Crematórios estão saturados na China

Luísa Giraldo Por Luísa Giraldo
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Com o aumento de casos de Covid-19 que as autoridades consideram impossível de se rastrear, os crematórios na China estão lutando para gerenciar a quantidade de cadáveres. A decisão do governo de acabar com os confinamentos, as quarentenas e rastreios em massa, que duraram quase três anos, fez com que os contágios pela doença crescessem no país e estão sobrecarregando os hospitais e esvaziando as prateleiras das farmácias.

Os trabalhadores de crematórios de todo o país, do nordeste ao sudoeste, disseram à Agence France-Presse (AFP), agência global de notícias, que não estão conseguindo acompanhar o aumento das mortes e que os crematórios estão saturados.

Na cidade de Chongqing, com 30 milhões de habitantes, em que as autoridades pediram que pessoas com sintomas leves fossem ao trabalho, um funcionário contou que o crematório ficou sem espaço para armazenar cadáveres.


<blockquote class=”twitter-tweet”><p lang=”en” dir=”ltr”>⚠️THERMONUCLEAR BAD—Hospitals completely overwhelmed in China ever since restrictions dropped. Epidemiologist estimate &gt;60% of &amp; 10% of Earth’s population likely infected over next 90 days. Deaths likely in the millions—plural. This is just the start—<a href=”https://t.co/VAEvF0ALg9″>pic.twitter.com/VAEvF0ALg9</a></p>&mdash; Eric Feigl-Ding (@DrEricDing) <a href=”https://twitter.com/DrEricDing/status/1604748747640119296?ref_src=twsrc%5Etfw”>December 19, 2022</a></blockquote> <script async src=”https://platform.twitter.com/widgets.js” charset=”utf-8″></script>

Hospital lotado na China após as restrições do isolamento acabarem (Reprodução/Twitter)


Um dos trabalhadores, que optou não ter o sobrenome identificado, disse que o número de corpos aumentou nos últimos dias. “Estamos muito ocupados, já não há espaço refrigerado para guardar cadáveres”, detalhou ele, apesar de não ter feito menção direta do pico de mortes à Covid.

No sul da China, em Guangdong, um dos funcionários de um crematório no distrito de Zengcheng contou à AFP que eles estavam cremando mais de 30 cadáveres por dia. “Recebemos corpos enviados de outros distritos. Não há outra opção”, declarou.

Um segundo contou que o outro incinerador da cidade também estava extremamente ocupado. “É três ou quatro vezes mais do que nos anos anteriores, estamos queimando cerca de 40 cadáveres por dia, quando antes era apenas uma dúzia. Toda Guangzhou está assim”, acrescentou ele, além de apontar que é difícil dizer se há relação do aumento com a Covid-19.

Na cidade de Shenyang, que fica no Nordeste do país, um dos agentes funerários relatou que os corpos demoravam até cinco dias para serem enterrados. Isso porque os crematórios estavam “absolutamente saturados”. Ao ser questionado se a situação tinha relação com a Covid, ele respondeu: “O que você acha? Nunca vi um ano como este”.

 

Potencial de mutação

Na capital do país, em Pequim, as autoridades registraram somente cinco mortes pela doença nesta terça-feira (20), contra duas na véspera. Em frente ao crematório de Dongjiao, também em Pequim, no entanto, repórteres da AFP viram mais de doze veículos esperando para entrar – a maioria deles eram carros funerários. Um dos motoristas disse que estava esperando há várias horas.

Não ficou claro se o engarrafamento foi causado por um aumento no número de mortes por Covid-19. A equipe, por outro lado, se recusou a responder às perguntas relacionadas ao assunto.

O rastreamento de infecções foi dificultado com o fim dos testes obrigatórios. Por isso, as autoridades, na semana passada, reconheceram que era “impossível” saber a atual magnitude desse surto epidêmico.

Além disso, nesta terça-feira (20), as autoridades de saúde chinesas disseram que apenas as mortes causadas diretamente por insuficiência respiratória provocada pelo vírus seriam incluídas nas estatísticas como vítimas da doença.

Em uma coletiva de imprensa da Comissão Nacional de Saúde, no Hospital da Universidade de Pequim, Wang Guiqiang disse que, mesmo depois de uma infecção com a variante ômicron, a principal causa de morte ainda era por doenças anteriores.

“As pessoas mais velhas têm outras patologias prévias, só um número muito reduzido morre diretamente de insuficiência respiratória causada pela Covid”, detalhou Guiqiang.

Na segunda-feira (19), o Departamento de Estado dos EUA afirmou, por outro lado, que o aumento de casos de Covid-19 na China era uma preocupação internacional.

O porta-voz norte-americano Ned Price disse que o balanço do vírus é preocupante para o resto do mundo, tendo em vista o tamanho do PIB da China. “Agora sabemos que sempre que o vírus se espalha, fica fora de controle, tem o potencial de sofrer mutações e ameaçar pessoas em todos os lugares”, disse.

Foto destaque: fila de carros esperando para entrar no crematório (Reprodução/O Globo)

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