Uma pesquisa inédita intitulada “Favelas na Mira do Tiro: Impacto da Guerra às Drogas na Economia dos Territórios,” divulgada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), revelou que as operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro resultam em um prejuízo anual de pelo menos R$ 14 milhões para os moradores dessas comunidades.
O estudo foi conduzido com a participação de 400 moradores do Complexo da Penha e outros 400 do Complexo de Manguinhos, ambos localizados na zona norte da cidade. Esses territórios foram identificados como os mais afetados por tiroteios relacionados a ações policiais no período de junho de 2021 a maio de 2022, conforme dados fornecidos pelo Instituto Fogo Cruzado, responsável pelo registro de informações sobre violência armada no Rio de Janeiro e em outras localidades.
Além dos moradores, a pesquisa também entrevistou 303 comerciantes das favelas Vila Cruzeiro, na Penha, e Mandela de Pedra, em Manguinhos, áreas particularmente impactadas pelos confrontos armados nos complexos.
Os resultados do estudo indicam que 60,4% dos moradores dos complexos da Penha e de Manguinhos que estavam envolvidos em atividades remuneradas ficaram impossibilitados de trabalhar devido às operações policiais ocorridas no ano anterior à pesquisa. Esses indivíduos relataram uma média de 7,5 dias de trabalho perdidos, correspondendo a 2,8% de um ano com 264 dias úteis. Considerando a renda média da população acima de 18 anos nesses territórios, estimada em R$ 1.652 por mês, o prejuízo anual devido à interrupção do trabalho é calculado em R$ 9,4 milhões.
Complexo da Penha. (Foto: reprodução/Prefeitura do Rio de Janeiro/Seac)
Adicionalmente, os danos causados às propriedades e produtos em decorrência de tiroteios e interrupções de serviços essenciais, como eletricidade e água, somam R$ 4,7 milhões por ano nos dois complexos.
Somando todos esses fatores, o estudo estima um prejuízo anual total de aproximadamente R$ 14 milhões devido às ações policiais nas favelas. Rachel Machado, socióloga e coordenadora de pesquisa do CESeC, destacou que esses custos são suportados pelas comunidades devido a uma guerra que não solicitaram, resultante de ações violentas e desordenadas do Estado.
Impactos no dia a dia
A pesquisa também revelou que, devido às operações policiais, 56,6% dos moradores ficaram impedidos de usar meios de transporte, 42,8% não puderam desfrutar de atividades de lazer, 33,3% não receberam encomendas, 32,3% não conseguiram comparecer a consultas médicas e 26% foram impossibilitados de estudar.
No que diz respeito ao comércio local, as perdas anuais, incluindo redução nas vendas, custos de reparo e reposição, foram estimadas em R$ 2,5 milhões, equivalendo a 34,2% do faturamento desses empreendimentos.
Parecer da polícia
Em resposta, a Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro (SEPM) enfatizou que as ações da corporação são planejadas com base em informações de inteligência, seguindo critérios técnicos e a legislação vigente, visando à preservação de vidas. A SEPM também mencionou investimentos em treinamento, melhorias nas condições de trabalho dos policiais e equipamentos para aumentar a técnica e segurança das ações.
A Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol), por sua vez, destacou que todas as operações são cuidadosamente planejadas com base em informações de inteligência, incluindo mapeamento de locais. A instituição afirmou que prioriza a preservação de vidas, tanto de agentes quanto de cidadãos, e conta com a Agência Central de Inteligência para auxiliar nas decisões estratégicas e operacionais de combate ao crime.
Foto destaque: Complexo Manguinhos. Reprodução/WikiFavelas.