o seu ciclo de vida. Porém, enquanto isso, infecta outros hospedeiros e exerce influência no comportamento deles.


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Conheça o Parque Nacional de Yellowstone, onde vivem os animais do estudo.


A toxoplasmose promove comportamentos mais arriscados pelo ciclo de vida do protozoário. Passando por várias fases de desenvolvimento, começando no felino. Após, em uma fase externa, que tem início na urina e nas fezes, passa por hospedeiros intermediários, para enfim retornar para um felino e completar sua reprodução.

Uma situação parecida estaria ocorrendo com os lobos. O que o parasita ganha ao escolher o líder da matilha de uma espécie de topo de cadeia alimentar e, assim, não retornaria a um felino? Para o pesquisador responsável pelo estudo, essa infecção deve ter uma ligação com um período antigo, onde os lobos eram presa de felinos maiores.

Isso tudo é especulativo, mas evolutivamente, se olharmos para a América do Norte durante o pleistoceno (era que terminou há aproximadamente 11 mil anos), os lobos estariam mais abaixo (que hoje) na cadeia alimentar e ainda haveria leões americanos (que foram extintos há cerca de oito mil anos). Se assim for, provavelmente veríamos algo semelhante ao que vemos em hienas e leões africanos, onde filhotes de hiena positivos para toxoplasmose são mais propensos a se aproximar de leões… Portanto, os efeitos comportamentais que estamos vendo agora podem ser resquícios dessa dinâmica do pleistoceno”, diz Connor Meyer, pesquisador da Universidade de Montana, Estados Unidos, e responsável pelo estudo.

Os lobos não evitam necessariamente as onças-pardas. Nas interações diretas entre as duas espécies, eles representam mais perigo para as onças do que elas para os lobos. Se os lobos pegassem uma onça no chão, provavelmente a atacariam e a matariam, e isso pode ser uma das maneiras pelas quais os lobos estão sendo infectados com toxoplasmose. Ou vice-versa, que é uma forma pela qual o parasita consegue atingir seu hospedeiro final na briga e completar seu ciclo de vida”, explica Meyer.

Foto Destaque: Esta infecção deve ter uma ligação com um período antigo, onde os lobos eram presa de felinos maiores. Reprodução/Pexels

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