A confirmação da indicação de Marco Antonio Freire Gomes para o Comando do Exército, em substituição a Paulo Sérgio Nogueira, novo ministro da Defesa, marca um novo recorde do governo Jair Bolsonaro: Freire Gomes será o terceiro chefe da Força em apenas quatro anos, o que não ocorreu nem mesmo na ditadura militar.
O cenário político de Bolsonaro, contudo, difere da conflagração entre Jango e o Exército nos anos que antecederam o golpe militar. A nova dança das cadeiras no comando do Exército faz parte de uma acomodação que fortalece o núcleo militar do governo. Paulo Sérgio deixará o cargo para assumir a Defesa no lugar de Walter Braga Netto, que deverá ser indicado como companheiro de chapa do presidente pelo PL.
A troca constante de comandantes virou piada entre militares de hierarquias altas. Em conversas de bastidores, comenta-se jocosamente que o Comando do Exército se assemelha ao das polícias militares, onde a rotatividade é bem mais comum.
General Marco Antonio Freire Gomes (Foto:Reprodução/Alan Santos)
A primeira substituição, quando Edson Pujol foi apeado do cargo por Bolsonaro, ocorreu no contexto da crise militar deflagrada pela demissão de Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa. A queda de Azevedo e Silva se deu porque o ministro nunca se alinhou completamente a Bolsonaro, assim como Pujol, que contrariou o discurso negacionista do Palácio do Planalto sobre a pandemia, e procurou distanciar a instituição da política enquanto o presidente fazia ameaças golpistas contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso.
Bolsonaro chegou a dizer que as Forças Armadas “estavam do seu lado” e frequentemente falava em acionar “seu Exército”. Na época, bolsonaristas flertavam ainda com a instauração do Estado de Defesa. A declaração gerou forte reação de Azevedo e Silva, que publicou uma nota frisando a independência das Forças.
Na ocasião, Frota liderava a chamada “linha-dura” das Forças Armadas e tentava se viabilizar para a eleição presidencial indireta de 1978. A candidatura contrariava a preferência do presidente por João Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), e levou à sua queda.
Geisel também teve três comandantes do Exército ao longo de seu mandato (1974-1978), mas pela força do imponderável: o escolhido, o general-de-exército paulista Vicente de Paula Dale Coutinho, faleceu apenas dois meses após assumir o cargo. Foi substituído por Frota, demitido em 1977 e sucedido por Fernando Bethlem.
A crise de 2021 foi considerada pelos próprios militares a mais grave desde a demissão de Sílvio Frota do Ministério do Exército (equivalente ao Comando do Exército atualmente), durante o governo do ditador Ernesto Geisel, em 1974.
Foto Destaque: Reprodução/Marcos Corrêa/PR