Durante interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), realizado nesta terça-feira (10), em Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a citar a facada sofrida em 2018 e a luta pelo voto impresso no Congresso Nacional como parte de sua trajetória política. A fala foi registrada durante depoimento no inquérito que apura a tentativa de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após as eleições de 2022. O ex-mandatário é investigado por formular uma minuta golpista e por ter conhecimento de plano que previa o assassinato de autoridades.
As declarações foram dadas a partir das 14h30, no âmbito de uma das frentes abertas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que aponta Bolsonaro como articulador de um suposto plano de golpe de Estado. A nova oitiva foi realizada para esclarecer sua participação nos eventos que antecederam a transição de governo.
Facada de 2018 é lembrada no início do depoimento
Logo no início do interrogatório, o ex-presidente relembrou o atentado sofrido durante a campanha eleitoral de 2018. “Nem eu esperava que iria me eleger presidente. Acabei me elegendo sem antes ter passado por uma facada”, declarou. A menção ao episódio foi feita de forma espontânea por Bolsonaro, em tentativa de contextualizar sua ascensão política e justificar sua desconfiança com o sistema eleitoral.
O episódio da facada, frequentemente citado por Bolsonaro em seus discursos, tem sido usado como símbolo de sua trajetória de superação e como justificativa para sua narrativa de enfrentamento contra instituições que, segundo ele, teriam agido para minar sua legitimidade.
Bolsonaro resgata campanha pelo voto impresso desde 2015
Ainda durante o depoimento, o ex-presidente recordou sua atuação como deputado federal em defesa do voto impresso auditável. “Eu batalhei muito na Câmara pelo voto impresso. Consegui aprová-lo em 2015 para 16. A senhora Dilma vetou”, afirmou. A proposta, no entanto, foi barrada por inconstitucionalidade, e o sistema de urnas eletrônicas permanece em vigor até hoje.
Bolsonaro sobre voto impresso: devo ter exagerado na retórica (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN Brasil)
O tema tem sido reiteradamente explorado por Bolsonaro desde seu mandato, com o argumento de que traria mais segurança ao processo eleitoral. No entanto, especialistas e órgãos oficiais, como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), reiteram que não há evidências de fraudes no sistema atual.
As novas declarações foram registradas em um momento de aprofundamento das investigações contra o ex-presidente. Segundo a PGR, Bolsonaro teria participado ativamente da criação de uma minuta de decreto para instaurar estado de exceção no país, além de ter ciência do chamado plano “Punhal Verde Amarelo”, que previa o assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.