Americana sobrevive após passar 6 horas congelada em acidente na neve

Iamara Lopes Por Iamara Lopes
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Era uma manhã de dezembro, os últimos dias do ano de 1980, quando um homem chamado Wally Nelson, morador de Minnesota, Estados Unidos, tropeçou em um corpo. Era de sua amiga, Jean Hillard, caído na neve a poucos metros de sua casa. A jovem estava exposta a congelante temperatura de -30°C há 6 horas, após tropeçar e perder a consciência. A jovem foi encontrada em estado de rigidez, “solidamente congelada”, segundo os relatos da época. Apesar da situação extrema, Jean sobreviveu. Esta semana, após 40 anos do acidente, Hillard, hoje com 62 anos, relembrou esse capítulo de sua vida, considerado por ela como um milagre. 



Jornal local noticiando seu congelamento e impressionante recuperação (Foto: reprodução/jornal local/Aventuras na História) 


Sobrevivente de um congelamento

Jean Hillard vestia um casaco de inverno, luvas e botas, quando saiu do carro e tentou buscar a ajuda de um amigo após perder o controle do veículo e não conseguir prosseguir viagem. Porém, calculou mal a distância em meio a zona rural. Ela imaginava que encontraria ajuda a cerca de 800 metros, mas acabou caminhando 3,2 quilômetros durante uma hora. A noite com temperatura de -30ºC castigou seu corpo e em algum momento a jovem tropeçou e perdeu a consciência. 

Eu a agarrei pelo colarinho e a joguei na varanda”, Wally Nelson relataria anos depois em uma entrevista à Rádio Pública de Minnesota. “Achei que ela estava morta. Congelou mais que uma tábua, mas vi algumas bolhas saindo de seu nariz”. Se não fosse a agilidade de Nelson em socorrer sua amiga, Jean provavelmente seria mais uma entre as milhares de mortes provocadas pela hipotermia a cada ano. Sua história teve um final feliz e tornou-se conhecida no mundo inteiro. Ela estava tão rígida que não foi necessário utilizar uma maca para socorrê-la até o hospital mais próximo. Ali os médicos identificaram batimentos cardíacos e começou uma corrida contra o tempo por sua vida. 

Sobreviver a baixas temperaturas é um acontecimento raro. No caso Jean, a raridade também se dá por ela ser a única pessoa de que se tem registros a passar por um congelamento, sobreviver e viver após o episódio sem sequelas. Nas palavras de George Sather, o médico que a tratou: “O corpo estava frio, completamente sólido, como um pedaço de carne congelada”. Diversas agulhas foram quebradas até que as enfermeiras conseguissem acessar uma veia para inserção de soro e medicação. 

Jean foi aquecida por bolsas térmicas por algumas horas e após isso o corpo dela voltou ao normal. Ela já falava ao meio-dia, ficando com pouco mais do que alguns dedos dos pés dormentes e algumas bolhas. Hillard passou sete semanas no hospital sendo observada e reaprendendo a andar. Após isso, ela recebeu alta e conseguiu viver uma vida normal, sem que a noite onde congelou, assim como um alimento no freezer, afetasse sua vida futura. “É como se alguém tivesse apagado as luzes e eu dormi”.



Jean Hilliard internada em companhia de seus pais ( Foto: reprodução/jornal local/Aventuras na História)


Um golpe de sorte

Quando a água congela, ocupa um volume maior na forma sólida em comparação com seu estado líquido. Essa expansão do material pode romper ou lesionar órgãos e tecidos.Também há o risco da formação de cristais pontiagudos de gelo, formados em lugares errados, perfurando membranas celulares, provocando manchas escuras na pele. Quando isso acontece, os tecidos afetados morrem. A essa sequência de acontecimentos, damos o nome de congelamento de tecidos, resultando muitas vezes em amputação e perda do local afetado. No inverno as áreas afetadas mais rapidamente são as extremidades do corpo como dedos, nariz, lábios e até mesmo cílios e sobrancelhas.

Técnicas de congelamento são utilizadas em ambientes controlados, como salas cirúrgicas e uma vez submetido ao procedimento, o paciente “revive”, seguindo uma vida normal.  Uma questão muito importante está na definição de “congelado”. Apesar de baixa, a temperatura corporal interna de Hillard ainda estava acima de zero. Há uma grande diferença entre um metafórico “congelado até os ossos” e literalmente sangue solidificado nas veias. Quando foi socorrida a temperatura de Hillard não chegava a 27ºC. O episódio segue intrigando a sociedade e a comunidade médica. 

Foto Destaque: A americana Jean Hilliard, única pessoa no mundo a sobreviver a um congelamento intenso sem sequelas (Reprodução/FOX9/IstoÉ)

Jornalista formada pela Universidade Cruzeiro do Sul e pós-graduanda em Jornalismo Investigativo. Leitora voraz, entusiasta de diferentes idiomas, documentarista, apaixonada por viagens, histórias e direitos humanos. Amo o jornalismo, independente do formato. Exploradora do universo dos blogs e agora newsletters.
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