Acidente Voepass: Análise de corpos sugere que passageiros sabiam da queda do avião

Thalita Gombio Por Thalita Gombio
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Foto destaque: Imagens aéreas dos destroços do avião no acidente em Vinhedo que ocorreu no último dia 09 (Reprodução/ NELSON ALMEIDA/AFP/Getty Images Embed)

A perícia finalizou as análises necessárias para a conclusão do laudo das 62 mortes, após uma semana da queda do avião em Vinhedo e revelou mais detalhes durante uma coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (15).

As equipes dividiram a avaliação em duas partes, com um grupo focado na identificação das vítimas e outro na investigação do sinistro aeronáutico para fins criminais que possa estabelecer as razões que levaram o avião a perder controle.


A investigação do acidente reuniu órgãos como o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos e o Corpo de Bombeiros (Foto: Reprodução/Força Aérea Brasileira)

O diretor do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD), afirmou que os passageiros foram encontrados em suas poltronas em posição semelhante, conhecida como “brace” – uma postura de segurança para situações de emergência que consiste em sentar-se com a cabeça entre os joelhos e as mãos entrelaçadas cobrindo a nuca – e tem por objetivo reduzir lesões por impacto. Dessa forma, poderiam ter sido informados sobre a queda do avião: 

“Grande parte das vítimas encontradas estava com as mãos preservadas. Eu não sei se houve um comando da tripulação de que estavam em emergência ou se as pessoas perceberam, com essa queda acentuada, mas muitos corpos estavam naquela posição, o que não aconteceu na TAM [outro acidente] –  Eles estavam na posição normal, quando a aeronave entrou no prédio”, afirmou.

O Instituto Médico Legal (IML), conseguiu identificar todas as vítimas e 41 delas já foram liberadas para que as famílias realizem o velório, outros procedimentos estão sendo concluídos para a liberação dos 21 corpos restantes.  A cachorrinha “Luna”, que foi encontrada nos pés da dona, também já foi liberada.


Equipes envolvidas na identificação de corpos em Coletiva de Impresa nesta quinta-feira (15) (Foto: Reprodução/Governo de São Paulo)

Exames de identificação realizado nas vítimas

O superintendente da Polícia Técnico-Científica de São Paulo (SPTC), Claudinei Salomão, informou que a identificação dos passageiros foi feita com alguns exames específicos e que não foi necessário o uso do DNA:

 “Toda identificação foi possível por análises de papilas datiloscópicas comparando com documentos pessoais fornecidos pelas famílias e de arcadas dentárias”.

Os exames papiloscópicos analisam as impressões digitais – o que foi possível pela posição das mãos, já os exames odonto legais usam características da arcada dentária para identificação de corpos em estado desfigurado – o que ocorreu em alguns passageiros carbonizados devido à explosão da aeronave. Exames antropológicos estudam a parte óssea que auxiliam na identificação de idade, sexo, estatura e patologias.

40 passageiros foram identificados por impressões digitais, 15 por características físicas como tatuagens, marcas na pele e 7 por meio dos dois exames. Alguns estados brasileiros de naturalidade das vítimas também ajudaram na identificação, fornecendo planilhas com informações.

O IML retornou hoje (16), com as demais atividades que haviam sido paralisadas para realizar a força tarefa de identificação das vítimas do acidente aéreo em São Paulo.

Relatório da Voepass indica falhas de manutenção no avião de Vinhedo

Segundo o Jornal Nacional, uma documentação do avião ATR-72 emitida apenas algumas horas antes do voo no dia 09 de agosto, mostrou uma listagem com pendências na aeronave. Cintos de segurança, cortinas em janelas e bancos quebrados revelaram a ausência de manutenção.

No ano de 2023, foi identificado um problema no sistema antigelo do mesmo avião (suspeita principal do acidente). Além disso, relatórios indicaram problemas no limpador de para-brisa e pane no sistema de aproximação do solo, situações que foram resolvidas segundo atualizações nas inspeções.


Modelo de aeronave ATR-72 da VoePass envolvida no acidente fatal com 62 vitimas (Foto: Reprodução/Rafael Luiz Canossa/oglobo/Creative Commons)

A empresa Voepass afirmou que todas as aeronaves passam por análises antes dos voos e que só é possível confirmar as causas após a investigação:

“Em hipótese nenhuma nossos aviões decolam sem estar em estrita conformidade com o que estipula a regulamentação. O envio de aeronaves para manutenção é algo que faz parte da rotina de todas as companhias aéreas do mundo”, afirmou em nota publicada no site.

As investigações seguem com órgãos da Forças Aérea Brasileira (FAB) e a Polícia Federal (PF). Além da perícia, a apresentação de relatórios e avaliações aprofundadas serão necessárias para diagnosticar se as causas do acidente foram mecânicas ou humanas.

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