Segundo um histórico de imagens produzidas por satélites, nos últimos anos os Estados Unidos, a Rússia, e a China têm escavado novos túneis e construído novas instalações nos locais de testes nucleares que há em seus respectivos territórios. Isso ocorre em um período de grande tensão geopolítica entre as potências, que atinge o patamar mais alto em décadas.
As imagens, capturadas em um período que demonstra a possível expansão dessas operações desde 2018, não são provas definitivas que os países estejam se preparando para recomeçar os testes nucleares, mas a análise feita em um estudo militar de não-proliferação demonstra o substantivo aumento na atividade em três locais: no extremo oeste de Xinjiang na China, em um arquipélago do Oceano Ártico na Rússia, e no deserto de Nevada nos EUA.
Atualmente, devido ao Tratado de Proibição de Testes Nucleares de 1996, testes nucleares subterrâneos estão proibidos. No entanto, suspeitas já foram levantadas às potências nucleares.
Imagens apontam a possibilidade de um novo túnel em Lop Nor, onde a China realiza testes nucleares. (Foto:Reprodução/Planet Labs PBC/Middlebury Institute)
Opiniões de especialistas
Com os dados dos últimos cinco anos, foi possível observar a construção de nova infraestrutura, incluindo novos túneis, estradas e unidades de armazenamento, além de um aumento significativo no tráfego de veículos, conforme relata Jeffrey Lewis, professor adjunto do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, no Centro James Martin para Não-Proliferação.
“Há realmente muitos indícios que estamos vendo que sugerem que a Rússia, a China e os Estados Unidos podem retomar os testes nucleares,” o professor Jeffrey afirmou, e o coronel Cedric Leighton, aposentado ex-analista de inteligência da Força Aérea dos EUA, complementou: “É muito claro que todos os três países, Rússia, China e Estados Unidos, investiram muito tempo, esforço e dinheiro não só na modernização dos seus arsenais nucleares, mas também na preparação dos tipos de atividades que seriam necessárias para um teste.”
A ideia de um conflito armado ainda não é iminente, mas o presidente russo Vladimir Putin já disse, em fevereiro, que caso os EUA se movessem primeiro nesse quesito, a Rússia também ordenaria um teste.
Atualização do Relógio do Juízo Final de 2023 marca 90 segundos para a meia-noite. (Foto:Reprodução/Hastings Group Media/AFP)
Possibilidade de lançamento
Segundo o Boletim de Cientistas Atômicos, proeminente grupo de vigilância nuclear, neste ano o risco de algum evento nuclear catastrófico pode ser o mais precário desde 1947, poucos anos depois do lançamento das bombas em Hiroshima e Nagasaki, e dos primeiros testes de armas nucleares.
O anúncio teve a forma do icônico Relógio do Juízo Final, que foi implantado como forma de simbolicamente medir o quão perto o mundo está da autodestruição, seja por guerras, doenças, ou mudanças climáticas. No início de 2023, a organização marcou a medida sem precedentes de 90 segundos para meia-noite, com uma das razões citadas sendo a guerra na Ucrânia e a aberta possessão da Rússia de bombas nucleares.
“As ameaças veladas da Rússia de usar armas nucleares lembram ao mundo que a escalada do conflito — por acidente, intenção ou erro de cálculo — é um risco terrível,” o Boletim de Cientistas Atômicos afirmou. “A possibilidade de o conflito escapar ao controle de qualquer pessoa permanece elevada.”
Devido à gravidade da situação, até mesmo a preparação de infraestrutura nos Estados Unidos, Rússia, e China para testes nucleares é suficiente para causar alarme nos especialistas do cenário geopolítico global.
Foto Destaque: Imagens mostram possibilidade de instalações subterrâneas na zona para teste nuclear de Novaya Zemlya. Reprodução/Planet Labs PBC/Middlebury Institute