Nesta segunda-feira, o Kremlin, sede do governo russo, confirmou que o líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, terá uma reunião de cúpula com Vladimir Putin, presidente da Rússia, nos “próximos dias”, para discutir fornecimento de armas.
Há especulações de que o encontro pode acontecer na cidade russa Vladivostok ainda este mês.
Encontros anteriores
Ambos os líderes se reuniram pela primeira vez em abril de 2019, basicamente dois meses depois do colapso da diplomacia nuclear de alto risco de Jong-Un com o então presidente dos EUA, Donald Trump.
Agora, a reunião com Putin, será a primeira confraternização do Kim com um líder estrangeiro desde que a Coreia do Norte fechou suas fronteiras em janeiro de 2020 devido ao COVID-19, já que o país impôs controles extremamente rígidos em suas fronteiras durante três anos subsequentes para proteger o seu deficiente sistema de saúde.
Especulações
O encontro entre as duas figuras políticas era objeto de especulações há dias, mas apenas agora houve uma confirmação oficial da presidência russa.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse aos repórteres que Putin e Kim irão liderar as suas delegações nas conversações e também que podem se encontrar “individualmente, se necessário”. A breve declaração no site do Kremlin disse que a visita foi a convite de Putin, e a Agência Central de Notícias Coreana, a fonte oficial da Coreia do Norte, disse que os líderes se reuniriam sem especificar quando e onde.
No entanto, um possível local é a cidade de Vladivostok, no leste da Rússia, onde Putin chegou na segunda-feira para participar de um fórum internacional que vai até quarta-feira, segundo a agência de notícias russa TASS. A cidade, localizada a cerca de 680 quilómetros a norte de Pyongyang, foi também o local do primeiro encontro de Putin com Kim em 2019.
Jornalistas da Associated Press, viram um trem verde com detalhes amarelos em uma estação no lado norte-coreano de um rio que faz fronteira com a Rússia, trem este semelhante ao usado pelo Jong-Un durante viagens anteriores ao exterior. Não ficou claro se Kim estava no trem, mas o veículo foi visto indo e voltando entre a estação e o acesso à ponte que liga os países.
Trem visto junto ao slogan coreano que diz “rumo a uma nova vitória” na fronteira da Coreia do Norte com a Rússia (Foto: Reprodução/NgHanGuan/AP)
Citando fontes não identificadas do governo sul-coreano, o jornal Chosun Ilbo informou que o trem provavelmente saiu da capital norte-coreana, Pyongyang, na noite de domingo, e que uma reunião entre Kim e Putin é possível já na terça-feira. A agência de notícias Yonhap e alguns outros meios de comunicação, como a agência de notícias japonesa Kyodo, publicaram relatórios semelhantes.
No fim, não está claro até que ponto a cooperação militar entre Kim e Putin pode ir, mas qualquer sinal de melhora nas relações preocupará adversários como os Estados Unidos e a Coreia do Sul. A Rússia busca reprimir uma contraofensiva ucraniana e prolongar a guerra, enquanto a Coreia do Norte está intensificando o ritmo recorde de testes de mísseis para protestar contra as ações dos Estados Unidos de reforçar alianças militares com a Coreia do Sul e o Japão.
Objetivo
Depois de uma relação fria e complicada durante décadas, a Rússia e a Coreia do Norte têm-se aproximado desde a invasão da Ucrânia por Moscou em fevereiro de 2022. O vínculo foi impulsionado pela necessidade de Putin de ajuda na guerra, e pelos esforços de Kim para aumentar a visibilidade de suas parcerias com aliados tradicionais, como Moscou e Pequim, à medida que ele tenta romper com o isolamento diplomático, para fazer com que a Coreia do Norte faça parte de uma frente unida contra Washington.
Desde o ano passado, as autoridades norte-americanas suspeitam que a Coreia do Norte estaria fornecendo à Rússia granadas de artilharia, foguetes e outras munições, muitas das quais são provavelmente cópias de munições da era soviética.
“A Rússia necessita urgentemente (de suprimentos de guerra). Senão, como poderia o ministro da defesa de um país tão poderoso que está em guerra vir para um país pequeno como a Coreia do Norte?” disse Kim Taewoo, ex-chefe do Instituto Coreano para a Unificação Nacional de Seul.
Comprar munições da Coreia do Norte seria uma violação das resoluções das Nações Unidas, apoiadas pela Rússia, que proíbem todo comércio de armas com o país isolado. No entanto, agora que enfrenta sanções internacionais e controles de exportação devido à sua guerra na Ucrânia, a Rússia tem buscado armas de outros países sancionados, como a Coreia do Norte e o Irã.
A Coreia do Norte possui vastos estoques de munições, mas Du Hyeogn Cha, um analista do Instituto de Estudos de Políticas Asan em Seul, duvidava que o país poderia rapidamente enviar quantidades tão significativas para a Rússia, uma vez que a estreita ligação terrestre entre os dois países só pode lidar com um volume limitado de tráfego ferroviário.
De qualquer forma, Kim Jong-Un disse que a cooperação estratégica e tática de apoio entre os dois países desde então, atingiram um novo nível nos esforços comuns para frustrar ameaças e provocações de forças militares hostis. Sem especificar que “forças hostis” eram estas, é possível deduzir que Kim Jong-Un tenha se referido aos Estados Unidos e seus aliados, uma vez que a expressão já é frequentemente utilizada pelo governante.
E o presidente russo salientou ainda que uma maior proximidade seria do interesse de ambos os países, e que isto ajudaria a fortalecer a segurança e a estabilidade na península coreana e do nordeste asiático.
Foto Destaque: Kim Jong Un e Vladimir Putin dando as mãos durante o encontro em Vladivostok na Rússia em Abril de 2019. Reprodução/YuriKadobnov/AP