A empresa 123 Milhas, em uma tentativa de atrair clientes, chegou a gastar cinco vezes o nível de seu faturamento com campanhas de marketing. Os gatos, no entanto, eram registrados como ativos: isto é, itens que podem ser transformados em dinheiro. Essa manobra tornou possível para a companhia distribuir dividendos milionários para seus acionistas.
Empresa ainda é considerada recuperável
No relatório elaborado pelos dois peritos contratados pelo juízo da recuperação da 123 Milhas, a empresa tem uma dívida de R$2,4 bilhões com 800 mil consumidores e quase 1000 funcionários. Apesar disso, ela ainda atende de modo “satisfatório” os requisitos para ser considerada recuperável, de acordo com a consultoria KPMG. No índice, o mínimo exigido é de 40 pontos; a empresa de viagem, por sua vez, marcou 92.
Na CPI das Pirâmides, é descoberto e-mail da 123 Milhas que pedia para clientes mentissem (Vídeo: reprodução/YouTube/UOL)
No entanto, ainda existe um outro obstáculo nesse processo: a crise de credibilidade. Segundo o advogado Gabriel Britto Silva, especializado em direito do consumidor, mesmo que a companhia seja financeiramente apta a se reerguer, não será uma tarefa fácil tomar a confiança do consumidor em um nível que seja suficiente para quitar a dívida bilionária.
Gastos com marketing eram maiores do que o faturamento
Em 2020, quando as pessoas não podiam viajar devido à pandemia da COVID-19, a 123 Milhas gastou 85% do seu faturamento com vendas em publicidade. Já em 2021, as despesas com marketing estavam 147% acima das receitas, o que a transformou no maior anunciante do país naquele ano, de acordo com o ranking elaborado pelo Meio & Mensagem. A quantia gasta foi de R$2,37 bilhões.
Em 2022, os gastos com publicidade reduziram para R$1,18 bilhões. Entretanto, as vendas diminuíram bem mais do que em outros períodos, o que fez as despesas com marketing superarem a receita bruta em 393%.
Foto destaque: Empresa 123 Milhas registrava gastos com marketing como ativos (Reprodução: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
