Depois de um ano em que temas ligados à cultura afro dominaram os desfiles, as escolas do Grupo Especial estão tomando outro caminho para 2026. A maioria decidiu olhar para pessoas reais e contar histórias de vida. Já são oito escolas com enredos revelados, todos eles focados em biografias ou tributos a personalidades que deixaram marcas na música, no carnaval e na cultura brasileira.
Da rainha do rock à sabedoria popular do Amapá
A Mocidade Independente de Padre Miguel escolheu Rita Lee como inspiração. O enredo, chamado “Rita Lee, a padroeira da liberdade”, promete trazer a irreverência e a criatividade da cantora para a avenida. A escola ainda preparou uma ação divertida: espalhou réplicas dos óculos vermelhos que marcaram o estilo da artista por vários cantos do Rio, como o Largo da Carioca e os Arcos da Lapa.
O Salgueiro vai prestar homenagem à carnavalesca Rosa Magalhães. Ela tem uma história de vitórias pela Imperatriz Leopoldinense, mas foi no próprio Salgueiro que tudo começou, na década de 1970. Um dos seus primeiros trabalhos foi no desfile “Festa para um rei negro”, ao lado de nomes que fizeram história no carnaval.
Outra escola que entrou nessa onda foi a Imperatriz, que escolheu Ney Matogrosso como tema do próximo desfile. O cantor, conhecido pelo visual ousado e performance marcante, já visitou o barracão da escola e deve inspirar um enredo visualmente impactante. Enquanto isso, a Viradouro resolveu homenagear um nome importante dentro da própria casa: Mestre Ciça, que comandou baterias em várias escolas e é considerado um ícone entre os ritmistas.
A Vila Isabel vai falar sobre Heitor dos Prazeres, sambista e artista plástico que imaginava a África de forma muito própria e criativa. O tema quer explorar essa visão onírica e sua relação com a cultura afro-brasileira. Já a Mangueira apostou em uma figura do Norte do país: Mestre Sacaca, conhecido por usar saberes populares, como garrafadas e chás, para tratar doenças. Ele faleceu em 1999 e hoje dá nome a um museu em Macapá.
Tendência ou coincidência? Especialistas opinam
Muita gente anda se perguntando se essa escolha por homenagens está ligada à vitória da Beija-Flor neste ano de 2025, com o enredo dedicado a Laíla, que foi uma figura central na escola. A pesquisadora Rachel Valença acredita que sim. Ela acha que a escolha por temas biográficos facilita a conexão com o público e pode ter influenciado outras escolas a seguirem o mesmo caminho. Mas também lembra que isso não garante sucesso: existem vários outros fatores em jogo.

Já Milton Cunha, comentarista e apresentador, vê a coisa de outro jeito. Para ele, prestar homenagens sempre foi parte do carnaval e isso independe de vitórias passadas. Ele acha positivo que nomes conhecidos estejam sendo celebrados, já que isso cria um laço direto com quem assiste.
O jornalista Leonardo Bruno vê valor nessa variedade de personagens que estarão na Sapucaí. Segundo ele, o mais interessante é que os homenageados representam universos bem diferentes, o que deve gerar desfiles visualmente ricos e cheios de emoção. Ele destaca que figuras como Rita Lee e Ney Matogrosso são puro espetáculo, enquanto Rosa e Mestre Ciça representam a alma do carnaval de formas distintas — uma no visual e outro no ritmo.
Leonardo ainda lembra que não foi só o enredo sobre Laíla que mexeu com o público. A despedida emocionante de Neguinho da Beija-Flor no último desfile também pode ter despertado nas escolas o desejo de apostar em histórias que tocam a memória e o coração das pessoas.
Tradição em homenagear personalidades
A Mangueira é uma das agremiações que mais investiram nesse tipo de enredo ao longo do tempo. Entre os homenageados que deram título à escola estão nomes como Monteiro Lobato, Caymmi, Carlos Drummond e Maria Bethânia. Nos últimos dez anos, só ela e a Beija-Flor conseguiram ser campeãs apostando em biografias.
Com nomes tão diversos, que vão do rock à cultura popular do Amapá, passando por ícones do samba e do carnaval, a expectativa é de um desfile para lá de emocionante em 2026. O público pode se preparar para uma Sapucaí recheada de histórias reais, com enredos que misturam memória, homenagem e muito brilho.