Lollapalooza é flagrado com trabalhadores em condições de escravidão

Sergio Gelio Por Sergio Gelio
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O Lollapalooza, um festival multimilionário de música com atrações internacionais renomadas, foi flagrado nesta semana submetendo trabalhadores a condições análogas à escravidão. Cinco trabalhadores que atuavam na preparação do evento foram resgatados em condições precárias no autódromo de Interlagos, zona sul de São Paulo, onde os shows acontecem.

Eles trabalhavam como carregadores de bebidas em jornadas de 12 horas diárias e não tinham registro trabalhista. Os trabalhadores atuavam sem dignidade, sem papel higiênico, colchão, equipamento de proteção, e foram obrigados a dormir em cima de papelão e paletes para vigiar a carga. O evento, que aconteceu em março de 2022, teve grandes nomes da música, como Billie Eilish, Lil Nas X e Drake e, no ano anterior, movimentou mais de R$ 400 milhões, segundo a prefeitura paulistana.

Os trabalhadores resgatados prestavam serviços para a empresa Yellow Stripe, uma terceirizada contratada pela Time 4 Fun, dona do Loolapalooza no Brasil. Após o resgate, as empresas foram obrigadas a ressarcir cada um dos trabalhadores em aproximadamente R$ 10 mil pelos salários devidos, verbas rescisórias e horas extras.

O valor ainda pode aumentar, caso o Ministério Público do Trabalho entre com pedido de verbas indenizatórias. Ambas empresas foram notificadas pelas autoridades do trabalho e serão responsabilizadas diretamente pela situação dos cinco trabalhadores escravizados.

As empresas alegaram que cumpriram as determinações do Ministério do Trabalho e que os trabalhadores foram devidamente contratados e remunerados. Entretanto, segundo o auditor fiscal do Trabalho Rafael Brisque Neiva, as empresas foram omissas e faltaram com a devida diligência no seu dever legal de fiscalizar o cumprimento da legislação trabalhista por parte da contratada.

Os trabalhadores resgatados relataram que eram ameaçados com a perda do emprego caso tentassem deixar o local após o expediente e que eram cobrados para ficar vigiando a carga nas tendas até o dia seguinte. Esse serviço não tinha sido combinado previamente com os cinco funcionários.


Público no Lollapalooza (Foto: Reprodução/UOL)


O Lollapalooza informou que mais de 9.000 pessoas trabalham no local do evento e que a prioridade é garantir as devidas condições de trabalho. Segundo o comunicado, é terminantemente proibido pela T4F que trabalhadores durmam no local, fato que fez com que fosse encerrada imediatamente a relação jurídica estabelecida com a Yellow Stripe. A T4F considera este um fato isolado, o repudia veementemente e seguirá com uma postura forte diante de qualquer descumprimento de regras pelas empresas terceirizadas.

Veja a nota oficial da organização do evento:

“Para realizar um evento do tamanho do Lollapalooza Brasil, que ocupa 600 mil metros quadrados no Autódromo de Interlagos e tem a estimativa de receber um público de 100 mil pessoas por dia, o evento conta com equipes que atuam em diferentes frentes de trabalho, em departamentos que variam da comunicação a operação de alimentos e bebidas, da montagem dos palcos a limpeza do espaço e a segurança. São mais de 9 mil pessoas que trabalham diretamente no local do evento e são contratadas mais de 170 empresas prestadoras de serviços. 

A T4F, responsável pela organização do Lollapalooza Brasil, tem como prioridade que todas pessoas envolvidas no evento tenham as devidas condições de trabalho garantidas e, portanto, exige que todas as empresas prestadoras de serviço façam o mesmo. 

Nesta semana, durante uma fiscalização do Ministério do Trabalho no Autódromo de Interlagos, foram identificados 5 profissionais da Yellow Stripe (empresa terceirizada responsável pela operação dos bares do Lollapalooza Brasil), que, na visão dos auditores, se enquadrariam em trabalho análogo à escravidão. Os mesmos trabalharam durante 5 dias dentro do Autódromo de Interlagos e, segundo apurado pelos auditores, dormiram no local de trabalho, algo que é terminantemente proibido pela T4F. 

Diante desta constatação, a T4F encerrou imediatamente a relação jurídica estabelecida com a Yellow Stripe e se certificou que todos os direitos dos 5 trabalhadores envolvidos fossem garantidos de acordo com as diretrizes dos auditores do Ministério do Trabalho. A T4F considera este um fato isolado, o repudia veementemente e seguirá com uma postura forte diante de qualquer descumprimento de regras pelas empresas terceirizadas.”

 

Foto destaque: Fiscalização Federal. Reprodução/UOL

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