Canadá e Índia vivem momentos de tensão diplomática

Felipe Pirovani Por Felipe Pirovani
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No dia 18 de junho deste ano, um líder da religião Sikh foi assassinado em frente a um templo no Canadá. Para o governo canadense e as organizações de sua religião, Hardeep Singh Nijar era chamado de ativista dos direitos humanos. Porém, para o governo indiano, era visto como um criminoso. Na última segunda-feira, o primeiro-ministro do Canadá incitou o governo indiano a investigar o assassinato de Nijar, pois ele teria evidências plausíveis que ligam a capital indiana, Nova Deli, ao homicídio.

As acusações

Trudeau afirmou em uma sessão parlamentar de emergência que o seu governo possui evidências concretas de que a Índia estaria diretamente ligada à morte do ativista Nijar. “O envolvimento de um governo estrangeiro no assassinato de um cidadão canadense em solo canadense é uma violação inaceitável de nossa soberania”, relatou o primeiro-ministro.

Após as acusações contra o governo indiano, a ministra de relações exteriores do Canadá, Melanie Joly, disse que como consequência ao atentado, o chefe da agência de inteligência indiana, conhecida pela sigla RAW (Research and Analysis Wing), foi expulso do país. O homem, o qual Joly não identificou nominalmente, ocupava um alto cargo de diplomata no Canadá.

No entanto, a Índia respondeu às acusações canadenses. O Ministério de Relações Exteriores do governo indiano disse na terça-feira que havia expulsado um diplomata canadense do país. Em comunicado, o Estado do país asiático relatou: “O diplomata em questão foi convidado a deixar a Índia nos próximos cinco dias. A decisão reflete a crescente preocupação do governo da Índia com a interferência de diplomatas canadenses em nossos assuntos internos e o seu envolvimento em atividades anti-Índia”.

Narendra Modi, primeiro-ministro indiano, rebateu as acusações feitas por Trudeau pessoalmente. Isso porque nas últimas semanas ocorreu a reunião do G20 em Nova Delhi, em que o líder da nação canadense questionou sobre as acusações que, segundo um ex-conselheiro de Justin Trudeau, caso se revelem verdadeiras, terão o efeito de uma bomba no mundo todo.


Manifestantes da religião Sikh fazem discurso e estendem bandeira de movimento separatista nos Estados Unidos. (Foto:Reprodução/X/@jaskirat_dehal)


A relação entre Índia e Sikh

O sikhismo é uma religião que se originou como uma reforma do hinduísmo no século XVI, incorporando também elementos do islamismo. Atualmente, o sikhismo conta com 27 milhões de adeptos, tornando-se a quinta maior religião do mundo. No entanto, o principal desafio reside na concentração desses religiosos, visto que cerca de 15 milhões de sikhs vivem no estado do Punjab, na fronteira entre a Índia e o Paquistão.

O estado do Punjab foi objeto de reivindicação por parte da população sikh. Isso ocorreu devido à separação entre a Índia e o Paquistão em 1947, o que resultou no deslocamento dos seguidores dessa religião, que têm diferenças tanto com os hindus quanto com os muçulmanos. A partir desse ponto, surgiram conflitos, uma vez que, mesmo reivindicando o estado do Punjab em 1966, os sikhs desejavam maior autonomia e iniciaram lutas separatistas com o objetivo de estabelecer seu próprio país, conhecido como Calistão.

A Índia sempre se opôs firmemente a esse movimento separatista, chegando a organizar atentados, como o ocorrido em junho de 1984. Nessa época, a primeira-ministra Indira Gandhi ordenou que as forças militares invadissem o maior templo sikh, resultando em várias mortes, incluindo a da própria primeira-ministra, que foi assassinada meses depois por guarda-costas adeptos da religião. Atualmente, o Canadá concentra a maior parte da diáspora sikh que vivem fora da Índia, com cerca de 780 mil pessoas. Hardeep Singh Nijar vivia no Canadá desde 1997, quando fugiu da Índia.

 

 

Foto destaque: O primeiro-ministro da Índia e do Canadá discutem suas relações diplomáticas na cúpula do G20. Reprodução/instagram/@justinpjtrudeau.

Estudante de jornalismo na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), atualmente cursando o 4° período.
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