Rosa Stanesco Nicolau, que diz nas redes sociais ter mais de 20 anos de experiência espiritual, é uma das envolvidas no golpe que lesou uma idosa de 82 anos, no Rio de Janeiro, em R$ 725 milhões – entre transferências em dinheiro, obras de arte e joias. A Polícia Civil do RJ afirma que a filha elaborou todo o plano, no início de 2020. O primeiro passo foi contratar uma mulher para abordar a mãe no meio da rua e alertá-la sobre uma morte iminente na família — no caso, a da própria filha.
A mulher, que se disse vidente, levou a idosa a outras duas comparsas, apresentadas como uma cartomante e uma mãe de santo, que confirmaram a previsão e lhe sugeriram pagar por “um trabalho” para salvar a filha.
Assustada, a idosa contou tudo para a filha, que, então, prosseguiu com o plano e suplicou para a mãe fazer o trabalho espiritual. A idosa obedeceu e fez, em um intervalo de 15 dias, pagamentos que totalizaram R$ 5 milhões.
Depois do início do “tratamento espiritual”, a filha começou a isolar a mãe dentro de casa, dispensando funcionários e prestadores de serviços domésticos. No início de fevereiro, contudo, a vítima começou a perceber que a filha tinha relação com as ditas videntes e parou de fazer os repasses. A filha começou a agredir e ameaçar a própria mãe, que só então percebeu o plano.
Sabine Boghici: namorada de Rosa e que ajudou a lesar a mãe de 82 anos. (Foto: Reprodução/Instagram)
De acordo com o delegado Gilberto Ribeiro, titular da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti), a desculpa usada por Rosa e a filha da idosa, Sabine Boghici, era que as obras precisavam ser rezadas.
“A filha e a Rosa começaram a levar as obras de arte da casa alegando que o quadro estava com mau-olhado, alguma coisa negativa, que precisava ser rezado. Eles foram levando, a idosa vendo aquilo, mas não tinha como recusar, estava completamente subjugada naquele momento, foram levando e levaram 16 quadros”, contou o delegado em entrevista para o site G1.
Quando os agentes da Deapti chegaram, Rosa Stanesco tentou fugir pela janela, mas foi descoberta e impedida.
Em 2004, ela também tentou uma fuga ousada, quando policiais faziam uma averiguação de denúncia por cartões clonados contra o então marido de Rosa. Ela pediu que os policiais fossem com ela até sua casa, já que estava sem sua identidade. No local, pediu para o síndico tirar seu carro da porta da garagem para que os policiais pudessem entrar, ao sair do veículo policial, ela se evadiu e entrou no carro retirado da garagem.
Em um processo de 2016, da 25ª Vara Criminal, uma consulente foi à Justiça narrando métodos e ameaças parecidas com os empregados com a idosa em 2022. Ela contou que Rosa queria mais dinheiro e passou a ameaçar sua família.
“A denunciada, na condição de mãe de santo conhecida como ´Maria Valéria de Oxóssi´, em comunhão de ações e desígnios com terceira pessoa não identificada, com consciência e vontade, constrangeu xxxxxx, que havia realizado um trabalho espiritual com a denunciada, mediante grave ameaça exercida com o emprego de uma espada, afirmando que mataria o marido, a filha e o namorado da filha de xxxxx, com intuito de obter, indevidamente, R$ 25 mil pelos supostos trabalhos realizados, sendo certo que anteriormente teria cobrado um valor menor pelo serviço”, diz trecho da denúncia do Ministério Público.
No decorrer do processo, a vítima acabou declarando que recuperou um dos cheques supostamente dados à vidente e a juíza do caso julgou a ação improcedente.
“O Estado-Juiz busca sempre a convicção firme e clara para que seja proferido um decreto condenatório. A incerteza não é suficiente para ensejar a segregação de um imputado. Ante a dúvida, impõe-se a absolvição. Em suma: os elementos indiciários foram satisfatórios para a instauração da ação penal e do desenvolvimento do devido processo legal, restando, ao término, aclarado a insuficiência da prova. Ante o exposto, julgo improcedente o pedido contido na denúncia”, decretou na época.
Foto destaque: Rosa Stanesco Nicolau: Mãe Valéria de Oxóssi. Foto: Reprodução/ Twitter