O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, toma posse de seu novo cargo neste domingo (10) para um mandato de quatro anos. A dúvida que perdura é qual Milei irá governar: o influencer utópico e ultra-liberal das propagandas políticas, ou uma versão mais pragmática que negocia com pessoas de ideais diferentes para conseguir aprovação?
Dois lados de Milei
A dúvida se deve ao fato das mudanças pré e pós a eleição de Milei. Enquanto candidato, Milei chamou atenção por seus ideais radicais, se apresentando como um político da direita não tradicional contra a “casta” política. Agora, eleito, ele tem se aproximado de pessoas ligadas a políticos que sempre criticou, e criou uma equipe polarizada, composta por egressos do governo de direita de Maurício Macri, e de esquerda como de Alberto Fernández.
O presidente eleito Javier Milei assume a presidência neste domingo (10). (Foto: reprodução/REUTERS/Agustin Marcarian)
Para o diretor da consultoria argentina Escenarios, Federico Zapata, é difícil saber qual Milei irá governar pelos próximos quatro anos: “Não sabemos como será ele no governo. No período do segundo turno houve uma transição muito relevante de estilo e de agenda”. O governo montado por Milei é muito mais plural do que se esperava, contando com políticos do partido Proposta Republicana, e alguns peronistas não-kirchneristas, como o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli.
Segundo Zapata, os eleitores de Milei não se sentirão traídos pelas mudanças, pois foram fidelizados pelo presidente eleito. Para ele, não há probabilidade dos eleitores o abandonarem nem se algumas propostas forem deixadas de lado, como a dolarização da economia e encerramento do Banco Central.
Apoio de outros partidos
Considerando que o partido de Milei não é maioria na Câmara dos Deputados, ele precisará do apoio de outros partidos para conseguir aprovação para mudanças. Para isso, Milei terá que barganhar e possivelmente conceder concessões.
Na Argentina, a eleição para o Legislativo é em lista fechada, o que significa que os dirigentes de partido controlam quem estará no topo da lista e no fim da lista. Assim, os chefes de partido das províncias têm mais poder de barganha.
O professor Sergio Morresi, da Universidad Nacional de General Sarmiento e autor do livro “A nova direita argentina e a democracia sem política”, diz que entre os eleitores de Milei, há pessoas que acreditam que a vitória no segundo turno foi tão significativa que os legisladores terão receio de se opor ao novo presidente e suas políticas, e vão se alinhar só por essa razão, possibilidade que o professor acha pouco provável.
Quem comparece à posse
A cerimônia de posse, que começa às 11h (horário de Brasília) em Buenos Aires, contará com a presença de diversos chefes de estado, como Luis Lacalle Pou, presidente do Uruguai, Santiago Peña, presidente do Paraguai, Daniel Noboa, presidente do Equador, Gabriel Boric, presidente do Chile, Viktor Orban, presidente da Hungria, Volodymir Zelensky, presidente da Ucrânia e Felipe VI, rei da Espanha.
O presidente Lula não estará presente, e o Brasil será representado por Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores. Não é a primeira vez que um presidente brasileiro não comparece à posse de um presidente argentino por conta de sua oposição política. O ex-presidente Jair Bolsonaro também não compareceu ao evento de posse de Alberto Fernandéz.
No entanto, Jair Bolsonaro foi convidado para a posse de Javier Milei, e já se encontra em Buenos Aires para a posse.
O evento tem início no prédio do Congresso. Milei passará pela Casa Rosada e deve terminar a cerimônia no Teatro Colón, à noite.
Foto destaque: Javier Milei assume presidência da Argentina neste domingo (10). (Reprodução/Agustin Marcarian/Reuters)