Famílias afegãs lutam pela sobrevivência diante da fome

Suelem Oliveira Por Suelem Oliveira
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As famílias afegãs estão lidando de todas as formas para conter o desespero da pobreza e da fome, alguns estão dando medicamentos para seda seus filhos que passam fome, outros está vendendo suas filhas e órgãos para sobreviver. Desde que o Talibã retornou ao poder no segundo inverno, milhões de pessoas estão passando fome, devido ao corte de fundos de ajuda aos estrangeiros.

Um dos moradores da região, Abdul Wahab, contou detalhes ao jornal BBC sobre como tem sido a luta pela sobrevivência. “Nossos filhos continuam chorando e não dormem. Não temos comida. Então vamos à farmácia, compramos comprimidos e damos aos nossos filhos para sedá-los”, contou Wahab.

Wahab mora nas proximidades da terceira maior cidade do país, Herat, em um assentamento de milhares de pequenas casas de barro que foram crescendo ao longo dos anos, a região é ocupada por pessoas deslocadas e atingidas por guerras e desastres naturais.  Wahab está entre um grupo de mais de dez homens que se reuniram ao redor dos repórteres que acompanhavam suas realidades para sobreviver, durante a conversa, ele foi questionado sobre a quantidade de pessoas que estavam medicando seus filhos para sedá-los, sem excitar, Wahab afirmou que muitos deles estão realizando a prática.

Ao tocar no assunto, outro morador, Ghulam Hazrat, retirou do bolso de sua túnica uma cartela de comprimidos, Alpazolam. Medicamento utilizado por prescrição médica para o tratamento de transtornos de ansiedade. Em seguida, diversos moradores mostraram aos profissionais outras cartelas de variados remédios indicados para depressão e ansiedade.


Pai e filho moradores do Afeganistão. (Foto: Reprodução/Instagram)


Os médicos alertam que, esses medicamentos, administrados em crianças menores e sem alimentação adequada podem causar uma série de danos à saúde como fadiga crônica, distúrbios do sono e de comportamento. A ONU caracteriza a situação que ocorre no Afeganistão como uma “catástrofe” humanitária. A maioria dos moradores trabalham fazendo bicos e levam uma vida precária há muitos anos. Após assumir o poder em agosto passado, sem obter reconhecimento da comunidade internacional, o Talibã, congelou os fundos estrangeiros destinados ao Afeganistão, provocando um colapso econômico que deixou a maioria sem trabalho.

Um morador da região que não teve sua identidade revelada contou ao BBC que realizou uma cirurgia para remover o rim. “Não havia saída. Ouvi dizer que você poderia vender um rim em um hospital local. Fui lá e disse a eles que estava disposto. Algumas semanas depois, recebi um telefonema pedindo que eu fosse ao hospital. Fizeram alguns exames, depois injetaram em mim algo que me deixou inconsciente. Fiquei com medo, mas não tive opção”, disse o morador que afirmou ter recebido o equivalente a US$ 3.100 (cerca de R$ 17 mil) pelo rim. A prática de venda de órgãos em situações de necessidade já é algo praticado antes do Talibã retomar o poder.

Outras histórias de moradores provam ainda mais o desespero, uma jovem que já havia vendido seu rim para quitar as dívidas, já cogita em vender sua filha, de dois anos, para pagar novas dívidas, a esposa e o marido, choram ao lidar com a realidade da família.

O jornal BBC questionou o Hameedullah Motawakil, porta-voz do governo provincial do Talibã em Herat, sobre as medidas que estão sendo tomadas para combate à fome. Ele respondeu dizendo que a situação é resultado das sanções internacionais ao Afeganistão e do congelamento de ativos afegãos. Segundo ele, o governo está tentando identificar quantas pessoas estão nessa situação, ele afirma que muitos estão mentindo sobre suas condições para obter ajuda, ele finalizou afirmando que o Talibã está tentando criar empregos para essa população.

 

Foto Destaque: Morador do Afeganistão. Reprodução/Instagram

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