Um jovem de 20 anos surpreendeu a juíza e um promotor da cidade de Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte, ele pediu para ficar preso por mais algumas horas, para que pudesse jantar na cadeia. Após o término da audiência, por volta das 16h, Luan surpreendeu a todos pedindo para continuar no Presídio Municipal de Santa Luzia até a hora do jantar, que é servido por volta das 18h. O rapaz, que faz bicos como servente de pedreiro, disse que passava fome havia dias.
Luan Vitor da Silva foi preso em flagrante pelo roubo de um celular na madrugada de sábado (4). Ele não tinha antecedentes criminais e foi solto no dia seguinte após audiência de custódia. Luciano Sotero Santiago promotor do MPMG (Ministério Público de Minas Gerais), disse que a fala do rapaz foi “emblemática”.
“Ele pediu de forma muito espontânea, muito sincera, para não ser solto porque queria jantar”, relatou o promotor ao UOL. “Ele falou: ‘Excelência, deixa eu ficar preso até o jantar? Estou com fome, tem dias que eu não como’“.
Jovem pede para ficar preso para não perder a janta (Foto:Reprodução/Getty Images)
A juíza Elâine de Campos Freitas, da Comarca de Santa Luzia, tranquilizou o réu, afirmando que o alvará de soltura demoraria algumas horas para sair e que ele poderia jantar.
De acordo com Santiago, a prática da Justiça brasileira em casos como o de Luan, que responde agora em liberdade ao artigo 157 (roubo), é manter a prisão. “No caso do Luan, ele utilizou uma pequena faca para subtrair um celular. Em regra, ele ficaria preso, mas eu cumpri o que está na Constituição. Não se pode cumprir pena antecipada antes de o processo ser julgado. E há evidências de que o roubo foi praticado em razão de fome“, afirmou o promotor.
Foi solicitado também pela juíza que o rapaz fosse encaminhado para a Secretaria de Saúde do município para receber acompanhamento médico, já que ele aparentou problemas psiquiátricos
O jovem relatou ter problemas para dormir, aparentou “não ter muito discernimento“, um “olhar distante e fala oscilante“, segundo o promotor. “A gente não sabe se ele está em sofrimento psíquico e qual seria o tratamento adequado“, afirmou. “Ou seja, ele precisou ser preso para conseguir acesso a comida e tratamento médico“, disse Luciano Sotero Santiago.
Segundo Santiago, o rapaz é pardo, de “constituição corporal frágil” e não deixou claro se vive em situação de rua. Ele deu um endereço onde mora o pai, mas afirmou que dorme em outro endereço, onde consegue os bicos como servente de pedreiro. “É muito triste que a falta de perspectiva coloque jovens como o Luan diante de um dilema como esse.
Desejar estar preso, ainda que em condições precárias, com celas mofadas e superlotadas, para poder ter cama, comida e teto“, afirma o promotor. “Me pareceu que estar preso, para ele, era um alívio. Ele estava no limite da fome. Se continuasse preso, as chances de ele ser cooptado pelo tráfico ou sofrer abuso sexual lá dentro são muito grandes. Ninguém sai de lá bacana“.
Foto Destaque: Reprodução/Google Maps